Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

1º de abril: Qual a diferença entre ‘fake news’ e mentira? Saiba como identificar o que é falso na internet

2020-04-01 às 15:55

Hoje é dia 1º de abril, também conhecido como o ‘Dia da Mentira’ na cultura popular brasileira. Considerando as recentes ondas de ‘fake news’ que diariamente inundam as redes sociais e o WhatsApp, o portal D’Ponta News questionou três jornalistas de Ponta Grossa sobre a diferença entre mentira e fake news.

Confira a resposta de cada um:

Rafael Kondlatsch, jornalista, doutor em comunicação e professor dos cursos de jornalismo da UEPG e da UniSecal

“A diferença é que a mentira nunca é verdadeira, já as fake news não necessariamente são mentirosas. Por exemplo, um recurso muito comum entre as pessoas que difundem fake news é usar matérias antigas como se fossem atuais. Elas não são mentiras, porque realmente aconteceram, mas em outro momento. Exemplo. Com a pandemia do coronavírus circularam vídeos de especialistas dizendo que não havia motivo para pânico e que as pessoas não precisavam se isolar em casa. Eram vídeos reais, mas que haviam sido publicados no fim de janeiro, quando a doença só estava afetando a China e alguns poucos países da Ásia. Colocar esses vídeos para rodar nesse momento em que as autoridades de saúde pedem isolamento é uma forma de difundir a desinformação, que no fundo é o objetivo das fake news. E esse é apenas um dos muitos casos, é normal ver postagens com declarações de autoridades fora de contexto, ou projetos de Lei de anos anteriores sendo colocados como coisas recentes. Fake News, portanto, vai muito além de mentira, muitas vezes é uma manipulação da própria verdade.

E só a título de curiosidade, eu detesto o termo ‘Fake News’ por acho que ele é por si só contraditório. As teorias da notícia pressupõem que a base da notícia é a verdade. Se é falso, portanto, não é notícia. Então chamar de fake news (notícias falsas) não faz sentido. Prefiro o termo boato, hoax entre outros tantos”.

Mareli Martins – Jornalista da Rede T de Rádios

“Do meu ponto de vista não tem diferença entre fake news e mentira, porque tudo é mentira, o próprio nome diz, notícia falsa. A pessoa publica uma notícia mentirosa, dissemina isso e muita gente acaba acreditando, compartilhando nas redes sociais, na internet. A única diferença talvez é que nas mentiras contadas no dia a dia as pessoas não respondem como um crime, já no caso da fake news as pessoas podem ser denunciadas e responderem juridicamente por isso. A diferença no meu ponto de vista seria apenas essa, que uma pessoa pode ser responsabilizada criminalmente. Mas não há diferença quando colocado no contexto de mentira. Mentira é mentira e fake news é mentira”.

Jeferson de Souza – Jornalista, sócio da Central Press na área de capacitação e professor da ESIC Internacional

“A diferença basicamente é que a mentira é o ato ou efeito de mentir, há pessoas que são mentirosas contumazes, pessoas que inclusive  tem a necessidade de contar mentiras para se auto afirmar, para enganar, ludibriar e isso muitas vezes vira um mau hábito. Agora, a diferença para a fake news é importantíssima, já que vivemos num mundo cheio de fake news. As fake news contém mentiras, elas se baseiam no viés cognitivo chamado ‘viés de confirmação’, esse viés é um padrão de distorção do julgamento, as pessoas distorcem o próprio julgamento a partir do viés que elas encontram e seguem a partir dessa visão, é como um lente que a pessoa coloca.

É como uma pessoa que tem ideias fixas, então ela se fecha naquilo e não abre espaço para o aprendizado. Então tudo que essa pessoa procura e compartilha nas redes sociais tem esse viés de confirmação, então ela acredita naquilo e acha que não precisa checar a informação se é verdade ou não, e é aí que crescem as fake news. Então as pessoas maldosas se aproveitam disso para pegar fragmentos da realidade e inserir mentiras dentro daquilo. Então a fake news sempre vai ter um fundo de realidade, uma cara de credibilidade, que tenta induzir para uma realidade paralela. Assim é feita a fake news.

E isso é um problema sério hoje em dia, pois as pessoas vivem em bolhas nas redes sociais, então dentro das nossas bolhas o algorítimo capta coisas e passa a só apresentar coisas daquele viés para nós. E a partir disso não é muito difícil que surja uma notícia que faça sentido para a gente, que a gente acredite que seja verdade e que a gente acabe compartilhando erroneamente”.


A Revista D’Ponta publicou em outubro de 2019 uma reportagem especial sobre como identificar fake news! Tem dúvidas se algo que recebeu na internet é falso? Releia a matéria especial e saiba como não cair no ‘conto do vigário’.

Não caia em ‘fake news’

Aprenda a identificar se a notícia que você recebeu no grupo da família ou do trabalho é verdadeira ou falsa

            Apesar de a expressão ter entrado há pouco tempo no vocabulário dos brasileiros, as fake news (“notícias falsas”, em bom português) já são conhecidas desde o final do século XIX. A denominação tornou-se mais popular em 2016, durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos, época em que o presidente eleito, Donald Trump, constantemente usava o termo para se referir à divulgação de notícias falsas.

            Desde então, as fake news viraram uma verdadeira peste – principalmente nas redes sociais. De acordo com o jornalista e pesquisador Rafael Kondlatsch, o fenômeno está ligado à velocidade de transmissão de dados via internet. Com as redes sociais e aplicativos de troca de mensagens, a velocidade dos boatos, segundo o pesquisador, aumentou exponencialmente. “Esse tipo de conteúdo passou a circular de forma mais rápida e perene, uma vez que é comum velhos boatos voltarem à tona de tempos em tempos”, completa.

            É fato ou fake?

            Em meio a tantas notícias que chegam nas redes sociais ou no WhatsApp, como saber se aquilo é fato ou fake? Kondlatsch explica que o primeiro passo é verificar a fonte da notícia. Se o site for duvidoso, procure um veículo mais confiável. “Recorrer aos veículos tradicionais também é importante, pois normalmente eles entrevistam fontes confiáveis e trazem documentos para validar os fatos narrados”, orienta.

            Outra dica importante é desconfiar de manchetes mirabolantes e surreais. “Textos com chamadas alarmantes em caixa alta, dizendo que determinado órgão não quer que ninguém saiba sobre aquilo, são indícios de boatos. Denúncias muito absurdas também”, aponta o jornalista, acrescentando que esses são recursos utilizados para atrair cliques em sites pouco confiáveis.

            Também se recomenda verificar a data da publicação da suposta matéria. Trata-se de algo que poucos fazem, mas que é de grande importância, pois é comum que textos antigos voltem a circular nas redes sociais.

            Agências de checagem

            Tão importante quanto fazer a própria verificação é seguir agências de checagem, como ‘Lupa’, ‘Fato ou Fake’ e ‘Pública’, nas redes sociais. Esses veículos contam com profissionais de diferentes áreas que fazem a validação das informações. “Há também as páginas como ‘Boatos.org’, que ajudam a investigar. Normalmente, quando uma informação começa a ganhar destaque, eles já fazem a checagem e publicam se é realmente verdadeira”, conclui Rafael.


por Matheus Fanchin/Imagem: O Popular
Reportagem Revista D’Ponta: por Camila Delgado e edição de Rafael Guedes