Sábado, 12 de Outubro de 2024

Coluna Draft: ‘Gasolina: a nova Terceira Via!’, por Edgar Talevi

2022-03-16 às 11:00

Gasolina: a nova Terceira Via!

 

“Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na Terra do que sonha a nossa filosofia.” Assim é o prólogo do Conto “A Cartomante”, de Machado de Assis. Não se trata de vil coincidência com os “espetáculos” midiáticos dos últimos dias nos arredores do poder, referentes ao assombro que tomou conta da rotina de milhões de brasileiros, a saber, o aumento escomunal da gasolina.

Nos ambientes Palacianos de Brasília, não há dúvidas de que política é momento. Engana-se, deste modo, quem pensa que a polarização Lula X Bolsonaro cairia no colo meramente da retórica populista de um lado, e negacionista, de outro.

A velocidade com que a nova tabela de preços chegou aos consumidores causou torpor, mas a medida com que as chamadas “providências” do então Presidente da República estão sendo tratadas parecem não alcançar a mesma celeridade.

Discursos de lado, foquemos no que está acontecendo nos bastidores da (Re)pública, proclamada – autoproclamada – será? -, e no caos que se engendra e perpetua no sistema, no espectro e na ambição de se jogar para a plateia o que deveria ser Direito de Cidadania, tal como o bom senso em relação à solidez das Instituições da supracitada República e da profilaxia, por meio de gestão assaz eficiente, do que aparenta ser vicissitude de tralhas do Consenso de Washington, que amplia seu leque de seguidores, por certo, alienados, quanto ao Neoliberalismo e ao livre, mas imperialista e colonizador mercado.

Rendamo-nos à história recente de nossa democracia ao dar mérito à sustentação da macroeconomia brasileira pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que governou o país de 1995 a 2022. Um dos fundadores do PSDB, antes de ser Presidente da República, integrou o governo de Itamar Franco, já no primeiro ano deste, assumindo a pasta do Ministério das Relações Exteriores, em 1992, tendo sido atribuída a ele, no ano seguinte, a função de Ministro da Fazenda.

A Reforma monetária, contra a qual o PT (Partido dos Trabalhadores, militou), chamada de Plano Real, recuperou a moeda brasileira e fortaleceu a falêmica economia da época, permitindo a eleição de FHC ao Palácio do Planalto.

Saltemos no tempo e percebamos que, sem que sejamos ingratos com o governo de inclusão social, em que o Brasil saiu do mapa da fome, gerando uma nova classe média, aumentando o poder de compra do trabalhador por meio de uma política de valorização do salário mínimo, manutenção do tripé macroeconômico (outrora mal visto pela ala mais radical do PT), e criação de emprego, vagas na Universidades, tais como com o Programa PROUNI, o que, em seu conjunto da obra, proporcionou um PIB de 7,5 % em 2010, no governo petista de Lula, com aprovação recorde do ex-presidente, os problemas socioeconômicos, principalmente no que respeita à PETROBRAS permaneceram, rijos.

Mas, com tantas benesses econômicas vindas de FHC, no plano econômico, o que justifica, na prática, a queda de braço entre PETROBRAS e seus mantenedores, os contribuintes, cidadãos brasileiros?

Em primeiro lugar, é necessário entender que sempre haverá indicação política a cargos estratégicos em empresas estatais. Nenhum problema, desde que não se entenda como “toma-lá-dá-cá”, ou, sem o eufemismo, “troca de favores”. Se a gestão for baseada na eficiência e qualidade técnica, o indicado politicamente recebe o aval público e notório por sua capacidade operacional. O que intriga são as ambições, nem sempre transparentes, mas veladas e escusas, que participam de certos jogos de poder.

Convencionou-se chamar de Petrolão um suposto esquema bilionário de corrupção na PETROBRAS, ocorrido, também segundo algumas acusações, nos governos petistas. Segundo as acusações, havia um “esquema” de superfaturamento nos contratos, em média de 3%, relacionados a negociações com empreiteiras. O valor da gigante estatal caiu velozmente a ponto de a dívida da empresa torná-la quase inviável. Nem mesmo o sonhado Pré-Sal teve condições de lutar pela sobrevivência da PETROBRAS. Uma privatização seria o desfecho mais óbvio.

Lembro, neste momento, que, dos 11 casos mais conhecidos contra Lula, em 8 as acusações prescreveram, foram suspensas, arquivadas ou encerradas, segundo relata o site “poder360”. Elege-se, portanto, o Direito pleno ao contraditório e à ampla defesa, sendo Dever do Estado e Direito do Cidadão o devido processo legal. Lula está plenamente elegível, no exercício de seus direitos políticos e inocentado pela mais alta Corte de Justiça do País.

Existe, evidentemente, relutância na aceitação dos vereditos por parte do eleitorado antipetista, mas caberá ao eleitor o julgamento nas urnas, em Outubro próximo.

Para que nos valhamos do mesmo senso crítico em relação ao atual governo, de Jair Messias Bolsonaro, a PETROBRAS se desfez de, nada menos, que R$ 244 bilhões em bens da companhia por meio de 68 transações, em 7 anos. Vendas essas que foram registradas em negócios, como a distribuidora de combustíveis BR, polos de gás, gasodutos e campos de exploração de petróleo. Críticos ao programa de venda de bens dizem que a estratégia montada segue a tendência privatista de desmonte da estatal.

Para efeito de comparação: Sob Dilma Rousseff (PT), houve venda de R$ 26,9 bilhões. Michel Temer (PMDB), vendeu R$ 78,5 bilhões. Jair Bolsonaro (PL), o recordista da privatização, vendeu R$ 138,2 bilhões.

Entusiasta da privatização, Bolsonaro cede, em discursos recentes, ao esperado pela população – a justa redução do preço dos combustíveis. “A gente espera que a PETROBRAS acompanhe a queda de preço lá fora. Com toda certeza fará isso daí”, afirma o então mandatário do Executivo Nacional.

Podemos perceber, na fala recente do Messias, uma preocupação desmedida – dado o histórico de sua pouca pretensão em “interferir” na condução dos preços da estatal – no respeitante à eleição. A guerra entre Rússia e Ucrânia, ou, melhor, da Rússia contra a Ucrânia, elevou a preço do petróleo no mundo todo, mas o conflito verdadeiro, potencialmente “nuclear”, será visto nas urnas brasileiras, em Outubro. O “núcleo” político aprende a cada dia novas rezas e mantras que consigam atrair eleitores, muitas vezes com fetiches bem desenhados.

Destarte, notemos que “nossa” PETROBRAS há muito vem sendo desmontada, seja por esquerda ou direita, mas o povo continua a ver navios. Sim, afirmo: a ver navios, pois o petróleo que nos abastece tem vindo de fora porque nossa política do Pré-Sal, unida às acusações de corrupção e à onda privatista, derrotam a cada dia nossa petroleira.

Para que nos intriguemos ainda mais: o Presidente do PL, Valdemar Costa Neto, cobrou fidelidade ao Presidente Jair Bolsonaro, pedindo que seus eleitores sejam fiéis ao candidato. “Por isso nós temos que ser fiéis ao Bolsonaro, fazer tudo que ele pede, tudo que ele precisa”. Essas foram as palavras do chefe do partido do Presidente.

Poucas alvíssaras nos esperam nas próximas eleições! Aliás, o valor da gasolina já alcança e supera os índices de intenção de voto de alguns presidenciáveis da famosa Terceira Via.

A corda, como diz o ditado popular, sempre rompe do lado mais fraco. Desta vez, é com a bomba que nos preocupamos, pois ela sempre está apontada para nossos veículos. Seria muito pensar que nossa gasolina do dia a dia tornou-se a Nova Terceira Via para as eleições deste ano? A conferir!

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.