Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024

Investimento com um filho pode chegar a R$ 2 milhões na classe média, aponta Forbes

2021-10-14 às 13:19

O custo de criar um filho no Brasil pode facilmente ultrapassar os R$ 400 mil, em famílias da classe C, e chegar à casa de R$ 1 milhão, se elas viverem em uma metrópole como São Paulo, onde as despesas são maiores que a média das cidades brasileiras. Para famílias da classe B, o valor parte de R$ 900 mil e pode alcançar R$ 2 milhões. Para além da classe média, o valor pode ser ainda mais alto e ultrapassar facilmente este patamar.

A faixa de valores estimada considera o período do nascimento aos 24 anos de idade, que é quando a maioria dos jovens se forma na faculdade e inicia uma vida financeira independente. O cálculo foi realizado por Cristiano de Souza Corrêa, professor de finanças e coordenador do curso de Administração no Ibmec SP, e por Juliana Inhasz, professora e coordenadora do curso de Economia no Insper, levando em consideração dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A classe C considera um rendimento familiar mensal de R$ 4 mil a R$ 11 mil. Esses gastos são diretamente proporcionais à renda familiar – ou seja, quanto maior a renda, mais elevados também os gastos. Na classe B estão inseridos os grupos familiares com rendimento entre R$ 11 mil e R$ 22 mil por mês.

“Nessa conta, levamos em consideração o planejamento do filho, que pode envolver uma eventual mudança para um local maior, a compra de mobiliários, e o pré-natal”, explica Corrêa. “Outros custos bem altos são a saúde e o lazer. Porém, as despesas educacionais estão no topo da lista, justamente por considerar que 90% da classe média colocam seus filhos em escolas privadas. É preciso pensar que, a partir dos três anos, a criança entra na creche/escola e sai já na faculdade, e também há gastos com material didático e locomoção. Esse custo pode representar quase 40% do total.”

Segundo um levantamento realizado pelo site Quero Bolsa com 13 mil instituições de ensino ao redor do Brasil em 2020, o valor médio da mensalidade de escolas particulares no estado de São Paulo é de R$ 800, no ensino infantil, e de R$ 1.219, no ensino médio. Os valores ficam atrás apenas daqueles encontrados no Distrito Federal, a R$ 906 e R$ 1.251, respectivamente.

A lista da Forbes das escolas mais caras do país em 2021, porém, evidencia que os custos também podem ser exorbitantes, com mensalidades que ultrapassam R$ 6 mil e R$ 10 mil nessas modalidades. Considerando esses valores, para as classes mais altas, é possível afirmar que o custo de criar um filho pode chegar ao dobro daquele encontrado na classe B.

“Nas regiões metropolitanas, as despesas essenciais, como alimentação e moradia, são mais elevadas, e existe uma maior competição por serviços mais baratos ou públicos. Colocar o seu filho em uma escola pública na metrópole dá mais trabalho do que no interior”, comenta Juliana.

“Mas há nuances que precisam ser consideradas”, complementa. “Existem prefeituras no interior que investem bastante em educação, e isso faz com que o gasto para os pais seja menor. Por outro lado, há prefeituras que investem pouco em saúde. Então, você pode ficar refém do serviço privado. Porém, é verdade que a própria limitação do acesso a alguns tipos de bens e serviços no interior pode diminuir as despesas totais.”

Os gastos não são uniformes ao longo desses 24 anos, e ambos os professores avaliam que o final da infância e início da adolescência, abrangendo as idades de sete a 14 anos, são os mais caros. É nessa época em que as crianças começam a apresentar mais autonomia, que se reflete na expansão dos gostos e interesses e, por consequência, na possível elevação do consumo. É também durante esse período que começam a surgir custos adicionais, como aparelhos ortodônticos e outras especificidades médicas que exigem tratamento.

A partir dos 16 anos, uma parte dessa população passa a ingressar em programas como Jovem Aprendiz, contribuindo com a renda familiar e fazendo com que os gastos dos pais diminuam progressivamente. Isso, porém, parte do pressuposto de que o ensino superior será gratuito, ou de que o adolescente irá contar com algum tipo de bolsa de estudos durante a faculdade. Se esta etapa da educação formal for paga, considerando quatro anos de graduação, os gastos podem ultrapassar R$ 100 mil durante esses últimos anos.

Mas nas famílias com mais de um filho, o custo total por cada um deles costuma ser menor. “A tendência é que o custo diminua com o segundo ou o terceiro filho, porque a estrutura fundamental, o espaço e o mobiliário, já está lá. Você também consegue negociar valores mais atrativos na escola, no curso de inglês, no clube. O material escolar também pode ser reaproveitado ou sai por um preço melhor”, diz Juliana. “Fora que, com os próximos filhos, você já tem um conhecimento maior do que é necessário e o que é supérfluo. Não há mais tantos excessos.”

Importância do planejamento

Segundo dados da UNFPA (Fundo de Populações das Nações Unidas) referentes a 2021, o Brasil está passando por uma queda acentuada na taxa de fecundidade, que representa o número de filhos por mulher. Enquanto, no final da década de 1960, esse número chegou a ser de seis, hoje ele está em 1,7. Neste quesito, o país inclusive está abaixo da média mundial, que é de 2,4 filhos por mulher.

Embora os dados sejam indício de que projetos de educação sexual e planejamento familiar estão sendo efetivos, Adriana Maluf, planejadora financeira da empresa SuperRico, argumenta que o brasileiro ainda não tem o hábito de avaliar corretamente os gastos envolvidos na criação de um filho antes de tomar a decisão final, mesmo depois que a pandemia mostrou que possuir uma reserva emergencial, por exemplo, é imprescindível.

“As pessoas subestimam os gastos. Muitas inclusive acreditam que a renda só é impactada por gastos expressivos, e não se dão conta que gastos mais baixos, quando somados no final do mês, acabam sendo maiores do que se esperava”, afirma. “É muito importante manter uma planilha de fluxo de caixa para conhecer quais os nossos ‘ralos’ e como estamos usando o nosso dinheiro.”

De acordo com a planejadora, existe uma regra de “50, 30, 20” que pode ser levada em conta para controlar esse fluxo: 50% da renda deve ser usada com despesas essenciais, 30% com despesas sociais, e 20% com despesas para compor renda futura, ou seja, a reserva de emergência.