Sexta-feira, 11 de Outubro de 2024

Coluna Draft: ‘A máscara de Bolsonaro!’, por Edgar Talevi

2022-02-18 às 10:40
Foto: REUTERS/Adriano Machado

A máscara de Bolsonaro!

 

A visita do Presidente Jair Messias Bolsonaro a Vladimir Putin escancarou a faceta mais moderada do mandato do Chefe do Executivo Brasileiro até então. O homem que envidou esforços contumazes para que o império ideológico, “antilógico” e “intelectual” (força de expressão) negacionista fosse erigido sob o Sol da Pátria, cedeu à envergadura Russa e promoveu o esfacelamento de seus ideais.

Entendamos o contexto: afeito a polêmicas em torno da COVID-19, Bolsonaro sempre criou lendas a respeito de um ineficaz tratamento precoce contra a doença que já vitimou mais de 600 mil vidas somente no Brasil. Dentre os medicamentos sem eficácia comprovada contra a COVID, estão a Ivermectina e a Cloroquina.

Reitero que ambos carecem de comprovação científica e não são reconhecidos pela comunidade científica como eficazes para tratar COVID. A própria empresa fabricante da ivermectina, a norte-americana MSD (Merck Sharp and Dohme) afirmou que ainda não há evidências de que o medicamento traga benefícios ou seja eficaz no tratamento da COVID-19. O comunicado foi publicado aos 04/02/2021, mas ainda há quem resista aos fatos e contrarie a fabricante, incitando muitos a tomarem o medicamento que compõe o famigerado Kit contra COVID.

Não bastassem as incisões contra a ciência nos arroubos de retórica do Presidente da República, reza a lenda bolsonarista (restrita a poucos, mas incômodos incautos) que vacinas à base de RNA podem mexer com nossos genes. Não precisamos rebater tal argumento à luz da mesma lógica que nos permite calarmo-nos diante de um terraplanista.

Sigamos: o advento do embate contra as urnas eletrônicas, com diversas táticas diversionistas que empenharam discursos embevecidos contra os célebres Ministros do STF, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, bem como atos antidemocráticos oriundos de uma parcela de apoiadores mais ávidos pela reeleição do atual Presidente incandesceram as ruas e propiciaram uma polarização político-partidária, nada ideologizada e com pouco conteúdo, levando o Brasil a ter de escolher entre o retrógrado “eles ou nós”. Verdade é pelo fato de que a disputa eternizada por décadas entre PT e PSDB jaz em passividade, mesmo que efêmera, pois a hipotética, mas cada vez mais robusta e evidente chapa Lula-Alckmin (este último tendo saído do tucanato) demonstra que a nova polarização está entre Lula e Bolsonaro.

Constantes cortinas de fumaça foram cuidadosamente preparadas para desviar o foco da inflação resiliente, da inapetência econômica do Ministro Paulo Guedes e das políticas públicas ineficientes no Ministério da Educação. Vejamos o desbravamento do aturdido voto impresso “auditável”, que tanto ocupou a pauta da Congresso, enquanto os preços dos alimentos disparavam e nossa moeda não resistia à pressão do Dólar.

Mas, voltemos à Rússia. É, no mínimo estranho, se não for desafiador ao eleitor mais voraz de Jair Bolsonaro, o fato de que ele, que muito lutou contra o uso de máscara (vejamos o evento de 23/05/2021, ao lado do ex-ministro da Saúde, General Eduardo Pazuello, em que nenhuma autoridade, nem mesmo o então Ministro da Saúde, usou máscara), agora pousou em território “Soviético” com o adereço. Tudo isso registrado para a campanha política, para quem quiser se valer do fato.

Pior que o uso da máscara, Bolsonaro rendeu homenagem “sincera”, na Praça Vermelha, ao túmulo dos soldados COMUNISTAS da União Soviética. Aqui, não cabe maiores comentários!

Não obstante, para se aproximar do líder Russo e evitar maiores constrangimentos e até mesmo acusação de isolamento diplomático em campanha política, Bolsonaro teve de se submeter a uma bateria de testes anticovid, os quais ele mesmo ignorara outrora.

Bolsonaro, diante de Vladimir Putin, em território onde se ergueu o comunismo, esteve irreconhecível. Diplomacia? Há contraditório. Seu antigo maior aliado, na era Trump, os EUA, por meio do Departamento de Estado, afirmou que o Brasil parece ignorar a agressão armada por uma grande potência contra um vizinho menor, agindo com uma postura inconsistente com sua ênfase histórica na paz.

Polêmica em cima de polêmica. A viagem do Messias pelas terras por onde reinou o comunismo, até agora, não fortalece sua candidatura. Mas há esperança. Nova pesquisa de intenção de votos para a Presidência da República, realizada pelo PoderData, apresentou alvíssaras ao Messias. Agora, segundo o supracitado instituto, são 40% para Lula, contra 31% para Bolsonaro.

O que falta a Bolsonaro para colar de vez em Lula? Seria o uso da máscara? Caso o adereço viesse nas malas do Presidente e compusesse seu traje diário, não reverberaria positivamente em tempos eleitorais? Ou seria pedir muito? Para quem homenageou um soldado comunista, uma simples máscara não teria um efeito tão devastador!

Evidentemente que os eleitores contrários ao atual Presidente lembrarão, dia após dia, durante a campanha eleitoral, das seguintes expressões usadas pelo Presidente: Vírus superdimensionado; Histeria; Gripezinha; Começando a ir embora; E daí?; País de maricas; Se você virar um jacaré (esta a minha predileta!); Máscaras prejudiciais; Pandemia usada politicamente; Hidroxicloroquina.

Mas, afinal, expressões mudam o tempo todo. Se chafurdarmos em Lula, não faltariam tantas e tantas barbáries retóricas a serem eleitas para um bom artigo.

Encerro com uma pergunta muito importante: Jair Messias Bolsonaro se submeteu a testes anticovid na Rússia, o que faz com que o país onde imperou o comunismo passasse a ter amostra do DNA do Presidente do Brasil. Será que a Rússia domina a técnica da clonagem?

Medo? Um pouco!

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o posicionamento do portal D’Ponta News.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.