Quinta-feira, 10 de Outubro de 2024

Coluna Draft: ‘Quem (SE) suicida, morre!’, por Edgar Talevi

2022-02-11 às 10:15

Quem (SE) suicida, morre!

 

Não, prezado leitor. Este colunista não está abstraído de suas faculdades mentais, tampouco das arguições gramaticais! O fato é que, “de fato”, quem (SE) suicida, morre! Mas, como assim? Explico: o verbo suicidar, a princípio, não deve ser usado junto a um pronome reflexivo, neste caso, o SE. O termo é oriundo do latim SUI (a si), mais cida (que mata). O vocábulo suicidar, portanto, já significa “matar a si mesmo”. Sendo assim, em obediência às normas vigentes em nosso idioma, não “morramos” por inanição gramatical.

Sigamos no mesmo tema. É, infelizmente, comum, ouvirmos/lermos textos em que autores recorrem a equivocidades gramaticais, tais como no exemplo seguinte: “Após o acidente, o piloto corre risco de vida!” Isso beira ao absurdo, pois risco à vida é algo altamente positivo. Concordam? O problema seria: “Após o acidente, o piloto corre o risco de morte!” O risco, neste caso, seria de morrer!

Sempre que casos como os supracitados surgirem, não hesitemos em recorrer a bons autores. São muitos na Língua Portuguesa: Sérgio Monteiro Zan, Róbison Benedito Chagas, Evanildo Bechara, Celso Cunha, Eduardo Martins, Rocha Lima dentre outros. Deste modo, evitaremos gafes graves. Opa! Notaram que usei o verbo “hesitar”, sem hesitar? Isso porque o verbo está corretamente grafado, com “h”.

Sigamos: sempre aparecem dúvidas quanto à escrita de palavras com “X”, “ch”, “s”, “z” etc. Provarei: a Língua Portuguesa dá-nos um verdadeiro xeque-mate! A expressão usada por mim neste sintagma corresponde a uma situação de jogo de xadrez em que o rei fica sob ameaça. Por analogia, dizemos que alguma pessoa ficou em “xeque”, está em “xeque” ou foi posta em “xeque”, nunca em “cheque”, pois o sentido seria de um documento bancário.

Do mesmo modo, tomemos cuidado com a forma como tachamos outras pessoas. Se o fizermos, certamente implicará juízo de valor, e isso não é gentil. No entanto, tachar, com “ch”, está grafado corretamente. O opróbrio seria taxar alguém, pois aí teríamos o sentido de impor tributo. Observemos mais alguns casos: “Político é tachado de conservador”; “O governo taxou ainda mais os contribuintes”.

Perceberam o quanto nosso querido idioma pode nos “trazer” benefícios semânticos se bem aplicado? Mas, isso se usarmos o verbo “trazer” com “z”. Se o sentido for o mesmo de “atrás”, seria necessário reformular a frase, com uso de outra classe gramatical: “Chegue para trás”; “Veio de trás”.

E, na aventura das crônicas gramaticais, passamos a limpo mais algumas lições que podem suavizar nosso caminho rumo ao conhecimento!

Terminamos a semana com uma singela frase, de Vinícius Yamada: “Escrever mal tira a razão de qualquer um”.

 

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.