Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024

Coluna Draft: “O Gato comeu sua Língua?”, por Edgar Talevi

2022-09-05 às 11:00

Rir de nós mesmos é o que fazemos quando crescemos e nos lembramos das peraltices da infância. Quantas vezes fomos advertidos e, calados, quase consentindo com o erro que cometemos, ouvimos uma sonora frase: ‘O gato comeu sua Língua?’ É exatamente por essa frase que nossa Draft inicia sua jornada desta segunda-feira. Afinal, qual o significado e a origem do sintagma supracitado?

O sentido atribuído, via de regra, é o de uma expressão usada pelo interlocutor quando faz uma pergunta e a pessoa não responde. Pode ser por culpa ou silêncio retórico mesmo!

Sua origem é o Oriente Médio. Conta-se uma história muito antiga sobre um rei que gostava de gatos. Esse mesmo rei gostava, também, de impor duras aos seus prisioneiros. Um dia, tendo ao lado seu gato favorito, mandou cortar a língua de um infeliz prisioneiro e deu-a de presente ao gato, que comeu. É deste triste episódio/lenda que vem a famosa frase!

‘Olha o Passarinho’ – amigos reunidos, algazarra, festinha, momentos especiais em que uma bela fotografia cabe muito bem. Mas qual o significado de olhar um pássaro por ocasião de uma fotografia? Vamos ao entendimento: em primeiro lugar, usa-se a frase para chamar a atenção dos que serão fotografados. Até aqui todos sabemos. Mas qual a origem disso?

No início da fotografia, no final da exposição, para se obter uma foto, era muito longo o tempo a se esperar. Deste modo, os fotógrafos costumavam por uma gaiola com um pássaro nas proximidades da câmera. Isso, certamente, chamaria a atenção das pessoas, principalmente das crianças.

‘O tiro saiu pela culatra’ – um ato prejudicial a quem o praticou, um resultado contrário à expectativa. Este é o significado desta frase. Ela vem de Portugal. A explicação para a criação da frase é o fato de a culatra ser a parte posterior, o fecho do cano de uma arma de fogo, portanto, se o tiro saiu pela culatra, acertará não o alvo, mas o próprio atirador. Que horrível!

‘Onde o sapato aperta’ – esta frase equivale a ter conhecimento da causa de um problema, de uma dificuldade.

Sua origem provável é Espanha e/ou Grécia. Um dito popular muito semelhante a esse é: “Eu sei onde me apertam os sapatos”, que vem de uma anedota contada por Plutarco (50-125 d. C), em sua obra Vidas Paralelas.

Para tudo procuramos um sentido e uma origem. Não seria diferente com nossa Língua Portuguesa, não é mesmo?

Façamos valer nosso início de semana com a célebre frase de Henry Thoreau: “A mais bela linguagem do homem é a linguagem da amizade, que não é feita de palavras, mas de puro significado.”

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.