Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024

“Tenho gosto pelo desafio”, destaca fisiculturista de PG Andreia Tokutake

2022-09-05 às 15:29

O programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), recebeu nesta segunda (5), a fisiculturista Andreia Tokutake, que é referência brasileira na categoria feminina da modalidade, à qual se dedica desde 2017.

Andreia é influencer fitness e vice-campeã sul-americana Olympia Argentina 2021, vice-campeã sul-americana Lima-Peru 2019 e vice-campeã Olympia Brasil 2021. Inspiração para mulheres que querem aderir ao esporte a partir dos 40 anos, ela concilia o fisiculturismo com a carreira de administradora de empresas e a criação de três filhos.

“Sempre coloquei a idade como um número, porque eu não podia me limitar. Na época que eu comecei, que resolvi procurar o esporte, estava entrando num processo depressivo, então precisava sair daquilo. Precisava achar um sentido para estar na academia, que eu sempre fiz”, observa.

Ela estava numa fase de transição na vida e já havia enfrentado a depressão anteriormente, após a morte do pai, e não queria se deixar abater uma segunda vez. “Muitas vezes, o esporte de salva de várias coisas”, diz.

Inspirada pelo desafio, a decisão de iniciar o fisiculturismo veio exatamente quando disseram a ela que era muito complicado. “Então é bem nesse que eu vou”, complementa.

Neste ano, ela conquistou mais um título internacional, ao vencer o Los Angeles Championships. O prêmio garante a ela o direito de disputar a fase classificatória do Olympia, maior competição do fisiculturismo. “Foi meu primeiro 1º lugar”, comemora.

“Foi meu primeiro 1º lugar”, Andreia Tokutake, sobre o Los Angeles Championships (Foto: Divulgação)

Andreia avalia que há um equilíbrio entre o esforço físico e mental na prática da modalidade. “Os dois andam juntos. E precisam andar juntos. Se você vai entrar para esse esporte e não está com a certeza do que quer, você não vai para frente, porque não é um esporte fácil”, analisa.

A fisiculturista afirma que seria hipocrisia dizer que não procura a academia em busca de uma melhoria estética. Entretanto, aliada a essa busca, nasce o interesse pela atividade física e a percepção de uma qualidade de vida que leva à longevidade.

“Faço academia todos os dias. É um vício. Quando você realmente pega o jeito dela e você se compromete com aquilo que está fazendo, com seus objetivos, você não para. Você só vai parar se realmente algo te machucar”, conta.

Um ano depois de começar a malhação intensa, ela aceitou o primeiro desafio: participar de uma competição. Já na primeira experiência, garantiu a sexta posição. Depois, além dos músculos, a competitividade também cresceu e veio a participação em campeonatos internacionais. “[O título] sul-americano [em 2019] foi o primeiro que conquistei fora do país. Aqui eu já tinha pego Top 3, Top 2, mas fora do país teve o sul-americano, que era um pouco mais ousado e eu estava bem no começo ainda. Foi um dos shapes que eu mais gostei, porque eu me esforcei muito para conseguir uma colocação, ao menos de sexto lugar, que era o que eu imaginava”, relata.

Na categoria Wellness, em que Andreia compete, a Miss Olympia, campeã do Olympia, é basicamente quem dita o ideal de corpo a ser perseguido pelas próximas wellness. “No começo, quando entrei, era o glúteo redondo e as poses eram diferentes. Hoje, o glúteo tem que ser uma gota, o que eu não consigo. Estamos trabalhando muito para isso, mas não consigo fazer. É difícil chegar nessa gota, tem que ter um glúteo bem menor, para conseguir mais seco”, diz.

A competição envolve também as poses, ou posições, que o atleta faz diante do árbitro, para evidenciar o shape: laterais, de costas e de frente. “Eles vão analisar linha de cintura, glúteo, coxa. Vão analisando tudo”, exemplifica. A forma muscular é avaliada por um árbitro central e mais três de cada lado.

O fisiculturismo é um esporte que ainda não ganhou status olímpico. Segundo Andreia, há ainda muito preconceito contra a modalidade, pela forma que os atletas atingem seus objetivos e chegam aos palcos. “Acredito que ainda não conseguiu se destacar de uma forma que todo mundo saiba”, observa.

Nas competições, para realçar as formas, os atletas costumam passar duas demãos de uma espécie de tinta, que confere ao corpo aquele aspecto entre o verniz e o óleo bronzeador. “Há muita luz no palco, então isso realça seus músculos, os portes. Depois, ainda passa um brilho, que eu não gosto muito, que pode acabar com tudo. Aliás, a tinta pode acabar com tudo o que você fez. Tem que tomar bastante cuidado. Eu procuro sempre pintar meu corpo dentro do campeonato”, explica.

Tempo, dedicação e exposição

Atingir a forma desejada e a confiança necessária para competir sobre um palco levou um ano de trabalho intenso por parte da fisiculturista antes da primeira competição. O tempo para entrar no shape vai depender muito do corpo de cada um, de acordo com a atleta. “Não é só genética, mas a dedicação da pessoa. Eu tenho três filhos, já tenho 46 anos e fui começar com isso aos 40. É uma coisa de louco”, brinca.

“Não ter tempo é desculpa fiada. As academias ficam abertas das 6h às 23h. Hoje, por exemplo, fui cedo. Muita gente vai às 6h, faz academia, vai para o trabalho às 8h, toma banho lá, se arruma e bota o saltinho”, complementa.

O fisiculturismo exige do atleta também um bem-estar mental porque é uma modalidade que envolve exposição do corpo num palco e o julgamento alheio nas academias e mesmo fora delas. Andreia observa que, quando iniciou no fisiculturismo, não havia outras mulheres praticantes na cidade e que, agora, esse cenário já começa a mudar.

“Quando fui começar, a primeira coisa que fiz foi conversar com meu marido e com meu filho, por serem os homens da casa. Expus a eles o que eu queria e falei: se vocês apoiarem, eu vou; se vocês não apoiarem, não vou. E eles me apoiaram, desde a primeira foto na rede social, de biquíni, até hoje. Eles me apoiam e cuidam de que tipo de foto vai. Não foi fácil fora de casa, quando resolvi subir num palco. Mas dentro de casa, que era minha preocupação, foi tudo muito tranquilo”, relata.

Ela conta que a preocupação do marido, Ricardo, era de que ela ficasse com a aparência masculinizada ou que alguma medicação pudesse interferir na saúde. “Sou cercada de bons profissionais. Meu médico é o Paulo Muzy, de São Paulo. Tenho minha treinadora aqui e ele faz todo meu protocolo de treino. Ela aplica, mas o treino é dele”, diz.

Alimentação

Andreia confirma que muita coisa muda na rotina diária e na dieta individual quando uma competição se aproxima. Segundo ela, as filhas mantêm suas próprias dietas, mas nada muito restritivo ou drástico. Já o hambúrguer, a fisiculturista menciona que não faz parte de seu cardápio desde que era muito nova. “O restante da família, de vez em quando, come lá seu Big Mac”, explica.

Os três filhos de Andreia mantêm rotinas na academia, com acompanhamento de personal trainer. “Todos tentam ficar regrados na alimentação, mas é claro que eles não têm o mesmo comprometimento que o meu, porque eu tenho objetivos. As meninas, principalmente, de 14 e 16 anos, têm festinhas aqui e ali e não vão comer assim igual a mãe”, aponta.

“Todo mundo diz que é caro fazer dieta, mas é arroz, feijão e carne. Todo mundo complica muito a dieta. Mas se você comer comida de verdade, não tem erro. Claro que existem quantidades e que um nutricionista vai falar sobre isso muito melhor para você, mas não tem erro”, comenta a fisiculturista, sobre o caminho das pedras para quem quer começar uma dieta para aliar à musculação.

“Esporte de rico”

Andreia nega que o fisiculturismo seja um esporte relegado apenas aos mais abastados, ainda que tenha seus custos. “A maioria dos atletas se esforça muito para conseguir chegar ao palco, em questão financeira. Acompanhei vários atletas, quando eu treinava em Curitiba. Não é fácil chegar aos palcos, porque é um esporte muito caro. Óbvio que para quem tem dinheiro é muito mais fácil comprar um biquíni, pagar a inscrição, viajar. Mas eles fazem, das tripas, coração, para estar lá. Eu admiro muito os atletas, principalmente os meninos, que você vê a dedicação e como aquilo é muito importante para eles”, comenta.

Confira o bate-papo com Andreia Tokutake na íntegra: