A surpresa mais que esperada!
Esperar por algo que pode vir a acontecer, não é, necessariamente, uma surpresa, certo? Mas, o que dizer de quando usamos a expressão: “surpresa inesperada”? Ora, se alguma coisa é “surpresa”, logo, será inesperada, portanto, dispensa o termo reforçativo “inesperada”, pois se trata de redundância.
Às redundâncias constantes da Língua Portuguesa damos o nome de Tautologia – uso de palavras diferentes para expressar uma mesma ideia. E isso é totalmente dispensável, pois torna o discurso menos elegante e estiloso.
Neste momento, tenho a “certeza absoluta” de que muitos estão se perguntando: – Por que tantas regras? Para tanto, darei mais um motivo para a pergunta anterior: a expressão usada neste parágrafo, a saber, “certeza absoluta”, é equivocada. Explico: o termo certeza já informa sobre a total certeza sentida, portanto lançar mão do acessório “absoluta” é inadequado.
Quanto a essas regras aqui dispostas, temos um “consenso geral”. Ops! Mais uma gafe: o termo “consenso”, por si só, aponta para algo geral, global. Não há consensos particulares, por isso basta usar a palavra isoladamente, sem o “geral”. Quanta surpresa, não é mesmo?
Porém, advirto: não pensemos que a Língua Portuguesa tem o “monopólio exclusivo” da tautologia. Muitos idiomas têm suas próprias redundâncias. Aqui, sugiro uma pausa! “Monopólio” é um vocábulo completo, que não requer acessório, ainda mais o termo “exclusivo”, pois já carrega em si a carga de exclusividade.
Percebamos que o “panorama geral” de nossa Língua Pátria é de muitas normas, mas todas simples. Outra vez suplico: cuidado ao usar acessórios indevidamente! “Panorama” é algo em sua plenitude, aquilo que podemos admirar por inteiro. Não faz sentido usarmos “geral” como auxiliar, pois seria, no máximo, um figurante!
Nada disso são coisas demasiadamente difíceis! São apenas “pequenos detalhes”. Novamente interpelo. “Detalhes” são pequenas coisas, pormenores. Não necessitamos de dizer/escrever “pequenos” junto à palavra “detalhes”.
Detalhes e mais detalhes. Com tantas lições, chegamos ao “acabamento final”. Mas aqui, surge outra tautologia. A palavra final é acessória, já que o “acabamento” de uma coisa é uma finalização. Essa redundância, na verdade, consiste na enumeração de dois sinônimos. Isso é totalmente desnecessário.
Isso tudo nos leva a pensar que a “conclusão final” desta crônica é que escrever parece tarefa difícil; mas não é verdade! Fica mais fácil quando percebemos nossos deslizes e aproveitamos para aprender cada vez mais. Exemplo: “conclusão” é algo concluído, obviamente. Sendo assim, não faz sentido utilizar a expressão “conclusão final”. Se assim usássemos, permitiria o entendimento de que alguma coisa estaria em um processo de “conclusão concluída”. Haja redundância!
Diante de tanta exposição das normas de nosso idioma, podemos ter a certeza de que não há surpresa; somos feitos de linguagem. Vale a pena, portanto, navegar pelas palavras do encantador poeta Ferreira Gullar: “Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem”.