Quarta-feira, 24 de Abril de 2024

Usina Termoelétrica Municipal a Biogás prevê transformar 30 toneladas diárias de lixo orgânico em energia elétrica

2020-03-04 às 10:41

Prevista para estar em pleno funcionamento até novembro deste ano, a Usina Termoelétrica Municipal de Biogás poderá receber até 30 toneladas de lixo orgânico por dia, que vão gerar energia elétrica de alta eficiência. Usina ainda deverá produzir uma economia de aproximadamente R$ 10 milhões para o município em 15 anos

Por Camila Delgado | Fotos: Divulgação

Desde o início de 2008, a concessionária Ponta Grossa Ambiental (PGA) é responsável pela coleta e destinação dos resíduos sólidos urbanos produzidos diariamente em Ponta Grossa. Com a publicação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), a PGA passou também a realizar a coleta seletiva. “Uma das obrigações impostas por essa nova lei foi a de realizar a coleta seletiva de resíduos sólidos recicláveis e destiná-los preferencialmente para associações de catadores, o que passou a ser realizado pela PGA em 2016, por determinação do município”, explica Marcius Borsato, diretor de contratos do Grupo Philus, holding que administra a PGA. Outra obrigação imposta pela PNRS foi a de encerramento do uso de aterros controlados, como era o caso do antigo aterro do Botuquara.

Para cumprir a obrigação de coletar seletivamente os resíduos orgânicos, foram estudadas algumas possibilidades. A primeira era a do tratamento em composteira, no qual o composto resultante poderia ser utilizado como adubo de solo. “No entanto, junto ao município, encontramos uma forma mais inovadora de aproveitar os resíduos orgânicos: realizando a fermentação em biodigestores anaeróbios, o que possibilita a produção de biogás, que por sua vez poderá ser utilizado para a geração de energia elétrica”, conta Marcius, destacando que essa é a forma mais inteligente de tratar os resíduos orgânicos e que atende aos princípios de ecoeficiência e desenvolvimento sustentável previstos na PNRS.

Com uma forma inovadora de aproveitar os resíduos orgânicos, poderemos produzir biogás que será utilizado para gerar energia elétrica (Marcius Borsato, diretor de contratos do Grupo Philus)

ECONOMIA E INOVAÇÃO
A Usina Termoelétrica Municipal de Biogás de Ponta Grossa vai seguir o modelo que vem sendo testado há vários anos pela Itaipu Binacional. “Em Foz do Iguaçu, o projeto é conduzido pela CIBiogás, que prestou assessoria para a realização do estudo de viabilidade técnica e econômica da usina em Ponta Grossa”, relata Vicente Nadal Neto, diretor de projetos e responsável técnico da PGA, observando ainda que os estudos realizados apontaram que técnica e economicamente a implantação do empreendimento é vantajosa para o município.

De acordo com Neto, os ganhos para o município serão diversos. “Será evitado o custo com destinação de resíduos orgânicos ao aterro sanitário, e haverá uma redução na conta de energia elétrica nos prédios públicos e no custo da coleta, já que o caminhão utilizado será 100% elétrico, que é mais econômico e não poluente”, aponta. Neto observa ainda que a instalação da usina poderá colaborar para o desenvolvimento tecnológico de Ponta Grossa. “Haverá um ambiente para descoberta de novas oportunidades em um segmento de produção biogás pouco explorado no mundo – o do biogás produzido por meio de resíduos orgânicos. Também será possível usar os conceitos de indústria 4.0, que vão possibilitar ao município o acesso a informações de processos biológicos, geração de biogás e geração de energia elétrica sem a necessidade da presença física de alguém no local”, detalha o diretor.

Além da energia elétrica e do desenvolvimento tecnológico, a usina vai produzir cerca de 40 mil litros de digestato por dia, um fertilizante líquido. “Esse produto é resultante do processo de biodigestão, e poderá ser utilizado pela prefeitura em parques, jardins e canteiros, e também pelo agronegócio local, em especial na produção de frutas, verduras e legumes dos fornecedores da Feira Verde e da merenda escolar”, acrescenta Neto, sublinhando ainda que o digestato substitui grande parte dos fertilizantes utilizados na produção agro, reduzindo custos e facilitando a aplicação, por ser líquido.

Será evitado o custo com destinação de resíduos ao aterro sanitário, e haverá redução na conta de energia elétrica nos prédios públicos e na coleta (Vicente Nadal Neto, responsável técnico da PGA)

INVESTIMENTO E EQUILÍBRIO ECONÔMICO
Prevista para estar em pleno funcionamento até novembro de 2020, a usina contará com um investimento de aproximadamente R$ 9,2 milhões, realizado inteiramente pela PGA. “Conforme projeto aprovado, como não haverá aumento de custos para a prefeitura, esta deverá remunerar a concessionária apenas após a conclusão da usina, ou seja, apenas quando a usina estiver funcionando, com a renda da energia elétrica gerada pela própria usina”, informa Marcius, comentando ainda que o pagamento sobre o investimento feito pela PGA será parcelado em 15 anos. “Com a economia gerada na conta de energia da Copel, a prefeitura terá dinheiro para começar a pagar os investimentos. Ao final dos 15 anos, a prefeitura terá pago a usina com a economia gerada pela própria usina, sendo que ainda sobrará perto de R$ 10 milhões para o município”, complementa.

De acordo com o projeto aprovado pelo município, os resíduos orgânicos produzidos pela comunidade vão gerar energia elétrica suficiente para pagar a instalação, operação e manutenção da usina, sem que haja necessidade de a prefeitura retirar dinheiro de outras fontes para o pagamento. “Ao final do prazo de contrato da PGA, a prefeitura será proprietária da usina, sem ter que pagar nenhum centavo a mais. Ou seja, a usina é autossustentável financeiramente”, afirma Marcius.

Quanto à prorrogação do contrato existente para a coleta de lixo em Ponta Grossa, Marcius explica que havia uma autorização legislativa, visto a necessidade de se atender à PNRS. “Em 2016, houve alteração da Lei Municipal nº 9371/2008, que dispõe sobre a concessão dos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, para autorizar a construção de usinas para a destinação final dos resíduos da cidade. Com isso, estabeleceu-se a possibilidade de dilação do prazo contratual até ao limite estabelecido pela legislação federal [35 anos], como forma de reequilíbrio econômico-financeiro decorrente do novo encargo imposto à concessionária”, elucida.

Por meio do termo aditivo, determinou-se que a PGA faça todos os investimentos na usina, além dos serviços de coleta seletiva de resíduos orgânicos e dos serviços de operação e manutenção da usina, não afetando os serviços que já vinham sendo prestados pela concessionária. “As pesquisas de satisfação realizadas nos últimos anos demonstram a qualidade dos serviços prestados pela PGA. O índice médio de aprovação é de 97,88%”, comenta Marcus Borsato, presidente do Grupo Philus.

As pesquisas de satisfação realizadas nos últimos anos demonstram a qualidade dos serviços prestados pela PGA. O índice médio de aprovação é de 97,88% (Marcus Borsato, presidente do Grupo Philus)

COLETA E GERAÇÃO DE ENERGIA
A coleta de resíduos sólidos orgânicos será feita pela PGA com um caminhão 100% elétrico, que será abastecido com a energia gerada pelo próprio resíduo coletado. “Esse caminhão vai coletar os resíduos orgânicos em geradores especialmente selecionados, como feiras, restaurantes e mercados. Também serão coletados o óleo de cozinha disponibilizado pela população e os resíduos de corte de gramados realizado pelas equipes de limpeza urbana e paisagismo da PGA”, menciona Marcius.

Na usina, os resíduos serão misturados, tratados e introduzidos em biodigestores, que contêm temperatura controlada e bactérias especiais que realizam a digestão anaeróbia (sem a presença do oxigênio). O biogás produzido é coletado e armazenado em gasômetros, e posteriormente utilizado como combustível em geradores de energia elétrica de alta eficiência ligados à rede de distribuição da Copel.

“A usina poderá receber até 30 toneladas de resíduos orgânicos por dia, utilizando os dois biodigestores que serão construídos inicialmente. O município conta ainda com espaço para a construção de mais dois biodigestores, para quando isso se tornar necessário”, conclui Neto.