Quinta-feira, 10 de Outubro de 2024

Coluna Draft: ‘Lula: entre o Céu e o Inferno!’, por Edgar Talevi

2022-02-04 às 09:49
Foto: Estadão Conteúdo

Lula: entre o Céu e o Inferno!

“A política é a arte do possível”. Assim se referiu ao excelso domínio das massas, o diplomata e político Prussiano Otto Von Bismarck. Nessa abentesma estrutural que rege a democracia, acrisolada pela dialética do plural, os possíveis Presidenciáveis se apresentam, aos galanteios, aos seus “patrões”, eleitores, que, com o poder de decisão, farão prevalecer sua vontade.

E, neste cenário, desponta, segundo todas as pesquisas de intenção de voto, de todos os grandes institutos, o ex-presidente Lula. Seguido de perto pelo atual mandatário do Planalto, Jair Messias Bolsonaro, Lula ostenta “vitória” sobre todos os possíveis nomes em um eventual segundo turno. Há quem garanta que a eleição será decidida em primeiro turno, algo altamente improvável.

Segundo a pesquisa PoderData, Lula lidera com 41%, contra 30% de Bolsonaro. O ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT), os mais próximos dos líderes, não chegam à casa dos dois dígitos nas intenções de voto.

Outro renomado instituto, o Paraná Pesquisas, põe Lula com 40,1% dos votos, contra 29,1% de Jair Bolsonaro. Nesta pesquisa, Sérgio Moro aparece com 10,1%, e Ciro Gomes com 5,6%. Tudo leva a crer, a depender sempre do contexto econômico e Pandêmico pré-eleitoral, que a corrida Presidencial deverá ter mesmo a famosa polarização Lula-Bolsonaro. Até aqui, nenhuma novidade!

Não obstante, Lula dá evidências de que está cercado, cerceado e receoso do que crer, dizer e autorizar sua equipe de marketing a propagar. Isso se nota pelo fato de que grande parte da esquerda progressista, com pautas comportamentais e identitárias, identifica-se com o programa petista, encontrando em Lula o carisma necessário para fecundar suas avenças. O encontro de Lula com Boulos, em busca de apoio do PSOL e uma aliança ainda maior com outros partidos da esquerda dependem, basilarmente, de que Lula se comprometa com a agenda progressista que se esvai e esmorece sob Bolsonaro.

No campo macroeconômico, investidas de aliança com partidos ao centro, principalmente na antiga utópica, agora perto de se tornar real, chapa com seu outrora adversário político, Geraldo Alckmin (sem partido), levanta questões epistemológicas insanáveis quando o programa de governo for escrito e oferecido ao mercado, logo nos primeiros dias de campanha.

Valham-nos os discursos de Lula, inflados de crítica à Reforma Trabalhista de Michel Temer, que avança o sinal vermelho dos mercados, do capital especulativo e dos investidores, causando alarido, não somente nos mercados, mas em partidos que tendem a apoiar o ex-presidente, mas não se veem Estatizantes e retrógrados quanto à necessidade de implementação de políticas de eficiência na gestão de empresas, favorecendo a captação de empregos e manutenção destes nos diversos setores, tais como de serviços e indústria.

Aqui reside o dilema que só o ex-presidente Lula, no alto de seu carisma, sua capacidade notável de agregar e dialogar para resolver: agradar a Gregos e Troianos para vencer a eleição. Mas, não para por aí! Não basta vencer. É preciso governar. A ex-presidente Dilma Rousseff, escondida neste momento pelo seu ex-fiador eleitoral, foi exemplo de falta de articulação e apoio no Congresso. A amarga lição dessa história não pode ser repetida pelo PT.

Pensemos, em síntese, sobre os dois temas macro supracitados: De um lado, as pautas comportamentais, severamente seguidas e veladas pelos conservadores, indicam posicionamento de um público que pode ser o fiel na balança na eleição, a saber, os evangélicos, ainda mais se esta for ao segundo turno. Jair Bolsonaro conta com o apoio de líderes televisivos, com auditórios repletos de seguidores e forte influência sobre muitos votos. A indicação do Ministro “terrivelmente” evangélico traduziu a força que o atual Presidente tem no setor conservador.

Surfando a mesma onda conservadora, conhecendo o cenário e o nicho eleitoral de seu ex-patrão, Sérgio Moro propõe divulgar carta aos evangélicos na próxima semana, o que poderá implicar mais apoio para sua ainda incipiente candidatura.

É nessas águas que Lula deverá nadar. Se não tiver o tato, a visão de longo alcance e a avidez de sempre, perderá de vez o apoio da ala conservadora, tão logo manifeste seu apoio à agenda progressista nas pautas comportamentais e identitárias – sabidamente imprescindíveis, necessárias e salvaguardadas pela justa posição dos Direitos Humanos e do processo civilizatório em qualquer sociedade emancipadora e livre -, mas que removerá de Lula votos vitais na disputa ao Planalto.

No trato econômico, o timing da candidatura de Lula tem sido ajustado para que a exasperação e o desalento do mercado fiquem para o início da campanha, de modo a inflacionar preços, mantendo a política de elevação de juros do Banco Central e, deste modo, diminuindo o crédito e o poder de compra do brasileiro. Isso, de certo modo, favoreceria o petista às vésperas da visita às urnas, pois tenderá, neste cenário, a haver desgaste do atual Presidente, Jair Bolsonaro.

Mas, fica a indagação: Lula, se vencer, e após vencer, cederá ao mercado ou fará o que “sonha”, discursa e garante ao eleitorado mais à esquerda do espectro político em relação à não privatização de estatais e da revogação da Reforma Trabalhista?

Certamente Lula deve estar tranquilo, pois seu poder de convencimento, carisma e articulação são fenômenos a serem estudados. No entanto, a governabilidade e a manutenção do apoio ideológico de suas bases históricas poderão cobrar caro do PT, caso o pragmatismo logre êxito no exercício do poder. Não seria a primeira vez que isso ocorreria. Lembremos da míni-Reforma Tributária, logo no início do governo petista, da manutenção do superávit primário, pauta lendária contra a qual o PT sempre se posicionou e as privatizações dos aeroportos, apenas para ficarmos em poucos exemplos.

Salvemos as palavras de Lula hoje e as comparemos com as que ele proferir, caso seja eleito. Qual candidato Lula será? Qual possível Presidente governaria, caso Lula vença?

Estaria Lula mais ao lado de Edmund Burke ou Charles Fourier?

Sem a resposta, apenas podemos dizer que Lula sofrerá pressão de todos os lados. Estará-está entre o Céu e o Inferno!

Conclusivas e Sábias são as palavras de Arthur Schopenhauer: “Prepare o caminho, mas oculte a conclusão”!

as opiniões expressadas por nossos colunistas não refletem, necessariamente,
o posicionamento do portal D’Ponta News.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.