Terça-feira, 30 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Os 10 “melhores” livros que já li!’, por Edgar Talevi

2021-10-29 às 10:57

Enquanto o espírito humano for capaz de conceber a arte, haverá um novo livro a ser escrito. Mas, neste universo a que chamamos vida, seriam os livros a criar um novo mundo ou um mundo novo a reinventar velhas histórias? Perceber a tênue magia da alma nas entrelinhas de um texto é tornar-se personagem protagonista no enredo do universo diegético.

Propus-me à missão de celebrar a grandeza de autoras e autores que, com notório savoir-faire artístico, cultural e humano, transcenderam à sua época e propeliram vanguarda ao pensamento da sociedade.

Precautelo que uma lista de que constem apenas 10 grandes obras propelirá divergência e, não obstante, um hiato, um vazio ou, mesmo, uma saudade de tantos monumentos literários, mas não me espavovirei ao nobre múnus de provocar à leitura de uma seleta coletânea que corporificaram minha formação como professor de Língua Portuguesa, profissão que exerço há 16 anos, tampouco o mister de Teólogo, meu diletantismo intelectual.

Para tanto, inicio esta laboriosa jornada por minha primeira paixão – Clarice Lispector – em sua obra de contos, “Laços de Família”. O livro é um misto de genialidade metafórica, em linguagem simples, com intenso lirismo, em que são debatidos temas do círculo doméstico. Uma leitura fascinante e provocativa aos sentidos.

Segundo livro desta relação é de uma escritora Maranhense, a saber, Maria Firmina dos Reis, e tem por nome “Úrsula”. A obra foi, originalmente, publicada com o pseudônimo “Uma Maranhense”. O romance representa a quebra de um paradigma nos estamentos sociais da época à medida que é considerada a precursora da temática abolicionista brasileira, sendo anterior a Castro Alves. Em “Úrsula”, temos o primeiro romance da literatura afro-brasileira, que tematiza o negro a partir de uma perspectiva engajada politicamente, em busca da narrativa da condição do ser negro no Brasil.

Chegamos à terceira obra: “Seminário dos Ratos”, de Lygia Fagundes Telles, publicada pela primeira vez em 1977. O livro possui, ao todo, 14 contos, que fantasiam a realidade por meio da cultura e natureza, em um enredo construído por ratos que se apoderam de um seminário e passam a tomar decisões sobre o país onde vivem. Este livro é basilar ao estudo da dialética do trato social e da cultura popular.

Quarta obra, com repercussão dantesca – Dante fica fora desta lista, mas presente na história da humanidade – é “Quarup”, de Antônio Callado, publicado em 1967. Tive o prazer de degustar tal livro em estudos de Literatura Brasileira, em minha alma mater – UEPG. Narrando a história transcorrida no Xingu, durante o quarup – ritual indígena – o enredo enobrece a cultura indígena e, ao mesmo tempo, aborda o fator político e social do golpe militar de 1964.

Outra fabulosa obra literária, a quinta desta lista, encontramos em Lima Barreto: “Triste Fim de Policarpo Quaresma”. Aqui, o major Policarpo assume a figura do anti-herói, com nobres ideais, sendo patriota, mas castigado por suas qualidades.

O sexto livro que recomendo é um monumento universal, de Dan Brown: “O Código Da Vinci”. Um dos maiores mistérios da humanidade – dentro do universo da ficção – enfim toma as páginas do best seller mundial. Impossível não se hipnotizar pelo suspense e narrativa mirabolante, fruto do estilo do autor.

Entrementes, não poderia faltar o primeiro escritor de Língua Portuguesa a ser laureado com o Nobel de Literatura, José Saramago, com seu “Ensaio sobre a Lucidez”, compondo o sétimo livro recomendado. É fato que o “Ensaio sobre a cegueira” ganhou as “telonas” e, talvez seja, sua obra mais afamada, mas a “Lucidez” merece o destaque dado por este colunista pela crítica extemporânea e além da imaginação de uma sociedade acostumada ao pragmatismo político.

Nosso oitavo livro pertence a Liev Tolstói – e à humanidade -, sendo uma das obras mais volumosas da história da literatura universal. Estamos falando de “Guerra e Paz”. O livro aborda a história da Rússia à época de Napoleão Bonaparte, possuindo riqueza nas descrições psicológicas das personagens e é considerado um dos maiores livros da História da Humanidade.

O nono da lista é, nada menos, que Paulo Leminski, e a antologia “Toda Poesia”. A obra é uma arte desde a concepção de sua produção até a realização desta, nos versos singulares de um dos maiores nomes da poesia paranaense e nacional.

Enfim, chegamos ao Décimo Livro. Na verdade, um parêntese (aos 66 ou 73 livros, dependendo da versão – protestante ou católica romana). Estamos falando da Bíblia Sagrada.

A escolha das Escrituras Sagradas faz coro à narrativa de várias culturas e religiões, dentre elas o judaísmo, islamismo, cristianismo, espiritismo e tantas outras que obtêm da monumental obra seu pensamento e estilo de vida. Nenhum outro livro é mais vendido em todo o mundo que a Bíblia. Nenhuma outra obra perfaz mais de 1 milênio de história, com culturas, doutrinas, dogmas e estilos tão divergentes e, ao mesmo tempo, com uma sincronicidade absolutamente extraordinária comparada às páginas dos livros sagrados. Esteja nosso pensamento teológico onde estiver, sempre terá, forçosamente, a influência dos cerca de 40 autores que compuseram os textos bíblicos.

É bem verdade que a presente lista, com 10 livros, influenciou a mim, em minha carreira acadêmica e profissional. Certamente ficaram inúmeras obras a serem listadas, quem sabe, em ocasião diversa e oportuna haja uma nova “proposição”. Mas, saibamos que nunca teremos uma lista oficial, fechada, pois o nosso desenvolvimento intelectual e apreço pela arte divergem e se nutrem das diferenças com o passar do tempo. Entretanto, creio no poder das letras pertencentes aos livros supracitados, seja por sua operância em tempos de luta ou pela proposição de alimentar a alma sedenta pelo transcendente.

Deixo o prezado leitor com o pensamento de que todos temos nossas diferenças culturais, mas sempre superadas pela robustez da aceitação da diferença e pela luta em favor da liberdade de expressão e criação da arte. Com isso, entrego esta lista às mãos de todos aqueles a que a ela tiverem acesso, com dedicação especial ao grande jornalista, jurista, pensador, intelectual, mas, acima de tudo, amigo e humano, Marcos Bueno.

“Os tempos são insólitos, mas o amor à arte nos conduz ao entendimento do que somos e por que somos”

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.