Segunda-feira, 07 de Outubro de 2024

Crônica: ‘Tartaruga no rio’, por Aline Sviatowski

2021-12-13 às 16:51

Tudo flui e nada permanece. A frase pré-socrática é renovadamente válida quando analisados os primórdios da cidade de Carambeí. Entre os rios Iapó e Pitangui, fluía a linha férrea, fluíam as bagagens históricas diretamente da Holanda, fluía um país inteiro entre continentes.

Nos intercâmbios entre pátrias, os colonos assentavam bravamente uma próspera cronologia. Desde os primeiros bovinos e terras, até as pioneiras cooperativas. Como o réptil nadante, que em seu casco resistente segue a correnteza das águas marítimas, os colonos seguiram a correnteza das oportunidades, com o brio necessário diante das possibilidades desafiadoras. Da coragem da tartaruga à resistência biológica intrínseca a esse animal, a palavra de origem indígena, Carambeí, reflete perfeitamente as características dos habitantes dessa cidade tão brasileira quanto neerlandesa.

Heráclito perdoe a ousadia, porém há uma relativa permanência que ultrapassa a fluidez do tempo: as raízes culturais. Ainda que alteradas pelas mudanças temporais e sociais, sua essência preserva-se refletida em pequenos (ou grandiosos) detalhes da cidade.

O tapete verde que envolve as casas sempre cautelosamente cuidadas, as flores tão coloridas quanto permitem as frequências da luz visível, a diligente preservação histórica do seu parque histórico que transporta os visitantes a outras épocas, mantendo viva a história. Dos encantadores sabores às variações arquitetônicas, vê-se viva a cultura e a história dos imigrantes; miscigenadas à cultura brasileira entoam as peculiaridades mais fascinantes da destemida tarefa de colonização abraçada pelos antepassados.

O destemor de Verschoor, Vriesman, Verschoorvai (e outros), espalhou-se aos demais colonos, que se expandiu cada vez mais; como frutos de uma árvore de semente holandesa. Carambeí é o fruto maior dos notáveis resultados que o suor escorrendo pelo rosto ante o trabalho braçal ou o custoso peso do pioneirismo nas costas podem trazer. Fluiu, flui e continuará a fluir a abundante troca cultural que se enraizou profundamente em solo paranaense.

Aline Sviatowski é ponta-grossense, escritora, autora do livro Memórias Araucárias, acadêmica de Psicologia na UEM, professora particular para vestibulares e artesã.