Domingo, 18 de Maio de 2025

Especialistas oferecem dicas para renegociar dívidas e ‘limpar o nome”

Pesquisa do CNC e Fecomércio aponta que 95,8% dos paranaenses possuíam algum tipo de dívida em outubro
2022-12-02 às 18:06

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR), 95,8% dos paranaenses possuíam algum tipo de dívida em outubro. Esse é o segundo pior indicador da série histórica, iniciada em 2010. Em agosto deste ano, o endividamento havia chegado a esse mesmo índice, que só não é pior do que os 96,2% registrados em agosto de 2011.

Uma sondagem da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR) e do Sebrae/PR, apurou que 46,6% dos paranaenses pretendem utilizar o 13º para pagar dívidas. O volume é superior aos 43,5% registrados no ano passado, bem como aos 36% de assalariados ouvidos em 2020, que afirmavam que quitariam seus débitos.

Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta sexta (2), o sócio-proprietário da SPC Protesto Nacional, Antônio Sérgio Rodrigues, deu dicas para quem pretende renegociar dívidas neste fim de ano e se livrar da “bola de neve” dos juros e multas. Rodrigues é bacharel em direito e acumula mais de 20 anos de experiência em Cartório de Protesto, onde acompanhou processos de endividamento de pessoas e de empresas.

O programa também recebeu o economista João Ney Marçal Júnior, que comentou sobre a forma que a crise econômica tem afetado o custo de vida para o trabalhador.

Rodrigues observa que o endividamento engloba todas as pessoas que possuem compromissos a serem pagos. “Alguns números analisados pela Confederação Nacional do Comércio dizem que o aumento da inadimplência ocorreu nos últimos tempos e o dado de outubro – novembro não temos ainda – ocorreu por dois fatores: o endividamento somado à questão dos juros altos”, diz. A variação desses dois fatores vai determinar se os índices de inadimplência crescem ou diminuem.

O endividamento é, portanto, o compromisso que o consumidor firma de pagar seus contratos e débitos em determinado prazo. “Você tem uma dívida, um direito obrigacional a ser cumprido”, acrescenta.

Segundo o sócio-proprietário da SPC Protesto Nacional, são muitas as razões que levam uma pessoa a se endividar. Rodrigues aponta que, de uns 15 anos para cá, as pessoas abraçaram um conceito de que se a parcela de uma compra cabe no bolso ela pode comprar. Entretanto, o consumidor acumula parcelas simultâneas – financia mais de uma compra ao mesmo tempo – o que torna seu orçamento muito apertado, sem margem de folga.

O economista orienta que o primeiro passo para gerir bem as finanças domésticas é criar o hábito de anotar todas as despesas mensais (luz, água, telefone, internet, gás, prestações, aluguel, condomínio, entre outras), com valor previsto e data de pagamento, de forma a estabelecer o plano de como pagar essas despesas. “Aí, você já começa a enxergar se tem alguma que pode tentar diminuir ou não fazer. Mas você deve conhecer suas despesas e, infelizmente, as pessoas não conhecem”, ressalta.

Rodrigues aconselha a separar o que é despesa fixa numa casa, da mesma forma que é feito nas empresas. Listar todas as despesas fixas mensais, que não podem ser mudadas porque são essenciais.

Vilões do endividamento

Já dizia Cazuza, há quase 35 anos, “meu cartão de crédito é uma navalha”. O contexto era o Plano Bresser, que buscava estabilizar a economia e a moeda corrente era o Cruzado (Cz$). O cartão de crédito continua sendo o vilão do endividamento, porque ele promete facilidades na hora de comprar, seja o limite acima do salário de seu portador, seja a anuidade “grátis” – compensada nos juros e multas de mora.

“Estando no seu bolso, você chega, se estiver sem dinheiro agora, passa o cartão. Podem ser parcelas baixas, mas a pessoa esquece e começa a remontar essas dívidas, soma uma sobre a outra. Chega ao fim do ano ou, eventualmente, alguém fica doente e ele precisa gastar mais”, explica Rodrigues.

Se o endividado perde o emprego, a situação fica mais complicada, porque ele vai ter que decidir entre as despesas domésticas ou os parcelamentos em aberto na hora de usar o Seguro Desemprego.

O economista João Ney Marçal Júnior recomenta prestar atenção ao conceito de “previsibilidade”, algo que escapa da cultura econômica brasileira. “Estamos sempre pensando que vai dar certo, avançando no escuro, sem saber como vai ser daqui a dois ou três meses”, observa.

Conforme Marçal Júnior, recursos como Seguro Desemprego e Fundo de Garantia devem ser usados em casos de excepcionalidade. “Vivemos um momento agora em que há uma série de tentativas do próprio governo federal, no sentido de manter a economia ativa – e estamos vendo um resultado do PIB até razoável – com a liberação de recursos que não deveriam, necessariamente, ser liberados neste momento, antes do período certo”, comenta.

Nesse sentido, ele critica medidas como o Saque Aniversário e a antecipação do FGTS, porque esvaziam o recurso que esse trabalhador usaria para sobreviver diante de uma eventual demissão sem justa causa. “Seria muito bom você só comprar se tivesse o dinheiro. Mas esse seria o conselho bom que ninguém pratica, infelizmente. Não conseguimos fazer, de fato, porque o cartão de crédito é super tentador, é fácil de resolver o problema”, afirma.

Outra terrível tentação que gera endividamento, aponta o economista, é o crédito consignado: aquele descontado em folha de pagamento. “A pessoa batalha muito para ganhar um salário, tem a previsão de ter um salário que era R$ 3 mil, passou para R$ 4 mil, mas já comprometeu esse R$ 1 mil em parcela de crédito consignado e antecipa o 13º”, exemplifica.

O economista crava que a antecipação de dinheiro, seja pelo cheque especial ou pelo cartão de crédito, é o que mais compromete o orçamento do brasileiro e o leva às dívidas. Rodrigues concorda e fala que o pior são os juros rotativos do cartão de crédito, por não pagar a fatura em dia.

Pagar o valor mínimo da fatura do cartão de crédito, aliás, é outra armadilha que deve ser evitada, conforme Marçal Júnior. Ao mesmo tempo que esse pagamento serve apenas para que seu cartão não seja bloqueado, ele não te livra de pagar o restante. Você vai postergar a dívida a juros que podem chegar a 400% ao ano. Essa “bola de neve” que se forma pode chegar a um ponto em que a fatura vai te cobrar apenas juros rotativos, porque já nem há mais nenhum produto ou serviço que você tenha adquirido e vá pagar com esse cartão. Vale lembrar que o limite do cartão de crédito só vai sendo liberado à medida em que o saldo vai sendo quitado.

Conforme Rodrigues, é um risco muito alto simplesmente deixar de pagar a dívida quando o devedor acredita que seja necessária uma revisão do débito. “Quando dizem para você não pagar, efetivamente, e deixar que eles [os bancos] negociem futuramente, eles estão iniciando um grande problema para aquela pessoa, porque ela vai ficar amarrada a eventuais soluções que eles tenham para entregar. Se, realmente, aquele débito não está correto e tem que ser revisado, o certo é fazer uma consignação do pagamento. Cumprir com a obrigação de forma indireta”, afirma.

Há dois caminhos para essa consignação: extrajudicial ou em juízo. “Acharia mais correto, conforme os valores, já para discutir em juízo, consignar esse valor, porque você não entra em atraso e tuas parcelas vão constar como pagas, consignadas num processo. É muito temerário dizer para alguém tomar uma atitude que a própria empresa de recuperação de valores não leu o contrato e não sabe o custo disso”, acrescenta o sócio da SPC Protesto Nacional.

Dicas

O sócio-proprietário do SPC Protesto Nacional, Antônio Sérgio Rodrigues, recomenda que a pessoa endividada no cartão de crédito, por exemplo, procure trocar as dívidas de juros altos pelas de juros baixos. “Esses créditos muito fáceis, como cartões de crédito, cheque especial ou similares, que não têm garantias, por conta do risco alto da operação, o sistema financeiro acaba cobrando juros muito altos”, diz.

A primeira alternativa é a pessoa endividada tentar negociar com a operadora do cartão de crédito, a fim de pagar menos juros. Na prateleira de produtos financeiros oferecidos pelos bancos, segundo Rodrigues, o empréstimo consignado, por mais que não pareça, é o mais “barato”. “Vale a pena ficar com uma dívida do consignado, em vez da do cartão de crédito. Vale a pena fazer uma alienação do carro e pagar as dívidas caras, as dívidas de juros altos, permanecer usando o carro e ter um dinheiro barato. Eventualmente, se tiver um imóvel sobrando, que não tem liquidez, faz uma alienação e o banco, por conta dessas garantias, cobra uma taxa de juros negociáveis e absurdamente menores que os de cartão de crédito”, recomenda.

Em 2021, os juros do cartão de crédito acumularam 347,4% ao ano e, em 2022, 399,5%. “É absurdo, é impagável ficar um rotativo de cartão com juros desse tamanho. Ninguém consegue ter uma renda que seja possível pagar juros assim”, analisa.

O economista sugere que a prioridade, diante de mais de uma dívida ao mesmo tempo, seja procurar negociar a mais cara, com juros maiores. “O próprio banco tem interesse em te manter como cliente. Você tem que ir lá renegociar, parcelar aquela dívida de uma forma que você cesse essa despesa. Parar o problema é a principal maneira de resolvê-lo”, frisa Marçal Júnior.

Financiamento imobiliário

“Os sistemas de financiamento habitacional, muitas vezes, privilegiam a cobrança dos juros no começo do contrato e a amortização ocorre mais para o final”, diz o economista. Nesse caso, provavelmente, se o comprador do imóvel solicitar uma tabela do que resta do financiamento a ser pago, vai demonstrar que o saldo devedor cai. “À medida que cai o saldo devedor, naturalmente, os juros sobre o saldo devedor vão diminuir, porque são sobre uma parcela menor, um valor menor. É provável que ele deva ter uma queda no valor a partir de agora”, sugere, a respeito de um contrato de financiamento imobiliário que teve metade das parcelas quitadas.

Financiamento de veículo com busca e apreensão

Financiamento de bens móveis não duráveis, como automóveis, costumam gerar algumas dores de cabeça para o comprador, especialmente pela gradativa perda do valor do bem, que se deteriora com o uso contínuo. Ao quitar um veículo, já é hora de adquirir um novo.

Já no caso de financiamento de veículos com busca e apreensão, Rodrigues recomenda lidar com a previsibilidade e nunca esperar para resolver problemas, porque a situação não melhora com o tempo. “A primeira questão é parar o problema no ponto que ele está”, diz.

Ele sugere que se a pessoa nota que, dali a três meses, por exemplo, pode correr o risco de sofrer alguma pendência financeira, ela não deve esperar esses três meses passarem para correr atrás de uma solução. “Já vai, antes, tomar uma medida acautelatória nesse sentido, porque vai ficar muito caro depois, com custas judiciais, oficial de justiça, honorários advocatícios e cláusula penal. Vão te tomar o carro, que vai a leilão e você vai continuar devendo o saldo devedor. O carro já perdeu valor e acrescentou todos esses penduricalhos, que são altos”, enfatiza.

SPC Protesto Nacional

A SPC Protesto Nacional estabelece a “ponte” entre devedores e credores para renegociação de débitos. O telefone é o (42) 3087-8550. Mais informações também pelas redes sociais: @spcprotestonacional.

Confira a entrevista na íntegra: