Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024

Coluna Lettera: ‘O poder das palavras’, por Francielly da Rosa

2021-10-10 às 11:07

O poder das palavras

Nunca fui boa com palavras ditas. Calada, sempre me restringia a sorrisos cabisbaixos, fato que me acompanhou por toda a vida e, na verdade, às vezes, ainda me acompanha. Porém, a timidez inicial sempre é deixada de lado após algumas boas conversas. Aos que se identificam com isso, sintam-se abraçados!

Penso que o comportamento retraído roubou-me alguns bons momentos, e é sobre isso que venho pensando, sobre tudo o que não disse. Entretanto, para além de lamentações, o propósito que aqui estabeleço é o de debater a importância das palavras! Essa minha crença é o que me faz escrever, pois acredito que as palavras têm poder.

Ainda esses dias, discutimos em família sobre como um elogio pode desarmar alguém, e com isso concordo plenamente! Pois, ao ouvir: “Você estava deslumbrante hoje!”, não há uma pessoa capaz de responder sem antes entregar um sorriso, ou até mesmo não saber o que dizer. Por outro lado, se você ouvir um xingamento, tenho certeza de que prontamente terá resposta! Adivinhem de quais palavras vamos nos lembrar com mais facilidade? Isso mesmo! Das palavras que doeram. Por isso ressalto a importância de ser cauteloso antes de lançar essas pequenas sementes que fazem brotar alegria, mas também desapontamento nos corações.

Além das coisas que falamos e das que são mal proferidas, as que não dizemos também têm seu preço e peso! Das palavras não ditas, as que mais sinto, emocionalmente falando, foi nunca ter dito que amava meus avós enquanto os tinha! Quantos de nós já deixamos de falar o que sentimos à pessoa amada? Quantos de nós nos arrependemos de palavras mal ditas? Ah! Incríveis são os mistérios que circundam esses amontoados de letras que nos despertam diferentes emoções!

Aos poucos aprendo a ser boa com as palavras e vejo também elas serem boas comigo. Ainda assim, às vezes, sinto-as recolhidas, por receio de serem mal usadas ou por pura timidez de minha parte, e vejo que me fazem muita falta. Então, pratico o que nós, escritores, fazemos de melhor: despejamos tudo o que não somos capazes de oralizar, em linhas suficientes para exprimir o que sentimos. Palavras! Isso é tudo o que somos!

Somos palavras desde o instante em que nos descobrimos vivos, até mesmo após a morte, pois ficaremos aqui, eternizados, através delas. Então, algum dia, o qual você nunca saberá, alguém dirá: “Fulano costumava falar isso!”. Será a sua lembrança, tudo o que você foi, e você percorrerá os tempos por tantas gerações quantas forem possíveis;  você… palavra!

Nunca esqueci da vez em que fui abordada, enquanto caminhava pela universidade, por uma menina desconhecida, que me elogiou e abraçou, sorrindo. Assim como nunca esqueci das duras palavras que alguém um dia me disse.

Como você tem administrado suas palavras? Que marcas tem deixado no mundo? Que suas palavras sejam as sementes que germinarão felicidade em outros corações e que você saiba plantá-las com amor e carinho! Também tenha ciência de que sementes guardadas não germinam, bem como sementes semeadas sem preparo não vingam. Nos tempos difíceis, pelos quais nossa sociedade tem passado, que sua palavra seja conforto e faça a diferença. Acredite, assim um mundo novo e melhor surgirá!   Sobre isso, tem minha palavra!

Coluna Lettera

por Francielly da Rosa

Francielly da Rosa é graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, com ênfase em estudos literários, também na UEPG. Ela é escritora, cronista e coautora do livro "Crônicas dos Campos Gerais". Descobre, entre as palavras que lê e escreve, a motivação que sustenta seu viver. Escreve crônicas, contos, poesias e, às vezes, se aventura no gênero romance. Além disso, participa de projetos de incentivo à leitura e de outras atividades culturais. Possui diversas crônicas premiadas e publicadas em jornais e sites locais. Em virtude de seu trabalho como escritora, recebeu duas moções de aplauso da Câmara Municipal de Ponta Grossa. Também foi premiada no Festival Literário de São Caetano do Sul, na categoria miniconto, sendo a única representante da cidade de Ponta Grossa.