Domingo, 25 de Maio de 2025

Comer ao redor da mesa com a família traz benefícios sociais e fisiológicos, apontam chef e nutricionista

2022-10-21 às 17:31

“A hora da refeição é sagrada”, já dizia o ditado, mas a correria do dia a dia tornou as reuniões ao redor da mesa – ainda mais sem um celular para interromper – um desafio cada vez maior. Durante entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta sexta (21), o chef Ricardo Brandão e a nutricionista Adriane Colaça, falaram sobre a importância de fazer as refeições em família.

“Como chef de cozinha, acabo tendo uma imersão muito grande e não vejo aquilo só como uma necessidade básica, mas como uma experiência”, observa Brandão, que procura manter em casa o hábito de se reunir com a família para as refeições, aos finais de semana, pois admite que, durante a semana “é mais corrido”. Conforme o chefe, programar essas refeições com todos juntos é até um meio de celebrar as conquistas da semana ou de se acertar com os familiares. “Tudo o que é para resolver, é através das refeições, o que torna aquilo mais leve, porque nunca vi ninguém bravo comendo”, admite.

A nutricionista concorda que a mesa foi a primeira rede social da humanidade e que sua queda em desuso traz prejuízos à saúde. “É muito difícil encontrarmos as famílias fazendo as refeições à mesa. Três refeições é um luxo. O que encontramos é o jantar; talvez, o almoço, eventualmente. Fazer as refeições à mesa não é só aprimorar as relações, mas temos uma fisiologia toda adaptada para fazer essa digestão do alimento que vai ser digerido naquela posição, naquela atenção à mastigação. Todo esse processo, quando é feito à mesa, segue um caminho fisiológico”, diz.

A pressa rotineira tem levado ao crescimento de casos de azia, má digestão e desconforto gástrico pelo fato de que as pessoas não têm mastigado a comida adequadamente. “Ou elas mastigam muito rápido, mal trituram o alimento e já engolem, tomam um monte de líquido, naquela ansiedade de terminar rápido. A primeira etapa da digestão é mastigação, porque temos amilases digestivas ali na boca. Começamos a digestão dos carboidratos e, parcialmente, das proteínas, na boca. Esse roteiro digestório tem que acontecer de forma adequada”, adverte Adriane.

Se o alimento chega em pedaços muito grandes ao estômago, a parede do estômago reconhece que precisa liberar mais ácido clorídrico para fazer essa digestão e vai ficar em excesso do que é tolerável para o organismo, o que vai gerar quadros de refluxo e azias mais frequentemente, de acordo com a nutricionista.

A preguiça ou cansaço pós-almoço são causados por um efeito chamado de “maré alcalina”, porque toda a circulação sanguínea é deslocada para o sistema digestório, para fazer o processo de absorção dos nutrientes. “Se você comer na quantidade adequada de nutrientes, sem excesso, esse processo vai ser menos sentido. O outro fator que acontece a intensificação do cansaço é o excesso de comida durante a refeição”, destaca Adriane.

A nutricionista orienta, ainda, a evitar um ambiente tenso ao redor da mesa e deixar para ter aquela “DR” para outra hora. “O ácido clorídrico já está em excesso, você já está estressado, com excesso de catecolaminas circulantes, você já está irritado, com o cortisol nas alturas. Não há processo digestório que aconteça em ambiente de estresse. O cortisol circulante não vai produzir uma digestão adequada, é um bloqueador digestório”, alerta.

Segundo Adriane, caiu o mito de que não se deve ingerir líquidos durante a refeição. Até pouco tempo atrás, nutricionistas acreditavam que isso interferia no processo digestório. Entretanto, existe uma quantidade adequada: “não dá para consumir um prato de alimento e tomar três copos de suco, o que inviabiliza completamente o processo digestório”, pondera.

O estômago, explica, é um “balão muscular”. “Se você coloca um prato de comida de 300 gramas, mais três copos de suco, você eleva a capacidade desse estômago, constantemente, para um quilo, um quilo e meio de comida. Se você faz isso reiteradamente, com essa expansão da musculatura estomacal, você vai comendo cada vez mais”, adverte. Segundo a nutricionista, isso não te leva, necessariamente, a sentir mais fome, mas você vai levar mais tempo para se sentir saciado.

“A maior recompensa de um chef, de um cozinheiro, é ele ser reconhecido pelo seu trabalho, pelo sabor. Hoje, temos grandes chefs brasileiros, que são reconhecidos mundialmente pelo sabor que deu àquele alimento, pelo prato que ele inventou”, frisa Brandão.

O chef também reforça que a mesa é “a rede social mais importante do mundo”, porque estar ao redor dela produz e ativa memórias. “Se formos pegar nossas maiores referências, são pratos que nossa mãe cozinhava. Minha mãe, por exemplo, faz uma costelinha com arroz de pequi maravilhosa que eu, até hoje, desde quando me entendo por gente até hoje, falo: ‘essa é a melhor coisa que já comi na vida'”, afirma.

Confira a entrevista do chef e da nutricionista na íntegra: