Chegaram as férias escolares e, com elas, a preocupação de muitos pais e mães: como manter os filhos ocupados e distraídos, mas sem ficarem “pendurados” a equipamentos eletrônicos, como celulares, computadores, vídeo games e computadores? Além disso, em muitas casas, a preocupação é dupla: quem está de férias são os filhos, mas os pais continuam trabalhando.
O programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta segunda (19), convidou a psicóloga Aline Siqueira Martins para recomendar algumas atividades para distrair as crianças e retirá-las do tédio.
A primeira ênfase da psicóloga é: “As férias são um período de descanso”. Portanto, nada de sobrecarregar a criança com tarefas, cursos, aulas. “A criança passou o ano todo na rotina escolar, muita aprendizagem e bastante cobrança. Agora é a época de dar um descanso e desenvolver novas habilidades. O que não significa que o que foi aprendido vai ser deixado de lado”, frisa a profissional, que atua na Psicologia Clínica com abordagem humanista e ênfase no atendimento infantil.
Aline reflete que cada vez menos a rotina diária permite que os pais brinquem com os filhos e estejam presentes em seu cotidiano. Aliás, a cobrança por produtividade constante faz com que os pais tenham cada vez menos tempo livre para conviver com os próprios filhos em casa, nas férias ou ao longo do ano. Ou pior: estão todos dentro do mesmo ambiente em casa, mas cada um isolado em seu próprio “mundo” diante da tela do celular.
“Isso não é saudável. As crianças de hoje nasceram em uma época tecnológica. Precisamos estimular esse desenvolvimento cognitivo e social de forma saudável e adequada”, aponta a psicóloga. Essa conversa, porém, não é nova. A mesma demonização que se faz hoje com os smartphones, ao atribuir a eles a responsabilidade pelo sedentarismo e falta de convívio social entre as crianças, já era feita há duas, três décadas. Os “vilões”, porém, eram a TV, o vídeo game ou o computador.
Aline sugere que os pais resgatem, junto dos filhos, o que chama de “brincadeiras de verdade”, ou seja, as que não dependem de um meio eletrônico e resgatar o “faz-de-conta” do próprio ato de brincar: correr, pular, jogar jogos educativos ou de tabuleiro.
Ela também recomenda brincadeiras que despertem o ladro criativo: a criança tem a capacidade de inventar os próprios jogos e de adaptar ou desenvolver um novo regulamento para brincadeiras já conhecidas.
Essa criatividade – e a coordenação motora – também podem ser desenvolvidas através de desenhos, pintura com os dedos, massinha de modelar e até mesmo com os slimes, que atraem bastante a atenção das crianças de hoje.
“A criança aprende a lidar com as emoções. A brincadeira socializa e permite que elas tenham contato com seus colegas. Hoje, em clínica, notamos um aumento de casos de transtorno do neurodesenvolvimento e parte disso vem dessa falta da presença humana, do faz-de-conta, do saudável, da brincadeira”, adverte.
Entre esses transtornos, ela enumera o de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e os ligados à questão cognitiva. Em clínica, a aprendizagem é estimulada com brincadeiras terapêuticas. “Aí não é apenas brincar, tem muita ciência por trás”, diz.
Na clínica, a criança passa de 40 minutos a uma hora, por semana, para tratar esses transtornos. “O maior desenvolvimento acontece em casa. Quando as crianças estão de férias, os pais não sabem o que fazer. Tivemos um exemplo disso na pandemia, quando os pais, de repente, se deram conta de que eram pais”, observa.
Tarefas combinadas
Em casa, a psicóloga orienta a inserir crianças e adolescentes na rotina doméstica. Os pais podem pedir auxílio para pequenas tarefas ou mesmo chamá-las para ver como determinada coisa é feita e aproveitar a curiosidade natural da criança para aprender coisas novas.
Nessas tarefas, a criança pode desenvolver o senso de responsabilidade e zelo, ao cuidar do próprio quarto e das próprias coisas. A psicóloga orienta que é importante incentivar os filhos, combinar e delegar funções diante do que eles gostam e do que chama a atenção deles. Aline recomenda aos pais que tenham cuidado para evitar transformar o acordo combinado em mera barganha ou troca.
“O ensinamento é muito importante. Quando há a terceirização da educação, temos um sério problema: o que seu filho está aprendendo? Seu filho está aprendendo o que outro está trazendo. Mas o que é seu? O que é da família? O que é do responsável?”, reflete.
Para mais informações, acompanhe a psicóloga Aline Siqueira Martins nas redes sociais: @psicologiaamare.
Confira a entrevista com a psicóloga na íntegra: