Quinta-feira, 28 de Março de 2024

O médico bom: uma conversa com Francisco Barros sobre medicina e vida pessoal

2020-09-19 às 15:01

Permitir que um paciente volte a escutar ou dar a uma pessoa a alegria de viajar de avião pela primeira vez. Esses são alguns dos ideais que movem o médico otorrinolaringologista Francisco Pereira de Barros Neto, o Dr. Barros. Natural de Ponta Grossa, ele é formado em Medicina pela Faculdade Evangélica do Paraná. Ao lado de seu amor pela ciência de Hipócrates, está a paixão pela aviação, um hobby herdado do pai. Conhecido pelo atendimento gentil e atencioso, o Dr. Barros conversou com a nossa redação sobre vida pessoal e profissional.

Qual é a lembrança mais forte que o senhor tem da juventude?

Em 1974, todos na minha turminha de amigos tinham moto. Na mesma época, surgiu a oportunidade de fazer um intercâmbio nos EUA, junto com os meus irmãos mais velhos. O meu pai me perguntou o que eu preferia. Eu escolhi fazer a viagem, a moto eu poderia ganhar depois. Construí um relacionamento com a família americana que perdura até hoje e que impactou profundamente a minha vida. Mais tarde, eu tive a oportunidade de morar com outra família americana. Em todas, eu fui, e sou, tratado como filho. A minha esposa, Mary Jean, costuma brincar, dizendo: “Sorte teve Adão, que não teve sogra. Eu tive três.”

Quais lembranças o senhor tem da época de estudante de Medicina?

Fomos a última turma com 45 alunos, e na Evangélica só tinha o curso de Medicina. Por um lado, foi bom, porque todos se conheciam pelo nome, alunos e professores. Por outro lado, não tivermos a oportunidade de conviver com estudantes de outros cursos.

O que a Medicina significa para o senhor?

A Medicina, para mim, é o exercício da humildade. Diariamente, nas minhas orações, eu peço para ser um bom médico e um médico bom.

Qual foi o momento mais marcante ou emocionante que o senhor já viveu em todos esses anos de Medicina?

Há muitos anos, eu estava operando no antigo Centro Cirúrgico da Santa Casa e a sala ficava bem na esquina do pavilhão da rua Francisco Burzio. Eu estava realizando uma cirurgia chamada esta pedectomia, que é a substituição de um dos ossículos do ouvido. Era uma paciente jovem, que tinha perdido grande parte da audição ao longo dos anos. Já nos momentos finais da cirurgia, ela começou a chorar. Eu perguntei se estava sentindo dor e ela respondeu que não. “Então por que você está chorando?”, perguntei. “É porque eu estou escutando o barulho da rua”, disse ela. Foi sensacional.

E o mais curioso ou divertido?

Eu estava examinando uma criança que estava sentada no colo do pai. Ela estava colaborando, mas dava para ver a sua ansiedade e receio. Quando percebi que o problema era o excesso de cera no ouvido, falei: “Ah! Tá fácil! O tio vai pescar uma cerinha no seu ouvido e resolvemos o problema”. Nem bem terminei de falar, a criança pulou do colo do pai e, já com lágrimas nos olhos e as mãos nos ouvidos, disse: “Ô loco, pai! Ele quer enfiar um ‘anzor’ na minha ‘oreia’!” Eu e o pai demos muita risada.

Além de médico, o senhor também é piloto de avião. De onde surgiu esse interesse pela aviação?

Só quem gosta de voar entende o porquê de o passarinho gosta de cantar. Gosto muito de levar as pessoas a voarem pela primeira vez. Ao final do voo, você vê o rosto de uma criança em um adulto.

O senhor é casado e pai de três filhas. O que a família significa na sua vida?

E agora tenho um genro e uma neta, que vieram como resposta às minhas orações desde jovem. Eu sou verdadeiramente abençoado. A família harmoniosa que constituí é a continuidade da família em que eu nasci. Quem me conhece sabe exatamente do que eu estou falando.

Até agora, o que o senhor aprendeu com a vida?

Que esta é uma grande verdade: desta vida você só leva a vida que você leva.

BATE BOLA

Um escritor: Milan Kundera

Um livro: A insustentável leveza do ser (1984)

Uma frase: “O combinado não é caro”

Um cantor: Tom Jobim

Uma música: “Somewhere Over the Rainbow”

Um diretor: Sergio Leone

Um filme: Lês uns et autres (1981)

Um restaurante: O Especialista

Um bar: Garage

Um prato: estrogonofe de mignon lá de casa! (Mas, para ser honesto, a receita é do restaurante Ile de France)

Não come de jeito nenhum: buchada

Um alimento que lembra a infância: pão caseiro com manteiga na chapa

Por Michelle de Geus | Foto: Paola Antunes