Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta quinta-feira (15), os professores e historiadores Fabio Maia e Edson Armando Silva explicaram sobre o papel dos imigrantes na história de Ponta Grossa, que completou seus 199 anos.
De acordo com Fabio, o processo migratório da cidade teve seu primeiro grande passo dado na década de 1870 quando chegaram em Ponta Grossa os chamados Alemães do Volga, ou russo-alemães. “Eles saem da cidade de Saratov, na Rússia, no ano de 1877, vem para o Brasil a convite de Dom Pedro II e vão se instalar nos Campos Gerais, na região de Ponta Grossa, Palmeira”, aponta.
Este povo veio para se dedicar ao cultivo de trigo na região, porém começaram a encontrar dificuldades, tanto com relação ao plantio, como à adaptação à nova realidade. “Esse grupo de imigrantes que chegou em 1877 encontrou uma série de dificuldades e alguns acabaram reimigrando, foram para a Argentina, Estados Unidos, e alguns permaneceram aqui. O problema da terra enfrentado por eles, do solo, faz com que se formasse uma comissão e eles foram até o Rio de Janeiro para conversar com o Imperador Dom Pedro II. Eles têm a promessa de que Dom Pedro viria para Ponta Grossa, como de fato ele veio, em 1880, mas não há uma solução para aquele problema”, explica Fabio.
Neste processo, alguns imigrantes não mais ficaram vinculados à agricultura, por volta de 1890. Alguns grupos foram para a cidade e deram uma contribuição significativa tanto no comércio e indústria, como no setor cultural. “Tivemos um russo-alemão que criou o primeiro jornal que deu certo em Ponta Grossa, o jornal O Progresso, que hoje é o Diário dos Campos. Mas não foram somente os Alemães do Volga, tivemos outras etnias”, conta.
O historiador Edson destaca que, com a chegada da ferrovia, Ponta Grossa acabou se tornando um núcleo urbano e industrial naquela época. “Ponta Grossa não é tributária de uma corrente migratória, porque o fato dela ser um entroncamento rodoferroviário, muita gente que veio trabalhar na ferrovia ficou por aqui. Italianos, vieram em função do trabalho na ferrovia, poloneses, russos, holandeses. Ponta Grossa foge um pouquinho daquele padrão que estudamos na escola da imigração de colonização, como Blumenau, cidade alemã. Ponta Grossa é marcada por ser multicultural naquele momento”, destaca.
Uma forma de identificar algumas destas etnias é por meio dos clubes sociais organizados na cidade, como o Dante Aligheri, de origem italiana, Clube Verde e Guaíra, de origem alemã e o clube Sírio Libanês. “Ao mesmo tempo você tem operários da ferrovia, você tem Associação Recreativa Homens do Trabalho, organizada em torno da ferrovia. Essa pluralidade dá uma ideia da formação de Ponta Grossa”, afirma Edson.
Formação dos bairros
Olarias, Oficinas e Uvaranas são bairros tradicionais e históricos no município. O professor Edson explica que a ferrovia marcava os limites dos centros urbanos da cidade, como é o caso de Olarias, que era uma área que concentrava trabalhadores das Olarias.
“Já Oficinas tem a ver com a criação das oficinas ferroviárias, que por iniciativa da rede ferroviária se cria um núcleo de pequenas casas de madeira onde se alocaram os operários, lá eles fizeram inicialmente uma ‘capelania’, que se transformou depois na Paróquia São Cristóvão, justamente por estar ligada ao setor ferroviário. Além de um núcleo de sociabilidade, o Pax, Associação Homens do Trabalho. Isso na década de 50 e 60”, relembra Edson.
Uvaranas tem a característica da presença de imigrantes. “Da mesma maneira que Olarias, o limite do bairro de Uvaranas é uma ferrovia. O primeiro núcleo de sociabilidade é a Igreja Nossa Senhora da Conceição, chamada de ‘Igrejinha’, que atendia a região de imigrantes pra lá da ferrovia, que era a área ‘pobre’. Essa é a fase de expansão expontânea da cidade e temos outra fase de expansão planejada, a partir da criação dos núcleos habitacionais”, explica o professor.
Ponta Grossa já teve outro nome?
O professor Edson afirma que sim. Segundo ele, a cidade já foi chamada de Pitangui e de Estrela e depois voltou ao nome tradicional: Ponta Grossa. “A origem do nome a gente não sabe ao certo. Temos duas teorias, uma ligada à concentração do gado aqui, que seria a ponta de gado e, como se tinha uma concentração grande nessa área, devido à topologia se chamou de Ponta Grossa. Ou a ideia de que de longe se via um capão de mato, que é o capão da Ponta Grossa, que se destacava no campo. Mas como não se registrou na época, não se pode ter certeza”, explica.
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