Domingo, 25 de Maio de 2025

PG vive hoje momento similar ao das décadas de 1980 e 1990, em Curitiba, analisa arquiteta Cristina Motti

2022-10-25 às 16:57

Na visão da arquiteta Cristina Motti, a cidade de Ponta Grossa experimenta, em termos arquitetônicos, um movimento similar ao que Curitiba viveu na transição dos anos 1980 para os anos 1990 – época em que o urbanismo de Jaime Lerner e Rafael Greca deram à capital paranaense uma nova cara. Durante entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta terça (25), a profissional indica que um dos marcos desse novo momento arquitetônico de Ponta Grossa é a nova sede da Associação Comercial (ACIPG).

“Não tinha um prédio desse porte em Ponta Grossa. Falei para minha mãe que Ponta Grossa está vivendo a fase da década de 1980, 1990, em Curitiba. Está abrindo bar, opções, centros comerciais. Já viu quanta coisa sendo demolida e quantos terrenos vazios? Ponta Grossa está se modernizando, está mudando e vai ser uma cidade incrível”, analisa.

Arquitetura nas ruas de PG

Especialmente na região central do município, é grande o contraste entre fachadas mais antigas e prédios que traduzem o que há (ou havia) de mais moderno na época de suas construções. São diversas as tendências observadas.

Desde o surgimento da cidade de Ponta Grossa e dos municípios do entorno, no início dos povoados, já eram comuns as casas de estilo colonial, mais rudimentares, com telhados com duas águas, com fachadas simples. A vinda da família real para o Brasil – que deixou de ser colônia portuguesa e se tornou império – e a imigração, foram importadas tecnologias e tendências europeias, como os estilos neoclássicos, góticos e mouros e, posteriormente, com a imigração asiática, influência de estilos dos chineses e japoneses, por exemplo.

“O grande objetivo da arquitetura, na parte urbanística, é preservar. Porque, preservando, temos mais espaços livres para o sol entrar, para ventilação, senão fica aquele corredor de prédios e você acaba não tendo uma qualidade de vida. Justamente a preservação de patrimônios históricos, que têm referência importante na cidade, o importante não é ver somente a questão cultural, mas também a questão física, a do meio ambiente”, destaca.

Cristina frisa que o urbanismo, dentro da arquitetura, é uma área importante porque lida com o coletivo. Nessa área, as praças, parques e avenidas, por exemplo, também contribuem para cumprir essa função de “respiro” em meio a tantos imóveis e favorecer a circulação de ar e luz solar.

A arquiteta pontua que uma função primordial da arquitetura é promover o bem-estar, pois tem a finalidade de tornar confortáveis e agradáveis os lugares onde permanecemos a maior parte do tempo, como nossas casas e locais de trabalho. “A arquitetura precisa estar disponível para todos; todo mundo precisa morar bem, num lugar saudável, gostoso e que sinta bem-estar”, comenta.

Esse bem-estar de que a arquiteta fala passa também por saber adequar o espaço onde se vive e trabalha à rotina. Cristina afirma que vem trabalhando o minimalismo cada vez mais, de modo a fazer com que todo objeto tenha sua função e dispensar tudo o que for supérfluo. “As casas estão diminuindo de tamanho e você quer ter muita coisa”, destaca.

O desenvolvimento dos projetos, na análise de Cristina, tem que reunir os pontos de vista tanto do arquiteto quanto do cliente. “Hoje, a arquitetura é feita com arquiteto e cliente trabalhando juntos. Não dá para o cliente trabalhar sozinho, nem o arquiteto. Para uma obra sair 100% é o trabalho conjunto dos dois, conversando, além de toda uma equipe, porque o serviço de um depende do outro: se o eletricista não fizer a elétrica adequada, o instalador de ar-condicionado não vai conseguir executar; se o pedreiro faz a parede torta, depois vai mais material, mais massa e mais prejuízo para o construtor ou proprietário. Por isso o trabalho do arquiteto é muito importante: para fazer o planejamento antes da obra”, aponta.

A arquiteta cita que os japoneses trabalham planejando 70% a 80% do tempo e executam em 20%. “O brasileiro não planeja nada e leva 100% do tempo executando”, compara.

Segundo Cristina, em compromisso com o Conselho de Arquitetura de Urbanismo (CAU/PR), existe a Arquitetura Social, que tem a finalidade de oferecer preços mais acessíveis à população que não tem condições de pagar um projeto.

Obras públicas

“O que manda hoje, nas obras públicas, infelizmente, é a política. As obras públicas, hoje, deveriam estar na mão dos arquitetos, dos engenheiros, eles fazendo o planejamento. Quando estudamos urbanismo, vemos a longo prazo. Fazemos planejamentos para daqui 20, 30, 50 anos, que são rodovias, projeções para onde a cidade vai crescer. Muitas vezes, ficamos nas mãos dos políticos, porque eles fazem as obras que eles querem ou o que tem a verba disponível, a emenda parlamentar disponível”, avalia Cristina.

Projeto da Rádio T e Lagoa Dourada

A arquiteta assina o projeto da Rádio T e Lagoa Dourada. “Foi um trabalho maravilhoso, uma oportunidade incrível que o Márcio [Martins] me proporcionou. O Márcio já tinha muito bem o que ele queria na cabeça. Uma pessoa decidida e falou: ‘Vamos lá, quero criar os estúdios, quero confeccionar as paredes e preciso que você desenhe, que você ponha no papel para podermos executar'”, comenta.

Os paineis de madeira foram desenvolvidos pela Madcompen e projetados pela arquiteta. “Estudamos Acústica na faculdade e o grande sonho é, um dia, executar o que nós aprendemos. Foi um trabalho de estudo de técnica. O Márcio me chamou, fizemos o briefing com o que o cliente precisa, depois vem a parte da entrevista, as medidas. Definidas as medidas, vamos para a parte de estudo, levantamento, layouts, algumas conversas e reuniões. Um trabalho que, acredito, levou uns três meses de estudo e projeto, até conseguirmos definir e partir para a execução”, descreve Cristina, sobre o processo de criação dos projetos dos estúdios da Rádio T e Lagoa Dourada.

Confira a entrevista da arquiteta na íntegra: