Domingo, 19 de Maio de 2024

Coluna Draft: ‘Caem as Máscaras!’, por Edgar Talevi

2022-03-30 às 10:53
Foto: Reprodução

Caem as Máscaras!

 

A política segue sempre a lógica do mercado. E isso não é pecha do capitalismo estabelecido no mundo Ocidental. A vertente ideológica socialista/comunista comunga do mesmo espírito mercante à medida que alinhava suas premissas pré-concebidas de hegemonização de poder e perpetuidade de concentração de oligarquias pecuniárias.

Segundo o entendimento da terminologia de André Gorz, um dos principais teóricos da ecologia política, em sua obra “Strategy for Labor”: “Para compreender a democracia ampliada, faz-se necessário um estudo das reformas não reformistas, tanto dentro como fora do Estado.”

Percebemos que, para o autor, reformar pura e simplesmente uma tendência político-partidária seria mera readequação de linguagem, na verdade uma paráfrase que se colocaria segundo determinada época, em dado momento eleitoral, em que não se vislumbrariam mais que novas tergiversações e renovadas meias verdades.

A transformação perene, assídua e objetiva do Estado é emancipadora, catalizadora e capaz de elucidar para além de modismos e percepções do politicamente correto. É imprescindível haver estruturação do eixo paradigmático pelo qual as ideologias sucumbem aos fatos que, por serem fenômenos concretos, não permitem aventuras alheias e ao arrepio da realidade.

É na concepção desse novo paradigma que as máscaras políticas se inserem. A COVID-19 criou uma série de espetáculos cujo tema foi a vida humana. Embora outras graves epidemias e catástrofes humanitárias tenham resultado em perdas irreparáveis, jamais se percebeu a globalização, ou, ao sabor do neologismo – mundialização – do alcance de uma doença que, além de não poupar vidas, elencou uma polarização entre esquerda progressista retrógrada, ao estilo Stalinista, e a tendência extremista, sob a insígnia da antipolítica.

Seja qual for a perspectiva, postergou-se, quiçá promoveu-se a derrota do poder de síntese, de construção de conhecimento, flexibilização de conceitos e arquitetura de novas escolas de pensamento, ao ponto em que a própria Ciência, em sua metodologia e epistemologia, foi constrangida, por alguns déspotas, de questionar a eficácia de suas contribuições para a humanidade, tais como as modernas vacinas contra a COVID, de modo a coibir o livre pensar e a essência de suas atribuições.

“Criou-se” uma nova Ciência, sem o Sagrado Direito ao contraditório, cristalizada pelo senso comum, exacerbada de fisiologismo eleitoral, promovida sem o devido debate pela esquerda monótona, que regride ao sensacionalismo e ainda grita pelo Manifesto Comunista, obstando quaisquer resultados que plausivelmente advenham de revisões e dados de laboratórios. Pensar, deste modo, nunca foi tão importante e, ao mesmo tempo, difícil, em meio ao caótico cenário apocalíptico do universo diegético do enredo Soviético-Brasileiro.

Destarte, o que se vê é o devaneio da criação de novos arquétipos, em que o modelo humano resignou-se ao papel de espectador, no máximo, figurante, às expensas de protagonistas hediondamente renitentes em suas retóricas, que não passam de arroubos de uma polissemia sem significado algum, com o poder que este paradoxo consiga enxertar à frase.

Esquerdou-se o vírus e a vacina. Endireitou-se a criticidade e a lavra de novas compreensões. Inventou-se uma nova maneira de viver, sem se permitir a liberdade das quais as tralhas do sistema não estejam presentes. Esgueirou-se pelos lados, às vezes extremos, e quem perdeu, perdeu-se sem vida, ou, sem vida, perdeu-se em vida.

Chegamos ao fim de um roteiro adaptado por pares que nos escapam às vistas, pois postos estão nos altos postos em que os pusemos. De lá a distância a que chegam a ver-nos não lhes é permitido ponderar sobre o que é, de fato, liberdade ou alvíssaras de um novo tempo, em que a cidadania perpasse a vontade do indivíduo de fazer cunhar seu próprio arbítrio.

As máscaras, conforme Decretos publicados em diversos Estados da Federação, mais recentemente aqui, no Estado do Paraná, exemplo de vacinação e profilaxia contra a COVID, começam a cair. Beto Preto, em trabalho deveras eficiente e cônscio da responsabilidade social que o cargo que ocupa o impele, entrega um quadro remido de muitas intempéries. Boa gestão e capacidade técnica podem, desde já, selar sua passagem pela pasta da Saúde como essencial no enfrentamento aos terrores diurnos e notívagos a que fomos acometidos.

E a nós, agora livres quanto ao uso da máscara, não permitamos jamais que nossa liberdade, conquistada à custa de muita luta, seja ferida pela chaga da velha ou antipolítica. O caminho não se curva nem se presta a guinar a extremos. Não deve haver retrocessos porque o futuro é o horizonte, e este sempre permitirá que a liberdade impere no Reino da República do Brasil.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.