O mal e o remédio
Ainda que o sol majestosamente ilumine os dias e nos traga em seus raios a esperança de um futuro melhor, às vezes, somos surpreendidos pela chegada repentina de grandes nuvens cinzentas que ofuscam do astro o brilho.
Neste espaço, em que me noto, vislumbro algo que me intriga, tal qual a chegada súbita da tempestade em dia de céu azul. Vejo-me descortinar um mundo onde os rostos ensolarados escondem o coração nebuloso de muitos, mas, vez ou outra, as máscaras caem, as atitudes revelam as más intenções, e assim descubro a verdadeira face das pessoas.
Creio que o ser humano não seja verdadeiramente mal, e, talvez, exista benevolência, ainda que no coração mais dilacerado pelas tormentas da vida. Refiro-me aqui ao mal em suas diferentes nuances, desde o maltratar por ações, palavras — sendo em minha opinião o pior tipo — e também o mal de forma ampla, como o que nos devasta socialmente em tempos de crise. Compreendo que, por fim, tudo se resume a um único conjunto, pois, se constituímos uma sociedade, e esta vai mal, então também somos responsáveis por isso.
Entre perspectivas e expectativas de mudança, buscamos o remédio para as mazelas do mundo, e, infelizmente, também somos postos à prova nisso. Assim como dizia o filósofo Paracelso: “O que diferencia o remédio do veneno é a dose!”. Alhures, restituímos o mal que hoje nos vitimiza, crendo estar nisso a correção necessária.
Valendo-nos do dito popular “Dos males, o menor!” temos a brecha perfeita para amparar nossas pequenas violações morais. Diariamente contamos mentiras para nos favorecer ou livrar da culpa de algo; roubamos, sejam objetos materiais ou a vez de outra pessoa na fila do banco; privamos a oportunidade do outro de crescimento profissional, se isto está em nossas mãos, por puro medo de concorrência. Por fim, clamamos por justiça e condenamos a corrupção, mas em pequenas ações diárias vamos nos corrompendo, e assim formamos as nuvens cinzentas que cobrem nossos dias ensolarados.
Concluo com isso que o remédio para todos os males que nos afligem é trabalhar em nossa reforma íntima, pois, só assim haverá a verdadeira mudança e conseguiremos construir uma sociedade melhor.