Sábado, 14 de Dezembro de 2024

“Temos que fazer algo que ajude a mudar a vida para sempre, que se torne hábito”, diz Padre Edvino Sicuro sobre jejum na quaresma

2023-02-22 às 14:55

Em entrevista ao Programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero e José Amilton, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quarta-feira (22), o padre Edvino Sicuro explicou qual o significado da quarta-feira de cinzas e trouxe reflexões sobre o tempo da quaresma.

O padre explica que, dentro do ano litúrgico da igreja católica, existem duas festas de maior destaque: a Páscoa, que é a principal, e o Natal. “Antes da chegada dessas festas existe um tempo de preparação: antes do Natal temos o advento e antes da Páscoa, a quaresma, que tem início com a quarta-feira de cinzas”, pontua.

A quaresma começa hoje (22) e termina na véspera da missa de lava-pés, na quinta-feira santa, que neste ano será no dia 6 de abril. Nas celebrações da quarta-feira há a imposição de cinzas, que são produzidas a partir dos ramos bentos no domingo de ramos do ano anterior, e que simbolizam a caminhada com Jesus Cristo na entrada de Jerusalém. Além de ser uma tradição, os católicos devem se atentar ao verdadeiro significado da data, defende Sicuro.

“Desde o início do Cristianismo e até no antigo testamento, se falava da cinza como penitência, são um símbolo de que nós, do cristianismo, viemos do pó e ao pó voltaremos. Colocar as cinzas em nossa cabeça significa que queremos viver e crescer na humildade nesse tempo da quaresma”, explica o padre. Ele ainda completa. “Ao receber as cinzas estou recebendo um compromisso de caminhar com Cristo até a morte na ressurreição, é muito mais simbólico do que parece”, acrescenta.

Quaresma, tempo de conversão

A palavra ‘quaresma’ vem do termo ‘quadragésima’, que quer dizer quadragésimo dia, conforme explica o religioso. “Na Bíblia nós temos muito o significado do número 40, Jesus jejuou durante 40 dias e 40 noites, o dilúvio demorou 40 dias, o povo de Deus caminhou no deserto durante 40 anos. O número 40 tem esse sentido de preparação. Por exemplo, a caminhada do povo no deserto era uma preparação para chegar na terra prometida, o jejum de Cristo depois do batismo foi a preparação para o início de seu ministério”, exemplifica.

Neste sentido, a quaresma é um tempo de conversão e de reconciliação com Deus. “O evangelho de hoje fala do tripé que sustenta nossa fé cristã, que é o jejum, a oração e a esmola. E Jesus diz que quando você jejuar, você não desfigure o rosto, lave o rosto, perfume a cabeça, para que ninguém veja que você está jejuando, mas o pai que está nos céus te recompensará. Quando der esmola, que a mão direita não saiba o que faz a tua esquerda”, diz.

Segundo o padre, o jejum não pode ser só a abstinência de determinados alimentos mas, sim, precisa ser baseado no que diz o capítulo 58 do livro do profeta Isaías. “Deus, através do profeta, diz: vocês pensam que vestir-se de saco, colocar as cinzas sobre vocês é o jejum que me agrada? Pelo contrário, o jejum que me agrada é libertar os cativos, dar vista aos cegos”, acrescenta. Ele ainda completa afirmando que as atitudes praticadas durante a quaresma não devem ser em vão. “Tem que fazer algo que ajude a mudar a vida para sempre, que se torne hábito. No caso da nossa vida cristã, temos que criar hábitos. Hábito de ir à comunidade, de ajudar o próximo”, conclui.

O padre Edvino ainda deixa uma sugestão de vivência para este período de quaresma. “Quero falar para as pessoas que procurem vivenciar bem essa quaresma, ampliando seus momento de oração pessoal, participando da comunidade, e durante a quaresma procure participar do sacramento da reconciliação, que é importante. Quem for à igreja, vai ver o padre vestido de roxo, que é o símbolo da penitência, vamos ter menos flores nas igrejas, os instrumentos musicais deveriam ser mais suaves, e a gente tem que criar esse tempo de silêncio, um jejum bom é fazer um pouco mais de silêncio, não colocar tanto som, para voltarmo-nos para nós mesmos, uma introspecção”, diz.

Confira a entrevista na íntegra: