Sexta-feira, 26 de Abril de 2024

Distantes no passado, os homens agora participam mais da criação dos filhos. Veja por que isso é importante

2020-06-28 às 11:53

O conceito de família muda conforme os séculos e as gerações. Até século 20, o homem costumava assumir um papel mais representativo no contexto familiar. Os bens materiais, a moral, a referência religiosa e até a esposa e os filhos tinham o sexo masculino como centro. Conforme as décadas passaram, esse papel se modificou, bem como as atividades desempenhadas na educação dos filhos e dentro e fora de casa.

O estudo ‘Compartilhar tarefas? Papéis e funções de pai e mãe na família contemporânea’, conduzido por pesquisadoras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e da Universidade Luterana do Brasil, afirma que fenômenos sociais como a entrada das mulheres no mercado de trabalho e sua maior participação no sistema financeiro familiar deram um novo perfil à família, em contraposição à estrutura tradicional, na qual o pai era o único provedor e a mãe a única responsável pelas tarefas domésticas e pelo cuidado dos filhos.

A psicóloga ponta-grossense Adriana Machado Gomes observa que, além dos fenômenos apontados pelo estudo da PUC-RS / Universidade Luterana do Brasil, um outro elemento exerceu um papel fundamental na mudança do padrão familiar: a pílula anticoncepcional. “A popularização das pílulas anticoncepcionais permitiu a redução do número de filhos, fazendo com que a figura feminina da família ingressasse em outras ocupações”, explica.

“A presença do pai tende a tornar as crianças mais corajosas, ousadas e preparadas para enfrentar as dificuldades da vida” (Adriana Machado Gomes, psicóloga) (Foto: Reprodução / Flickr)

Pai presente…

Em razão dessas mudanças, a figura paterna assumiu uma maior presença e participação na educação e na vida dos filhos, compartilhando essa tarefa com a mãe. Da mesma forma, o dever de sustentar a família financeiramente também passou a ser compartilhado com a figura materna.

Na visão de Adriana, uma maior presença do pai na criação dos filhos tende a ser positiva. “A presença do pai no dia a dia dos filhos, além de desconstruir a imagem autoritária e ríspida da figura paterna, tende a tornar as crianças mais corajosas, ousadas e preparadas para enfrentar as dificuldades da vida já a partir da adolescência”, afirma.

… E pai ausente.

Já uma menor presença do pai no cotidiano dos filhos, segundo a psicóloga, pode causar consequências de ordem social ou psicológica. “A criança que não conta com um pai presente, aquele que busca na escola, que vai nas homenagens e competições, pode se tornar mais rebelde na adolescência e passar por traumas psicológicos que vão se refletir na vida adulta. Essa pessoa estará menos preparada para as adversidades da vida, será mais frágil e mais suscetível a transtornos psicológicos”, avalia.

As “pães”

No entanto, a psicóloga ressalta que crianças criadas pelos avós ou apenas pela mãe não ficam necessariamente desamparadas da referência masculina. “Muitas vezes, um padrasto, um avô ou um tio assume essa figura, ou até mesmo a própria mãe pode preencher esse espaço”, ressalta. No caso de pais separados, a criação dos pequenos pode transcorrer tranquilamente, desde que eles sejam poupados dos problemas causados pela separação. “As crianças conseguem se adaptar à nova rotina, passando um tempo com a mãe e outro com o pai”, acrescenta.


“A desigualdade salarial faz com que a criação dos filhos ainda fique muito concentrada na mulher” (Gabriela Miranda, psicóloga) (Foto: Reprodução / Flickr)

Pode melhorar

Na opinião da psicóloga Gabriela Miranda, que também atende em Ponta Grossa, o novo perfil de família é positivo, mas ainda não é o mais adequado. “Avançamos muito nos últimos anos, mas algumas ideias patriarcais ainda persistem na sociedade. A desigualdade salarial, por exemplo, faz com que a mulher se enquadre no mercado de trabalho de uma maneira secundária se comparada ao homem, resultando em uma concentração ainda muito grande da criação dos filhos na mão da mulher”, expõe.

De acordo com Gabriela, a maior inserção das mulheres no mercado de trabalho abre um espaço para que o pai seja mais presente na criação dos filhos, mas ainda há muito a ser feito. “Infelizmente, mesmo com esse espaço maior para o homem, a mulher pode sobrecarregar-se com a criação dos filhos, trabalho doméstico e profissional. Cabe à família realizar os ajustes necessários e buscar ajuda psicológica se houver necessidade”, finaliza a psicóloga.

Segundo a biologia, homens também são “equipados” para cuidar dos filhos

Os homens também são biologicamente aptos a cuidar dos filhos. É o que afirma um estudo da Universidade Bar-Ilan, de Israel. De acordo com Ruth Feldman, responsável pela pesquisa, os homens, assim como as mulheres, recebem um impulso hormonal quando cuidam das crianças, fazendo com que seus cérebros se adaptem à tarefa. Sendo assim, aquela conversa de que as mães são biologicamente mais adequadas ao cuidado dos filhos não funciona mais.

Por Nicolas Ribeiro | Fotos: Reprodução / Flickr