Artigo da professora Selene Coletti, publicado na Revista Nova Escola, dá o passo a passo, com quatro dicas, para que o educador desenvolva, na prática, o pensamento numérico entre alunos dos anos iniciais. Para a autora, a ideia de pensamento numérico vai muito além de números e quantidades: é um processo a ser trabalhado durante todo o percurso escolar para que o aluno construa, gradativamente, a noção de número.
Esse conceito depende de variadas aprendizagens, relações e habilidades. Selene cita o livro “Matemática no Ensino Fundamental”, de Van de Walle, que define que muitas experiências são exigidas das crianças até que elas desenvolvam por completo uma compreensão do que é um número e essa noção será desenvolvida e enriquecida com outros conceitos adicionais numéricos ao longo dos anos escolares.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) destaca esse ponto na unidade temática Números. Na introdução, aponta que esse conjunto de habilidades tem o objetivo de “desenvolver o pensamento numérico, que implica o conhecimento de maneiras de quantificar atributos de objetos e de julgar e interpretar argumentos baseados em quantidades. No processo da construção da noção de número, os alunos precisam desenvolver, entre outras, as ideias de aproximação, proporcionalidade, equivalência e ordem, noções fundamentais da Matemática”.
Construir essa noção demanda ir além da contagem feita de forma mecânica ou de exercícios repetitivos, defende Selene. Cabe ao professor sugerir situações em que os estudantes possam contar, calcular para resolver problemas, estabelecer relações e ter conhecimento de informações numéricas para entender e argumentar acerca de diferentes temas.
A professora elenca quatro pontos principais a serem considerados no que se refere ao pensamento numérico.
Trace um diagnóstico
Faça uma sondagem para descobrir a noção de número que sua turma já possui e analise com cuidado os dados obtidos. Compreenda como estão, o que já sabem e o que ainda precisa ser trabalhado e, assim, proponha atividades que realmente permitam o avanço de seus alunos.
Selene sugere que o professor use jogos ou situações da rotina escolar que promovam a contagem, desde quantas folhas são necessárias para distribuir uma prova para toda a turma ou como dividir as cartas de um jogo entre participantes, de modo que todos recebam a mesma quantidade, por exemplo. Se os alunos forem maiores, você pode propor situações-problema para que eles resolvam.
Invista no senso numérico
Essa capacidade permite entender onde há mais, menos ou a mesma quantidade de elementos sem contar. Mesmo que seja uma capacidade natural do ser humano – a de comparar – precisa ser desenvolvida na escola através da exploração dos números e de diferentes formas de representá-los, ao trabalhar as operações e a compreensão do valor posicional e ao fazer estimativas usando “números grandes”.
Esse movimento não deve ser feito apenas com os números naturais, pode e deve ser desenvolvido, ao longo dos anos escolares, também com frações, números decimais e porcentagens, conforme elas forem inseridas no repertório de ideias numéricas dos estudantes.
Registro do aluno
Selene propõe, em seu artigo, que documentar é de fundamental importância para que o professor entenda o perfil da turma e elabore atividades que a desenvolva por igual. Nesse caso, ela se refere aos registros do aluno, seja por escrita ou por desenho. O exercício contribui para construir o conceito a ser trabalhado e possibilita acompanhar a evolução do pensamento individual dos alunos, a fim de planejar intervenções que o permitam avançar na aprendizagem.
É comum, nas avaliações diagnósticas de Matemática, que o professor dite números para que os alunos escrevam, para compreender o que eles sabem a respeito da numeração escrita e das hipóteses acerca das características dos números.
Ela recomenda ao professor que sugira aos alunos documentar, em desenho, um jogo ou brincadeira, pois permite que ele note a evolução e a apropriação do pensamento numérico. Um exemplo que ela mostra é o desenho de uma aluna do1º ano, de uma brincadeira em que as crianças tinham que percorrer o mesmo trajeto com “passos de gigante” e com “passos de anão”. No desenho, ela usa traços para representar quantos passos foram dados e algarismos para expressar a quantidade total. O registro mostra que ela aliou a quantidade aos numerais que a representam, demonstrando o seu conhecimento em relação aos números.
Utilize jogos
Essa dinâmica, que torna a aprendizagem mais atraente para os alunos dos anos iniciais, não poderia faltar. Existem muitas possibilidades e a mais comum são os jogos que envolvem dados: permitem ao aluno aprender a contar e a resolver diferentes situações-problema que envolvem o andamento das jogadas.
Selene recomenda ao professor planejar boas intervenções para o momento da atividade e sugere ao educador que esteja atento às ações dos alunos para, depois, problematizar o que foi vivenciado, a fim de discutir sobre o conteúdo trabalhado.
Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
Adaptado de Revista Nova Escola