Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Em livro e filme, professor de PG resgata glórias e lágrimas de ex-combatentes brasileiros

2020-06-14 às 13:58

Contar histórias é uma paixão antiga do professor Helton Costa, principalmente quando se trata de assuntos relacionados à participação de brasileiros nas guerras. Estudioso desde criança, ele aprendeu a ler aos quatro anos de idade e desde a infância consumia almanaques e enciclopédias sobre temas históricos. De origem humilde, ele nasceu em Dourados (MS) e foi criado em Ponta Porã, município sul mato-grossense que faz divisa com o Paraguai.

Atualmente, Helton é coordenador do curso de Jornalismo da UniSecal, em Ponta Grossa, no qual também atua como professor há cinco anos. Ele é jornalista, com especialização em Arqueologia e Patrimônio, tem doutorado em Comunicação e pós-doutorado em História. Ele está sempre em busca de técnicas diferenciadas para os seus próximos trabalhos. Antes de se tornar professor, Helton trabalhou como jornalista, inclusive escrevendo sobre temas históricos para um jornal de sua cidade-natal.

Antepassados combatentes

Parte do interesse do professor pelos temas de guerra vem do fato de ele ter descoberto que alguns dos seus antepassados haviam participado da Guerra do Paraguai. “Eu tenho três tataravôs que foram para a guerra, sendo um deles escravo, que lutou como forma de conquistar a liberdade”, relata Helton, salientando que foi quando conversou com um ex-combatente da II Guerra Mundial que decidiu mostrar a história de pessoas como essas. “Eu vi que ele sofria para falar daquilo, que tinha sido traumático, e, ao saber o que ele passou durante e depois da guerra, me esforcei para mostrar mais pessoas como ele.”

O seu esforço culminou em três livros e um documentário sobre temas relacionados à Segunda Guerra, além de outras publicações sobre o universo dos combates bélicos. O primeiro livro, Uma Vez na Itália, foi lançado em 2009. Trata-se de um romance baseado nas histórias que o autor ouviu enquanto pesquisava sobre a atuação dos soldados sul mato-grossenses na Segunda Guerra. No livro, o soldado Marcos narra os horrores por que passou após embarcar para a guerra, mas também relembra as amizades e o amor que viveu em terras estrangeiras.

Em 2012, Helton publicou o livro-reportagem Confissões do Front: soldados do Mato Grosso do Sul na II Guerra Mundial, que aborda a história de ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), com relatos de combates contra as tropas nazistas e fascistas na Itália.

Helton Costa no topo do Monte Castelo (Itália), onde colheu depoimentos para o documentário V de Vitória. (Foto: Arquivo pessoal)

Dementes”

O terceiro trabalho do autor, Crônicas de sangue: jornalistas brasileiros na II Guerra Mundial, foi lançado no ano passado e narra a história de um grupo de jornalistas brasileiros que cobriu a participação brasileira no confronto. Metade do valor dos direitos autorais da obra é destinada à Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB), ajudando a manter a seção sul mato-grossense da entidade.

O professor conta que não houve assistência para os ex-combatentes, que ainda sofrem as consequências de tudo o que viveram. “Acontece de eles lembrarem de coisas da guerra, do passado, como se estivessem no presente, e muitas vezes são classificados como dementes. A guerra deixa cicatrizes que nem o tempo é capaz de apagar. Naquela época, o Estado não tinha essa noção, e, nos anos seguintes, pouco mudou”, explica.

Documentário

O interesse em contar as histórias dos heróis da FEB partiu das páginas dos livros para ganhar novos formatos. Lançado em 2018, o documentário V de Vitória resgata a história dos “pracinhas” brasileiros que estiveram na II Guerra Mundial. A produção do filme envolveu também o jornalista Diego Antonelli e a pesquisadora Andressa Beló Costa, esposa de Helton. A obra foi premiada no ‘Militum 2019 – III Festival de Cinema de História Militar’ como Melhor Documentário e e como Melhor Filme Sobre a FEB. A premiação foi no Rio de Janeiro (RJ).

O jornalista conta que, em razão de compromissos profissionais, o casal não teve tempo para fazer uma lua de mel após o casamento. Para unir o útil ao agradável, ele propôs a Andressa que o ajudasse a filmar a produção, que exigiu uma viagem para a Itália. Além do país estrangeiro, onde conseguiram depoimentos de pessoas que lutaram ao lado de soldados brasileiros ou foram ajudadas por eles, foram feitas gravações em Ponta Grossa e no estado do Mato Grosso do Sul.

“A guerra só termina quando o último soldado morre, e ainda tem bastante gente viva” (Helton Costa) (Foto: Arquivo pessoal)

Totalitarismo

Todo o esforço de Helton, com esses trabalhos, tem um cunho social. “A gente precisa saber de onde veio e retribuir o que temos”, explica ele, que foi aluno de escola pública e membro de uma das primeiras turmas do Programa Universidade Para Todos (Prouni). O jornalista observa ainda que falar sobre esses assuntos é necessário para combater as ameaças de totalitarismo que volta e meia ressurgem no cenário político mundial.

“É importante lembrar daquele momento histórico e da nossa obrigação de lutar contra as ideologias totalitárias”, alerta ele, lembrando que aquele período ainda está presente na memória de quem o viveu. “A guerra só termina quando o último soldado morre, e ainda tem bastante gente viva”, conclui.

Conheça o trabalho do autor

Os dois primeiros trabalhos de Helton Costa sobre ex-combatentes brasileiros, Uma Vez na Itália (2009) e Confissões do Front: soldados do Mato Grosso do Sul na II Guerra Mundial (2012), podem ser baixados gratuitamente no site do autor, que também abriga artigos sobre assuntos variados e poemas do autor. Já o livro Confissões do front, pode ser baixado aqui. E, para assistir ao documentário V de Vitória, clique aqui.

Por Marcela Ferreira | Foto: Arquivo pessoal