Segunda-feira, 19 de Maio de 2025

CPI da Saúde vai encaminhar relatório sobre vacinas vencidas ao Ministério Público

2022-10-26 às 15:46

A vereadora Joce Canto (PSC), que denunciou que a Prefeitura de Ponta Grossa deixou vencer 5.970 doses de vacina contra covid-19 do laboratório AstraZeneca, deu mais detalhes sobre a fiscalização feita pela CPI da Saúde quanto à aplicação do imunizante. Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quarta (26), a vereadora afirmou que os membros da CPI da Saúde vão encaminhar relatórios ao Ministério Público Estadual (MPPR) e Federal (MPF) ainda nesta semana.

De acordo com Joce, os membros da CPI da Saúde estão, desde terça (25), elaborando um relatório para ser encaminhado ao Ministério Público, que deve ser encaminhado ainda nesta quarta (26) ou, no mais tardar, na quinta (27), através do relator Geraldo Stocco (PV). “Acreditamos que não devemos esperar o relatório final para ser encaminhado, assim como já fizemos um relatório parcial, que foi encaminhado para o Ministério Público Federal (MPF). Esse relatório das vacinas tem que ser encaminhado já”, salienta.

Joce pesquisou quanto custariam as doses da AstraZeneca. “Parece que elas custariam em torno de R$ 19, então, essas 6 mil doses seria em torno de R$ 115 mil”, estima, sobre o prejuízo. De acordo com a vereadora, a Prefeitura alega que esperava o Ministério da Saúde revalidar essas doses que foram desperdiçadas. “Essas doses já foram revalidadas uma vez, ou seja, a Prefeitura já perdeu a validade dessas doses uma vez. Isso é pura falta de gestão e incompetência. Por que não baixou a faixa etária antes?”, questiona.

A vereadora relembra que, em novembro do ano passado, a deputada estadual Mabel Canto (PSDB), sua irmã, já havia denunciado que outras 3 mil doses, de diferentes laboratórios, ficaram estocadas até o vencimento aqui em Ponta Grossa. A parlamentar apontou ao Ministério Público, na mesma época, que o município de Ipiranga estava aplicando doses vencidas na população.

“Veja a gravidade disso tudo: chegando essas 6 mil doses, mais 3 mil doses, Ponta Grossa já deixou vencer 9 mil doses”, critica.

Ampliação de faixa etária

O público 35+, que vai ser atendido com a aplicação dessas doses até quinta-feira (27), aguardava pela aplicação da quarta dose desde julho, quando foi anunciado o agendamento para a faixa acima de 40 anos. Quem tem 35 anos ou mais tomou a terceira dose a partir do fim de dezembro de 2021, há 10 meses.

Foi somente depois de a vereadora denunciar o caso que a Prefeitura resolveu ampliar a faixa etária de imunização para o público de 35 anos ou mais. Joce apontou, na Câmara, que outras 4.020 doses de um lote da vacina Janssen estão com prazo de validade prestes a vencer, na próxima sexta (28). “Essas doses poderiam ser perdidas, se não fosse baixada a faixa etária. Com isso, a Prefeitura baixou a faixa etária e pessoas vão ser vacinadas”, reforça.

A vereadora enfatiza que, se hoje não há ninguém hospitalizado no Paraná em decorrência de covid-19, é graças à vacina. “A vacinação é a única forma comprovada cientificamente de prevenir formas mais graves da covid. Se hoje estamos todos nesse espaço sem máscara é porque nos vacinamos. Por isso, tem que continuar vacinando”, ressalta.

4.020 doses da Janssen já estavam prestes a vencer – Foto: Arquivo

Desde agosto, a Prefeitura era cobrada de explicações sobre a razão de não ser ampliada a faixa etária de aplicação das doses da 4ª dose da vacina contra a covid-19. Primeiro, o município alegava que devia aguardar orientação do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para reduzir a idade mínima. Nenhuma explicação plausível foi dada pela administração pública para a mudança de entendimento sobre a questão a partir da denúncia.

“Vinha recebendo muitas reclamações de pessoas dessa faixa etária abaixo de 40 anos – inclusive eu estou nessa faixa, tenho 30 anos – da demora para receber a 4ª dose. Conversando com os membros da CPI da Saúde, foi um trabalho de muita dedicação, pois nós não simplesmente chegamos no Setor de Imunização e abrimos a geladeira e detectamos que havia vacinas vencidas”, comenta.

A vereadora foi pessoalmente conferir a denúncia, no Setor de Imunização, acompanhada do vereador Celso Cieslak (PRTB), que preside a CPI. “Fizemos uma série de requerimentos questionando por que não se baixava a faixa etária. Foram inúmeros requerimentos, tanto para a Sesa quanto para a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. Foi um trabalho de mais de dois meses questionando o número de doses e por que não se baixava a faixa etária até o dia em que fomos fazer essa visita in loco no Setor de Imunização”, reforça.

CPI da Saúde

No mesmo dia em que a CPI da Saúde visitou o Setor de Imunização, também visitou o Setor de Ambulâncias. “Hoje, cinco ambulâncias fazem o transporte dos nossos pacientes, tanto na cidade quanto para fora do município. Com as ambulâncias tendo que ficar em manutenção, praticamente temos três ambulâncias que funcionam na cidade de Ponta Grossa”, denuncia.

Joce Canto aponta que o ex-prefeito Marcelo Rangel (PSD) foi convocado três vezes para oitivas da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e não compareceu em nenhuma delas. Ele foi convocado, pela quarta vez, para oitiva que ocorre nesta quinta (27). A prefeita Elizabeth Schmidt está convidada a participar da sessão. “O prefeito não pode ser convocado “, explica.

“Alegou, na primeira vez, que queria saber o motivo pelo qual seria convocado e pediu as documentações. Mandamos todas as documentações para ele. Na segunda vez, também não foi e, na terceira vez, alegou que não havia sabido de sua convocação, exibiu um vídeo nas redes sociais desrespeitando a CPI e toda a população de Ponta Grossa. Falou, também nas redes sociais, que um membro da CPI era candidato, que outra – no caso, eu – tinham parentes candidatos e que a CPI era política”, afirma.

Segundo a vereadora, a CPI provou não ser de cunho político quando um dos membros solicitou a instauração de uma Comissão Parlamentar Processante (CPP) contra a prefeita Elizabeth Schmidt e ela mesma se manifestou contrária à abertura da CPP. “Me abstive na minha votação, porque não concordava naquele momento em pedir a CPP, afinal, não havia concluído os trabalhos da CPI. Um dos vereadores pedia a cassação, foi um pedido de investigação para a cassação da prefeita e eu achava que aquele não era o momento, porque a CPI ainda estava em investigação e ainda está”, acrescenta. Se, ao final das investigações, forem, de fato, constatadas quaisquer irregularidades, aí, sim, a vereadora concordaria com a abertura de uma CPP.

Conforme a vereadora, ao longo dos seis primeiros meses de 2022, foram 109 mortes só na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Sant’Ana e outras 67 na UPA Santa Paula. “Isso, com certeza, em decorrência do fechamento do Pronto Socorro [Hospital Municipal Amadeu Puppi]. A CPI da Saúde tem trabalhado incansavelmente em relação ao fechamento do Pronto Socorro. Inclusive, emitimos recomendações como a volta do Pronto Socorro, fizemos uma recomendação para a reforma do telhado, porque o engenheiro da Saúde relatou, em oitiva, que se fizesse a reforma do telhado, que custaria R$ 200 mil, dava para voltar a funcionar. O problema não eram as chuvas dentro do Centro Cirúrgico?”, indaga. Para reformar todo o telhado, custaria R$ 1,2 milhão.

O Centro Cirúrgico do Hospital Municipal foi fechado por recomendação da Vigilância Sanitária. O fechamento do Amadeu Puppi implicou que todos os pacientes fossem atendidos nas UPAs. “Quando lotou a UPA, a Central de Leitos também ficou lotada e também fizemos uma denúncia, eu e a deputada Mabel. Inclusive, no último mês, teve uma Ação Civil Pública feita pelo MP, que deu favorável à nossa ação, que concedeu que, em 48 horas, todos os pacientes têm que ser transferidos para hospitais e que não podem mais ficar dentro das UPAs”, diz.

“Você sabia que uma fratura de fêmur pode levar um paciente a óbito? Esse tipo de cirurgia era feito no Pronto Socorro e pacientes morreram dentro das UPAs por causa de fratura de fêmur”, frisa.

Joce afirma que, se fosse a prefeita, “teria vergonha de falar sobre o PAI [Pronto Atendimento Infantil]”. “Primeiro, ela fechou o Pronto Atendimento, depois veio no dia 1º de abril, dia da mentira, falar que vai reabrir o PAI. Depois, senta com o Marcelo Rangel para falar em reabrir o PAI, de novo. É uma vergonha, um descaso com a população e o Marcelo Rangel é responsável pelo fechamento do Pronto Socorro, porque ele não deu manutenção nenhuma, não fez as reformas que deveriam fazer e isso está totalmente comprovado na CPI da Saúde. Todas as pessoas que passaram pela CPI, dentro das oitivas, tanto engenheiros, quanto enfermeiros, todas as pessoas que passaram lá falaram que ele não deu manutenção, nem fez as reformas”, critica.

De acordo com a vereadora, quem fez a reforma da Ala Amarela do hospital foi a Justiça Federal e não o ex-prefeito. “E é uma ala que, até hoje, está ótima para uso, enquanto tem pessoas que ficam nos corredores da UPA Sant’Ana, que deveriam estar utilizando a Ala Amarela, é inadmissível”, emenda.

Questionada sobre quando acaba a CPI, Joce responde que ainda há pessoas a serem ouvidas e que o prazo deve se encerrar em torno de pouco mais de um mês.

A CPI é presidida pelo vereador Celso Cieslak (PRTB) e tem como relator o vereador Geraldo Stocco (PV). Os vereadores Léo Farmacêutico (PSD), Joce Canto (PSC) e Jairton da Farmácia (DEM) são membros. A Comissão foi instaurada em 31 de maio e tinha o prazo inicial de 90 dias para a investigação, que poderia ser prorrogada pelo mesmo período. No início de setembro, a CPI entregou um relatório parcial.

Confira a entrevista da vereadora Joce Canto na íntegra: