Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024

‘Sintaxe à vontade’, do colunista Edgar Talevi, usa fatos do cotidiano para evidenciar e corrigir vícios de linguagem

2022-09-14 às 15:29

Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta quarta (14), o professor e colunista do portal D’Ponta News, Edgar Talevi de Oliveira falou sobre seu recém-lançado livro, “Sintaxe à Vontade – crônicas sobre a Língua Portuguesa”.

Este é o segundo livro escrito por Edgar Talevi e a primeira obra solo. O primeiro, “Domine a Língua – Novo Acordo Ortográfico de um jeito simples, foi escrito em parceria com Pablo Alex Laroca Gomes”.

O novo título, lançado no início de setembro, compila 33 crônicas sobre a Língua Portuguesa e mira num público-alvo amplo: desde alunos do Ensino Fundamental 1 e 2, até vestibulandos e quaisquer pessoas que tenham dúvidas relacionadas à gramática e ortografia. Entre as crônicas, o autor destaca ‘Sem Crise na Crase’ e ‘Como xingar de modo elegante’, que traz palavras pomposas que parecem xingamentos, mas não o são.

“É uma obra sui generis, nascida do coração, uma obra que vem de várias colunas, da Draft, e de várias publicações. Com certeza, foi feita com muito carinho”, diz. O autor explica que Sintaxe é um eixo da gramática normativa que trabalha a função das palavras dentro de um enunciado. “‘Sintaxe’ veio como uma brincadeira com ‘sinta-se à vontade’. Na medida que eu estudo, me sinto à vontade para entender ‘Sintaxe à vontade’. É um trocadilho que sempre desejei fazer”, expõe.

Talevi reúne, no livro, alguns dos textos campeões de acessos em sua coluna trissemanal no D’Ponta News, a coluna Draft, publicada toda segunda, quarta e sexta. Entre eles, a crônica “Deus está morto” que, pela controvérsia do título, ainda mais vindo de um autor que é, também, teólogo evangélico, atraiu o interesse dos leitores. “Não vou dar spoiler, mas ‘Deus está morto’ é um grande artigo, que entrou no livro, embora não seja uma crônica de Língua Portuguesa, mas que transforma muito o pensamento de muitas pessoas que não acreditam que Deus esteja vivo. É uma chamada para a leitura, mas que vale muito à pena”, afirma.

Os títulos, segundo o autor, sempre chamam à atenção para um fato e, ao mesmo tempo, para algum erro comum na linguagem do nosso cotidiano. Um exemplo que ele cita é a crônica “Não viva às custas do governo”. “Não é nenhuma crítica às políticas públicas e programas governamentais. O problema é falar ‘às custas’. O correto é ‘à custa do governo’. Tem algumas formas cristalizadas, que as pessoas acabam falando, usando no dia a dia, mas que não são gramaticalmente corretas”, comenta.

Ao apontar para as incorreções da Língua Portuguesa no cotidiano, Talevi alega não praticar “preconceito linguístico”. “Não é errado errar, mas é mais assertivo buscarmos o acerto. É um movimento de patriotismo conhecermos o idioma e trabalharmos de forma tal que consigamos com que nosso idioma seja valorizado na forma e na escrita”, argumenta.

A correção gramatical, com todas as suas flexões verbais e nominais, além das regras de regência, são comparáveis, conforme Talevi, aos trajes de gala, que você usa de acordo com a formalidade que o ambiente ou o evento exige. No dia a dia, em situações informais, Talevi admite que se comunica de forma coloquial e usa gírias e abreviaturas ao conversar com os amigos nas redes sociais, por exemplo, o que ele considera natural. Porém, em situações de formalidade, a norma culta deve ser respeitada.

“Você não vai a uma formatura, a uma cerimônia de gala, de bermuda e boné virado para trás, assim como não vai à praia de terno e gravata. Você utiliza de acordo com a ocasião”, ressalta.

Ao enfatizar a importância da leitura para o aprendizado da linguagem e das regras gramaticais, Talevi cita Ziraldo, que dizia que “quem lê aprende muito mais do que quem decora”. Ele tem uma visão crítica a respeito das provas que ainda se pautam na memorização de fórmulas, como concursos públicos e vestibulares. Nesse sentido, ele aponta um avanço do Enem, que hoje tem uma prova mais interpretativa e com mais contextualização.

“Ler, no sentido que Ziraldo aplicou, é mais importante que qualquer atitude formal. Na leitura, você divaga, tem suas digressões e constrói conhecimento de fato. Vou junto, nessa onda do Ziraldo, e acredito que a leitura em sala de aula deve transformar. E a leitura não deve ser resignada tão somente à área da Língua Portuguesa, mas todas as disciplinas. A leitura é um ato transdisciplinar”, enaltece.

O professor não vê diferença entre a leitura feita num dispositivo digital – computador, smartphone, tablet, Kindle, entre outros – e um analógico – o livro, em si. Ele reconhece que a internet ajudou a democratizar o acesso à leitura, que está ao alcance de todos, mas que esse potencial é pouco aproveitado.

Porém, ele manifesta sua preferência pessoal pela leitura no físico, no livro impresso, porque, nesse suporte, ele pode marcar páginas, grifar, destacar uma fala, um contato “mais romântico” com o texto. “Ler, seja em qual meio for, é fundamental, é primordial. Mas eu sou muito mais fã do livro, da Bíblia, do papel, porque acredito que fui criado nisso e sei onde isso me trouxe. Acredito que o livro não deva ser desmerecido”, argumenta.

Talevi observa que, ao ler, você se torna um leitor-sujeito: você não é passivo quanto à leitura e se torna sujeito à medida que constrói conhecimentos. “Quando leio, já saio do ambiente que o escritor colocou e crio novos significados, criando novos conhecimentos”, acrescenta.

Questionado se acha que a Língua Portuguesa é, de fato, uma das mais complicadas do mundo, o autor responde que, por sermos falantes nativos, dominamos o idioma, que se originou do latim vulgar. “O que falta a nós é o conhecimento das normas”, diz.

 

Edgar Talevi de Oliveira assina a Coluna Draft, no portal D’Ponta News, que vai ao ar todas as segundas, quartas e sextas. É licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa.

Também é revisor de textos e autor do livro ‘Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples’, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes.  Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.

Confira a entrevista com Edgar Talevi na íntegra: