Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi proclamada rainha do Brasil e sua padroeira em 16 de julho de 1930, por decreto do Papa Pio XI. Porém, a data de 12 de outubro passou a ser feriado devotado à Santa somente a partir de junho de 1980, pela Lei 6.802, assinada pelo presidente João Figueiredo. Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero e Jonathan Jaworski, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quarta (12), a coordenadora da Catequese da Catedral Sant’Ana, Elaine Cristina Delfino Pires, explica como nasce a devoção à padroeira brasileira, que já atravessa mais de três séculos.

O dia 12 de outubro se tornou feriado nacional a partir de 1980, depois que o Papa João Paulo II, em visita ao Brasil, consagrou a Basílica Nacional de Aparecida, o quarto santuário mais visitado do mundo, onde fica guardada e exposta imagem de terracota de Nossa Senhora da Conceição. O manto cor de anil e a coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis foram pagamento de uma promessa feita pela princesa Isabel, entregues ali em novembro de 1888, 20 anos depois da promessa e da primeira visita da princesa à basílica. A coroação canônica da imagem ocorreu mais de 15 anos depois, em setembro de 1904, ainda na chamada Basílica Velha.

Em 2017, católicos celebraram os 300 anos da aparição da imagem (Foto: Thiago Leon/Santuário de Nossa Senhora Aparecida)

Elaine conta que a devoção a Nossa Senhora Aparecida surgiu no século XVIII. Mais precisamente, na segunda quinzena de 1717, Dom Pedro de Almeida, conde de Assumar e governante da capitania de São Paulo e Minas de Ouro visitava a região de Guaratinguetá e o povo decidiu fazer uma festa para recebê-lo. Mesmo não sendo temporada de pesca, pescadores foram ao rio Paraíba, a fim de oferecerem peixes ao conde.

Os pescadores Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso, após inúmeras tentativas frustradas, recorreram à Virgem Maria, para que ela intercedesse a Deus, para que eles conseguissem pescar muitos peixes. “De repente, lançaram novamente as redes e pescaram o corpo de uma imagem, já escura, por causa da água saloba. Era só o corpo da imagem de Nossa Senhora da Conceição. ‘Aparecida’, esse nome surgiu depois, porque ela apareceu e, por isso, ficou Nossa Senhora da Conceição Aparecida”, explica a catequista. “Depois, eles pescaram a cabeça, que encaixou-se, exatamente, naquele corpo”, prossegue.

Os relatos dizem que depois de apanhar as duas partes da imagem, a figura da Virgem Maria teria ficado tão pesada que eles não conseguiam mais movê-la e, a partir de então, conseguiram pescar tantos peixes que foram obrigados a retornar ao porto, para que as embarcações não afundassem. Este é o primeiro milagre atribuído à santa.

“É um marco histórico; foi o momento que Deus achou necessário, para nós, brasileiros, que somos uma população muito católica, se manifestar através da imagem de Nossa Senhora, através de Maria, nossa mãe. Ele se manifestou dessa forma, como Deus é, particularmente, fantástico, sempre daquele jeito humilde, simples, mas com uma grandiosidade inexplicável”, comenta Elaine. Segundo a coordenadora da Catequese da Catedral, o culto a Nossa Senhora vem sendo transmitido de geração em geração, com muito amor e carinho pelos católicos que a amam e veneram.

A imagem escurecida pelo lodo do rio se tornou uma identidade para o brasileiro, conforme Elaine, por conta da miscigenação que formou nosso povo. De acordo com a catequista, não se pode lembrar da história da colonização brasileira e ignorar os povos originários – os indígenas – e os negros escravizados, que formaram nossa população junto aos imigrantes. “Também não tem como lembrar do Brasil sem a imagem do catolicismo”, frisa. O catolicismo era a religião oficial do Brasil desde o período colonial, por ser a religião oficial do Império de Portugal e, mais tarde, também do Império do Brasil. O Estado Laico surgiria apenas no Brasil República, em 7 de janeiro de 1890, com a promulgação do Decreto 119-A , que prevê a liberdade de crença e a proteção e respeito às variadas manifestações religiosas. “Maria é a imagem fundamental e representa a história do Brasil. Não tem como se explicar o Brasil sem Nossa Senhora Aparecida. Olhando para imagem já vamos relembrar os vários povos, nossos antepassados”, comenta.

Milagres

Depois do primeiro milagre, da pesca abundante, a imagem apareceu outras vezes para o povo de Guaratinguetá, no interior de São Paulo (então capitania de São Paulo e Minas de Ouro), e conceder muitas graças. Em troca, Nossa Senhora pedia aos fiéis que rezassem o terço e que construíssem uma capela. A devoção cresceu de tal maneira, ao longo desses três séculos, que foi necessário construir uma nova basílica. O Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida é o maior templo católico no Brasil e o segundo maior do mundo, menor apenas que a Basílica de São Pedro, no Vaticano. O local tem capacidade para 30 mil fiéis. Em 2017, quando a aparição da imagem completou 300 anos, o santuário recebeu 13 milhões de visitantes, o maior de sua história.

Na basílica, existe a chamada Sala das Promessas, onde os fiéis depositam os ex-votos, isto é, placas, artefatos e objetos que agradecem por milagres alcançados por intercessão de Nossa Senhora Aparecida. Muitos costumam acender velas com medidas que correspondem à altura de quem recebeu a graça solicitada. Outros, deixam ali fotos, muletas e partes do corpo, feitas de cera, que representam enfermidades curadas.

Imagem original

A imagem em exposição na Basílica dedicada a Nossa Senhora Aparecida é a original, encontrada pelos pescadores há 305 anos. Ela precisou ser restaurada no Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 1978, porque um jovem iconoclasta, então com 19 anos, aproveitou-se de um blecaute de dois minutos, logo após a distribuição da comunhão, na última missa do dia 16 de maio, uma terça-feira, e destruiu a imagem. Rogério Marcos de Oliveira quebrou o vidro protetor, depois pegou a imagem, que ficou quebrada em 165 fragmentos. O rapaz foi internado num sanatório.

Devoção na Diocese de PG

A devoção a Nossa Senhora Aparecida é tamanha, em Ponta Grossa, que existe, na cidade, um Santuário e pelo seis capelas dedicadas à santa. O Santuário Diocesano de Nossa Senhora Aparecida fica na sede da Paróquia São Sebastião, na Nova Rússia. Uma das capelas fica no Jardim Atlanta, no bairro Boa Vista, e faz parte da Paróquia Nossa Senhora Medianeira. A segunda fica na 31 de Março e faz parte da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. A terceira, no Jardim Sâmara, em Uvaranas, na Paróquia Bom Jesus. A quarta, faz parte da Paróquia São Pedro Apóstolo, no bairro Chapada. A quinta, fica no Ouro Verde, região da Colônia Dona Luiza, e faz parte da Paróquia Nossa Senhora do Monte Claro. A sexta, no Jardim Vila Velha, integra a Paróquia Nossa Senhora de Fátima.

Confira a entrevista de Elaine Pires na íntegra: