Aos Mestres, com carinho!
Sob a insígnia da Educação, a Sociedade prospera, e isso se deve aos educadores da nação. Não existe construção de conhecimento, desenvolvimento civilizatório e formação integral do ser humano sem que os protagonistas do enredo arroguem o influxo de todo o processo.
Propendamos a reflexão sobre o papel dos educadores na sociedade a partir de uma visão holístico-histórica, que se faz necessária ao intuito de se interpretar avanços e retrocessos do sistema educacional ao longo da formação política e social brasileira.
Ao final da década de 20, o “entusiasmo pela educação” cedeu lugar ao “otimismo pedagógico”, com o advento do escolanovismo, deslocando as preocupações educacionais do âmbito político para o “técnico-pedagógico”. O trabalhismo, aliado dessa nova tendência filosófica educacional, logrou êxito em desmobilizar as forças populares do debate em torno da Educação e, em consequência, tornou-se instrumento de hegemonia da classe dominante. Os educadores foram vitimizados pelo pseudo-humanismo, cuja ruptura ocorre somente na década de 60, com o surgimento do tecnicismo.
A escola técnica – liberal-pragmatismo – auferiu robustez em pleno obscurantismo da ditadura militar, em que se previa um crescimento da indústria – desenvolvimentismo ativista – por meio da facilitação de formação de mão de obra que atendesse aos anseios do mercado. Desse movimento, os meios educacionais foram invadidos por correntes ou propostas pedagógicas, tais como “enfoque sistêmico”, “operacionalização de objetivos”, “tecnologias de ensino”, “instrução programada”, “máquinas de ensinar”, “educação via satélite”, “tele-ensino” dentre outras. Por outro lado, houve contraposição epistemológica, como o círculo do “liberal-idealismo”, baseado na ética Kantiana, mas que não teve força para irromper a politização do sistema que operava em favorecimento de uma elite econômica. Os educadores, mais uma vez, enjeitados pelos arroubos totalitários.
Tantos descaminhos só não prosseguiram devido à influência da “tendência crítico-reprodutivista”, cujo mérito foi promover uma acuidade reflexiva no respeitante ao aparelhamento ideológico de Estado, patrocinado pelo tecnicismo, na rigidez da ditadura. Alvíssaras dialéticas foram ouvidas pelos corredores das universidades. Porém, o alinhamento simbiótico com teorias de nascituro americano levaram à aculturação da educação brasileira durante o processo de redemocratização do país. A flâmula do neoliberalismo estava erigida.
Fernando Henrique Cardoso, em sua dependência econômica do FMI, cedeu aos galanteios imperialistas do capital especulativo e promoveu a colonização do sistema educacional brasileiro. Surgiram os famosos índices educacionais – avaliações em massa – para conferir status de qualidade a uma escola fragilizada pelo escamoteamento da carreira docente e sucateamento do sistema público de ensino. Não se “retêm” mais os alunos, “promovem-nos”, ao bel-prazer de propagandas eleitorais-eleitoreiras, em detrimento da qualidade do trato ensino-aprendizagem. Fruto disso foi, como exemplo, o programa “amigos da escola”, em que a responsabilidade da manutenção dos prédios públicos foi outorgada às comunidades, não mais ao governo – mantido pelos impostos dessas mesmas comunidades. Os educadores, atônitos, assistiram a mais um achaque político contra a categoria.
Chegamos, prezado leitor, à sociedade hodierna. O cenário poderia ser disruptivo, pelo que se “aprendeu” no passado. Mas, novamente, as despóticas movimentações políticas trazem à baila suas profundas chagas. A bola da vez é, em plena pandemia – momento em que o mundo anseia por respostas da ciência e das universidades -, o fato de a União deliberar o corte de R$ 600 milhões de reais do orçamento da pasta do Ministério da “Ciência”, Tecnologia e Inovação. A pensar: seria adequado o termo “Inovação” ao nome da pasta? Não se vislumbraram, em passado recente, outros desmontes semelhantes à pesquisa e produção científica no país? O que se vê, desta vez, são os educadores tendendo à sofreguidão do depauperamento do incentivo à construção de conhecimento.
Qual seria, neste cenário, o final correto para o enredo? Primeiramente, a descolonização do sistema educacional. Não se pode evoluir pedagogicamente às expensas de cooptação política e econômica. O caminho é salvaguardar a independência da Educação em seu mister macro, corroborante de formação humana, cidadã, garantindo aos educadores a liberdade de cátedra, sem que haja violação da autonomia do profissional da educação nas decisões que se fizerem necessárias à promoção de um ensino de qualidade.
Outro meio é garantir às universidades o fomento à pesquisa científica, caminho pelo qual trilha a vanguarda dos grandes avanços da sociedade. Doravante, a valorização dos profissionais da educação passa pela policitação de formação continuada, assegurada pelo empregador das redes pública e privada de ensino, bem como o direito às promoções e progressões na carreira e, não obstante, a descentralização das políticas públicas em educação, para que haja, de fato, a construção de uma estrutura intelectual coletiva capaz de atender às demandas de cada comunidade escolar.
Perguntaria, o prezado leitor, se haveria um mundo em que tão elevados sonhos pudessem ser realizados!? A resposta nunca foi uma afirmação, mas uma interrogação – método pelo qual se movimenta o saber e se constrói conhecimento – : haveria alguém, esperançoso pelo futuro, e disposto a ensinar aprendendo e aprender ensinando, como queria Cora Coralina?
Se a resposta for sim, chegamos à derradeira explanação: Não retiremos dos Educadores – Mestres da Nação – a condição de serem livres, assistidos, unidos, independentes, reconhecidos e, principalmente, sonhadores. Creio que somente quem tem ideal sobrevive ao totalitarismo e às intempéries políticas. E, nisso reside o ofício daqueles que, tão lindamente, carregam a responsabilidade de formar todos os outros profissionais.
Para tanto, comprovemos: Se conseguimos ler este artigo até aqui, sabemos o quão importantes são os Nossos Mestres!