Domingo, 18 de Maio de 2025

Empresário da Inviolável alerta sobre perigos da segurança privada feita na informalidade

2022-09-28 às 14:39

Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta quarta (28), o empresário Cláudio Alberto Pogere, da Inviolável, falou sobre a segurança privada a imóveis residenciais e comerciais.

A Inviolável é uma empresa franqueada, de prestação de serviços de segurança privada, presente em cerca de 400 cidades de todo o Brasil. Em Ponta Grossa, a Inviolável passou a atuar em 2003. Pogere está à frente da unidade local desde 2012, quando adquiriu a franquia.

“Como toda franquia, dá uma estrutura um pouco mais organizada da própria gestão do negócio. Não é apenas gerir uma empresa, você tem que se adequar ao sistema todo. Temos um padrão de marca que avalia todas as etapas da empresa, desde fachada, prédio, pessoal, critérios de seleção, escolha de produtos a equipamentos de proteção”, explica o empresário. Um dos critérios é que as motos usadas no monitoramento de segurança não podem ter mais de 50 mil quilômetros rodados e essa marca é atingida, em média, em seis meses de serviço, quando precisa renovar a frota. Os automóveis precisam ser substituídos a cada três anos.

Pogere ressalta que, como em outros segmentos, na segurança privada, hoje em dia, impera a informalidade. O diferencial de uma empresa conceituada vai ser a adoção de critérios que exigem a formação do vigilante, sem antecedentes criminais e exames toxicológicos em dia.

“Hoje, tem muitas escolas em Ponta Grossa que fazem – ou dizem que fazem – treinamentos para profissionais que, com duas ou três horas de treinamento já dá um certificado para o cara pegar uma moto e ficar apitando nas madrugadas, achando que é um segurança”, critica.

Pogere avalia que o vigilante informal, contratado pelos moradores para passar de hora em hora nas casas durante a noite, com giroflex ligado, em vez de fornecer segurança oferece risco. “Ele acaba emitindo um recibo do cidadão onde ele prestou esse serviço. Aí que mora o perigo, porque já tem casos comprovados e já homologados pela legislação onde o vigilante entrou e levou um tiro de madrugada. Você que emitiu o recibo do serviço é culpado também”, alerta.

Conforme o empresário, em Curitiba um vigilante informal moveu uma ação coletiva, junto aos moradores de 340 casas onde ele prestava o serviço. Os recibos comprovavam os pagamentos e os vínculos de prestação de serviço e o segurança obteve indenização vitalícia. “Esse é o perigo do serviço informal: normalmente, custa ‘mais barato’, mas é ilegal”, diz.

Nesse serviço informal, é comum que a mesma pessoa venda um dispositivo de monitoramento eletrônico e faça a instalação. “E ela mesma monitora o cliente por um equipamento que, hoje, um aplicativo que você instala no celular e acusa os eventos”, diz.

Pogere afirma que o foco da Inviolável, na prestação de segurança privada, é o “meliante”. “Meu dia a dia é desconfiar de tudo. O dia a dia do meu funcionário é desconfiar de todos e de toda a situação. O meliante, delinquente, bandido ou ladrão não é mais aquela pessoa que temos um preconceito. Ele pode estar muito bem vestido e se comunicar muito bem, se relacionar muito bem e acaba se aproveitando do conhecimento dele e acaba lesando as pessoas, mas você jamais vai desconfiar que ele tenha uma má intenção”, observa.

A seleção de novos vigilantes na Inviolável costuma demorar até dois meses, até que o candidato se submeta a todos os testes e obtenha as certidões negativas da polícia. “É uma documentação bastante grande que exigimos e não contratamos sem ele passar por toda essa triagem de documentação, além do treinamento nosso”, expõe.

Pogere estima, segundo um número obtido em um grupo que reúne outras empresas de segurança privada de Ponta Grossa, que somente 10% das casas e dos comércios são atendidos por esse serviço. “Que são monitoradas por uma empresa legal de segurança privada ou de monitoramento”, acrescenta.

O empresário recomenda que, antes de contratar uma empresa de monitoramento e segurança, o usuário a visite e conheça o funcionamento. “Você está dando a chave, todos os teus dados e toda a tua rotina de entrada e saída, de ativação e desativação do alarme para essa empresa”, alerta.

Inteligência

Segundo o empresário, de nada adianta a instalação de câmeras de monitoramento se não for aplicada a inteligência a esse recurso. Se o equipamento não for de ponta de linha, as imagens só vão permitir notar que aconteceu algo, mas não vão ajudar a identificar o autor. Se a qualidade de imagem for muito boa, ajuda a identificar a fisionomia do autor e suas roupas, além de apresentar dados sobre a ocorrência, como data e horário. “Mas se eu não tiver a inteligência de usar esse dado, não adianta ter equipamento bom. Precisamos ter uma tecnologia boa e uma inteligência por trás de tudo isso que consiga trabalhar essa imagem, em cima de estatísticas”, diz.

Supondo que numa casa de quatro cômodos, com um sensor de alarme em cada um, um alarme dispara numa ocorrência de tentativa de furto, a operada precisa ter inteligência para saber de que cômodo partiu o primeiro disparo de alarme e a sequência dos demais, para entender o percurso que o invasor fez dentro do imóvel. O tempo médio de deslocamento do vigilante até o local da ocorrência desde o disparo do alarme é de cinco minutos. Os meios que retardam a entrada desse invasor à propriedade – grades, cadeados, câmeras, travas – garantem ao vigilante o tempo necessário para chegar ao local e impedir sua ação.

O empresário explica que há, na Inviolável, uma equipe de inteligência que faz análise das estatísticas das ocorrências e aproveita esses dados para agir de forma preventiva. Essas estatísticas permitem ao vigilante saber quais são os dias, horários e bairros mais propensos à ocorrência de roubos e furtos, pela incidência desses delitos. Segundo Pogere, o dia mais perigoso é o domingo, entre a meia-noite e as 6h da manhã.

Mas há uma oscilação, conforme o período, entre os bairros de maior incidência; às vezes, Uvaranas; outras vezes, Nova Rússia ou o Centro. “Por sermos uma empresa espalhada por todo o Brasil, muitas vezes, somos consultados por seguradoras de seguro residencial para formar preços”, acrescenta.

Pogere afirma que chegou a tentar, via Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), cruzar esses dados com informações da Polícia Militar sobre a prevalência de delitos, por dia da semana, horário e bairro. “Mas como vamos vender a cidade de Ponta Grossa, se juntarmos esses dados? Os dados da Segurança Pública são baixos, porque, de cada 10 furtos entre meus clientes, apenas três abrem boletim de ocorrência. Ou seja, dos furtos que ocorreram, apenas 30% geraram estatísticas de segurança pública em Ponta Grossa”, fala o empresário, sobre a subnotificação de ocorrências.

Ele considera importante que o cidadão registre boletins de ocorrência que, a depender da gravidade, pode ser feito até online. “Tem que fazer para gerar estatística, porque, senão não terá essa estatística para a força de segurança pública, para o policial militar fazer a triagem e intensificar as rondas naquele bairro em virtude da grande ocorrência de boletins”, enfatiza.

Vigilantes

“O vigilante é um cargo com quem tenho bastante preocupação e cuidado porque o trabalho dele, durante as 12 horas, é muito tenso”, afirma. Além do risco que ele corre no trânsito, a bordo de uma motocicleta, há o próprio risco envolvido no trabalho, seja ele armado ou não.

Para poder trabalhar armado, é exigido o credenciamento junto à Polícia Federal, além de treinamentos e certificados para poder manusear armas de porte legalizado. Pogere indica uma preocupação a mais com esse profissional: “O vigilante armado acaba sendo um alvo”, diz.

A diferença da Inviolável para uma empresa formada há pouco tempo vai ser também o tamanho da equipe e a capacidade de atender a várias ocorrências simultâneas, quando ocorre uma prioridade. Essa prioridade de atendimento, segundo Pogere, são as situações de emergência – antes tratadas como “pânico”. Algumas empresas como farmácias, postos de combustíveis e joalherias, por exemplo, costumam ter esse dispositivo ao alcance da mão do atendente para pressioná-lo diante de alguma coação exercida por assaltantes. Esse “botão do pânico”, ou de emergência, vai soar um alerta de prioridade na central.

Sensores

O empresário comenta que existem sensores térmicos e de movimento de diferentes níveis de qualidade. Empresas que usam sensores de baixa qualidade podem acabar desativando-os porque eles disparam com frequência, por detectar, movimentos como galhos balançando ao vento ou com o calor do ambiente. Um sensor de qualidade, no entanto, consegue detectar a presença de humanos e diferenciá-los da presença de animais na casa, por ser possível regular a sensibilidade do sensor de acordo com o porte do animal.

O disparo de um alarme por um sensor de má qualidade pode mobilizar uma equipe de vigilantes, sem necessidade, a um local sem ocorrência e deixar desprotegido um local onde sua presença era necessária. Além disso, Pogere destaca que um alarme que dispare excessivamente gera perturbação de sossego aos vizinhos e passe a ser ignorado diante de uma ocorrência real.

Confira a íntegra da entrevista com o empresário Cláudio Pogere: