Tudo o que não sei
Ocorreu-me, numa tarde chuvosa de primavera, a ideia de escrever sobre tudo o que não sei. Dos mistérios do céu aos da Terra, da complexidade do ser e dos sentimentos meticulosamente engendrados em cada neurônio que compõem esta incrível máquina que é o cérebro humano. Não compreendo a vida, nem tenho certeza da veracidade de tudo o que acho saber. De repente, a vida é um sonho no qual vivo em busca de respostas e, talvez, nunca as encontre.
Em cada gota de chuva, sonhos enroscam em dúvidas. Observo as nuvens negras no céu lá fora, o cinzento abismo dos mistérios, do medo e das incertezas. Enquanto as gotas delicadamente escorrem pela janela, sinto em minhas veias o pulsar constante da inquietude; meus olhos ávidos percorrem o horizonte, até que eu seja despertada por um trovão que impeça meu devaneio.
Assim crio minha utopia, pois, sonhar é melhor que viver a realidade. Por aqui, tudo o que me resta são dúvidas infindas, e, como diria Sócrates: “a única certeza é a de que nada sei”. Se é que ainda nos é permitido sonhar, hoje sonho com descobertas.
De todas as dúvidas que tenho, a que mais me intriga é a questão social. Ando pelas ruas e, em cada esquina, deparo com um olhar que clama por ajuda. Em meio à chuva, vejo os pés descalços de uma criança deslizarem sobre o asfalto, em busca de abrigo. Ainda que sintamos alguma coisa, na maioria das vezes, o sentimento se resume à pena.
Diariamente encontramos pessoas reclamando sobre estas questões, diante de sua TV de última geração e no conforto de sua casa, manifestando o desejo ardente de mudança dos cenários políticos e sociais, todavia, num imenso comodismo. E, assim, nada muda, pois aquele que tem recursos, continuará a ter, e o que não tem condições — vive numa situação de subsistência — dificilmente conquistará algo.
Então, penso eu, de nada vale a abundância material enquanto a moralidade das massas se faz ínfima. Enquanto a covardia nos atar as mãos e os pés, seremos incapazes de trilhar os caminhos da mudança.
Se somos movidos pelas dúvidas, como ainda não pensamos nas questões sociais? Como ainda não encontramos soluções para erradicar a fome e a pobreza no mundo? Ou preferimos fingir que isso não existe? Não encontro razões para que haja um silêncio coletivo em face dos problemas sociais que afligem nossos próprios semelhantes.
É! Talvez a vida seja mesmo um sonho! Ou talvez preferimos sonhar a acordar para a realidade que nos cerca!