Sábado, 12 de Julho de 2025

Presidente de sindicato dos professores critica implementação do Novo Ensino Médio nas escolas

2023-04-19 às 18:21

Em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta quarta-feira (19), o professor e presidente do núcleo sindical de Ponta Grossa da Associação dos Professores do Paraná (APP-PG), Tércio Alves do Nascimento, criticou a forma de implantação do Novo Ensino Médio no Estado.

Nascimento explica que o Novo Ensino Médio abrange do 1º ao 3º ano do Ensino Médio de colégios públicos e privados e apresenta uma ampliação na carga horária das disciplinas, tanto é que os colégios, que antes tinham cinco aulas diárias, passaram a ter a sexta aula. “No entanto, a impressão que se dá quando falamos em aumentar a carga horária é que teremos mais aulas, principalmente das disciplinas da Base Nacional Comum Curricular, no entanto traz uma certa redução, cai de 2.400 horas da disciplinas básicas para 1.800. É aí a polêmica que temos em todo o Brasil”, revela.

Além das disciplinas da Base Nacional Comum Curricular, o restante da carga horária do Novo Ensino Médio é composto pelos ‘itinerários formativos’, que são o conjunto de disciplinas, projetos, oficinas, núcleos de estudo, que os estudantes podem escolher, de acordo com as próprias aptidões. São cinco eixos: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e sociais aplicadas.

Entretanto, os colégios estaduais não possuem estrutura para comportar este novo modelo educacional, de acordo com o professor Tércio. “Não basta simplesmente ampliar uma jornada de trabalho e não dar as condições mínimas para que professores e estudantes tenham condições de fazer com que esse processo de ensino-aprendizagem venha de fato a acontecer”, opina.

Por isso, a diferença entre colégios estaduais e privados pode acentuar ainda mais a desigualdade social, conforme explica o presidente da APP. “Em 1930, tinha um estudioso, jornalista e educador Anísio Teixeira que falava sobre a Escola Paternalista, que era preparada para os filhos dos trabalhadores e uma outra escola preparada para os filhos do patrão. O Novo Ensino Médio é importante, nós precisamos mudar, não somos contra, mas a maneira como esse novo Ensino Médio está sendo implantado, nos faz remeter ao passado, porque ele quer preparar os nossos estudantes para o mercado de trabalho, mas não está preocupado com a Universidade, curso superior, dar aos filhos dos trabalhadores as condições mínimas necessárias para que a escola possa prepará-lo para enfrentar o vestibular”, pontua.

São inúmeras as dificuldades dos colégios públicos, a começar pelo acesso à internet. “Todo mundo imagina que está tudo funcionando direitinho e não funciona. Os nossos laboratórios que temos, nem todos os dias temos internet com condição de atender todos os alunos, então a escola particular acaba saindo na frente em razão disso, está sempre caminhando antes e preparando melhor seus alunos. E o filho do trabalhador vai ficar com os cursos técnicos e profissionalizantes, algo que seria mais secundário, e temos preocupação porque já tínhamos avançado com esse sistema que temos de classificação para o ensino superior”, diz.

Além disso, o Novo Ensino Médio também tem a carga horária reduzida de disciplinas como Filosofia, Sociologia, História e Geografia. “Quando falamos de ciências humanas, precisamos deixar bem claro que é necessário aprender a ler, escrever e fazer contas, mas acima de tudo, o aluno tem que sair da escola pública com a capacidade de poder tomar decisões, saber o que é melhor para si”, completa Tércio Nascimento.

O professor ainda finaliza. “Queremos uma educação pública de qualidade, que possa favorecer, na prática, todos os estudantes, para que tenham acesso as nossas universidades, fazendo os melhores cursos, mas ao mesmo tempo, com condições de disputar as vagas de igual para igual com alunos das escolas privadas”. “Nós temos dificuldades com estrutura e cobramos isso do nosso governo, cobramos mais profissionalismo e melhores condições de trabalho e salários no estado do Paraná”, finaliza.

Confira a entrevista completa: