O mercado de criptomoedas tem atraído cada vez mais interessados no Brasil. Em março de 2022 o volume de negociação de bitcoins por brasileiros foi de 747 BTCS ao dia, conforme dados do Cointrader Monitor (CTM).
O crescimento do interesse pelas criptomoedas e a popularização dos meios de acesso aos ativos digitais, por meio das corretoras e carteiras digitais, as wallets, são apontados como responsáveis pelo crescimento das movimentações e transações com criptomoedas no país.
Estes números também apresentam uma estatística preocupante. Aproveitando o crescimento das transações com criptomoedas, a criminalidade cibernética também vem crescendo vertiginosamente e se desenvolvendo no Brasil e no mundo. Conforme o Crypto Crime Report 2022, os crimes com criptomoedas totalizaram US$ 21 bilhões em 2021 – um aumento de 79% em relação ao ano anterior. Segundo pesquisa da empresa Chainanalysis, os crimes relacionados a criptomoedas movimentaram em 2021, R$ 80 bilhões. Ainda, conforme relatório da Lunar Crush, publicado em maio de 2022, golpes com criptomoedas cresceram 3894% em dois anos.
Somente em maio de 2022, mais de 200 mil fraudes com criptomoedas foram detectadas, conforme dados da Kaspersky, que apresentou números com base em suas plataformas de proteção de dispositivos.
A facilidade de troca de criptoativos, suposta privacidade nas transações e promessa de se ganhar dinheiro fácil também tem motivado pessoas a se aventurarem no mercado de criptomoedas, o que, sem o conhecimento adequado, as torna alvos fáceis dos criminosos digitais, explica o analista de sistemas e advogado especialista em crimes cibernéticos e criptomoedas, José Milagre, diretor da CyberExperts, uma consultoria especializada em crimes cibernéticos e perícias em informática com foco em crimes com criptomoedas. Coordenando uma equipe de mais de vinte e cinco pessoas, envolvendo técnicos, analistas forenses e advogados, o especialista relata que a procura por apoio especializado para recuperação de ativos digitais triplicou no último ano, o que demandou a busca por profissionais com novas competências em investigação forense de criptoativos e direito digital.
“Recebemos em média 20 casos novos por semana, sendo casos que envolvem desde pirâmides que prometem rentabilidade diária absurda, a casos de trojans e malwares que alteram o endereço de destino da carteira, quando o usuário vai fazer uma transferência”, explica o profissional.
Dentre os casos cada vez mais comuns na consultoria, situações de carteiras inseguras que são invadidas e criptomoedas desviadas e de pessoas que conectam a wallet em aplicações maliciosas, o que dá permissão para o furto de todos os fundos existentes.
“Monitoramos as movimentações dos fundos desviados, e associamos metadados que podem indicar exchanges ou entidades responsáveis, momento em buscamos um bloqueio dos fundos furtados”, salienta Milagre.
Segundo o profissional, a criminalidade que explora pessoas que começam a atuar com criptomoedas tende a crescer, sobretudo diante da falta de conhecimento dos riscos associados à manipulação de ativos digitais. “Hoje, criminosos adicionam pessoas em grupos de Whatsapp que falseiam a identidade de exchanges, e lá existem atores, todos coordenados, que vão postar lucros, até fazer com que a vítima esteja encorajada a investir neste pool. Quando investe, o app dos criminosos se conecta à wallet e limpa os fundos. A vítima fica sem saber o que aconteceu”.
Dentre os pontos importantes de segurança digital para pessoas que pretendem iniciar no mundo de criptomoedas, escolher bem a Exchange e conhecer as ameaças é fundamental. O especialista recomenda escolher sempre uma empresa idônea, de preferência com sede ou filial no Brasil, para transacionar com criptomoedas, bem como considerar empresas que apresentem evidências de rigoroso programa de compliance com segurança da informação e proteção de dados. No que diz respeito a pessoas que fazem autocustódia de suas criptomoedas, como em uma carteira em hardware, estas são totalmente responsáveis pela própria segurança e devem ter cuidado com a abordagem de marginais, que mudam a todo o momento.”Ignorar mensagens recebidas com links é boa prática. Do mesmo modo, muito cuidado com grupos que prometem fazer pool de mineração com o investimento de pessoas e prometem rentabilidade absurda. Pesquisar bem antes de comprar criptomoedas e estar atento às ameaças é fundamental”, salienta José Milagre.
O especialista em crimes cibernéticos dá orientações importantes sobre como evitar que pessoas sejam vítimas de fraudes com criptomoedas. Dentre as orientações, estão:
Para pessoas que foram vítimas, a orientação é preservar as provas, identificar as transações via blockchain (já que esta funciona como um registro de todas as transações), registrar a ocorrência policial por fraude eletrônica e procurar ajuda especializada. “Com ferramentas forenses destinadas à análise da Blockchain, pode ser possível rastrear os desvios e identificar os responsáveis e em alguns casos bloquear os tokens. Além disso, quando ocorre a falha na Exchange ou Wallet nos controles de segurança, permitindo que atacantes roubem fundos de usuários, é importante preservar as provas para demonstração de que a vítima não teve culpa e consequente pedido de reparação. Por isso, agir rapidamente é fundamental”, destaca José Milagre.