Em entrevista exclusiva ao programa Ponto de Vista, apresentado por João Barbiero na Rede T de rádios do Paraná, na manhã deste sábado (6), o coordenador geral de produções e jornalismo do Grupo D’Ponta Mídias e Consultoria, Eduardo Vaz, comentou a trajetória que ele e sua esposa, Janaína, enfrentaram desde decidiram adotar uma criança. Uma longa espera teve fim em janeiro deste ano, quando o pequeno Henrique chegou para completar a alegria do casal.
O jornalista e sua esposa aguardaram cinco anos e meio até que conseguissem adotar. Eduardo comenta que, apesar de não ter o conhecimento técnico, tem a vivência de quem aguardou um longo trâmite para poder tirar a curiosidade daqueles que esperam entender os passos de um processo de adoção e como eles funcionam.
Eduardo e Janaína estão juntos desde 2010 e se casaram em 2014. “Imaginávamos ficar um ano casados, sem filhos, então no finalzinho de 2015, começo de 2016, decidimos que era a hora de termos um bebê”, conta. Segundo o jornalista, desde a época do namoro, já brincava que gostaria de ter um bebê e que pensava em, um dia, adotar uma criança.
Até casarem, conforme Eduardo, Janaína era um pouco “reticente” quanto a ter um filho que não fosse biológico. A adoção passou a ser cogitada depois que eles decidiram, em conjunto, fazer exames após várias tentativas de engravidar. “Incrível que é sempre a mulher a primeira a fazer toda aquela bateria de exames, mas quando nós dois fizemos, houve essa incompatibilidade e descobrimos que não seria impossível, mas muito difícil”, diz.
Essa condição foi descoberta no final de 2016. Segundo Eduardo, não foi de imediato que o casal resolveu entrar na fila de adoção, porque, antes, há todo um estágio de aceitação dessa dificuldade em gerar um filho biológico. “Demorei muito para aceitar isso, a impossibilidade do corpo mesmo em gerar um bebê. Você vem daquela expectativa ‘eu vou ter um bebê’ e, de repente, descobre que não é bem assim”, comenta.
O jornalista afirma estar arrependido de não seguir o exemplo da esposa e buscar apoio psicológico nesse momento em que enfrentava um processo de negação. “Nessa fase de negação, a gente vai buscar a medicina. Acho que todo mundo que passa por isso vai buscar clínica de fertilização, como vai funcionar, quanto custa. O valor de um tratamento desse é R$ 40 mil, R$ 50 mil, por baixo, com 30% de chance apenas de ocorrer gravidez”, aponta.
Ao longo do tempo, ele conheceu casais que fizeram três ou quatro tentativas sem sucesso. Financeiramente, a fertilização in vitro também não era uma opção do casal. Após alguns meses de reflexão, Eduardo e Janaína conversaram e resolveram iniciar o processo de adoção. O objetivo, porém, ficou restrito ao círculo íntimo e familiar.
Processo
No Paraná, os pretendentes à adoção precisam, obrigatoriamente, passar por três reuniões em que se aprende como funciona o processo e se conhece alguns casos. Nessas reuniões, se explica o porquê a chamada “adoção à brasileira” – sem passar pelos trâmites legais – pode ser prejudicial, tendo em vista que, a qualquer momento, a tutela sobre a criança pode ser questionada, independente do vínculo afetivo e emocional.
“Em Ponta Grossa, você também é obrigado a frequentar três reuniões do GAAN (Grupo de Apoio às Adoções Necessárias). É um grupo de apoio, onde você vai conhecer outros pais que também estão na fila de adoção. Você vai conhecer histórias de vida e poder tirar suas dúvidas. Foi a partir da primeira reunião no GAAN, que minha esposa abriu o coração para a adoção, quando conhecemos pessoas na mesma condição que nós”, relata.
O GAAN reúne tanto pais que já adotaram quanto casais que ainda estão em processo de adoção. “Vimos um casal que tinha adotado três meninos mais velhos, de 11, 12, 14 anos e um deles não quis continuar com eles. Os outros dois meninos estavam lá e contaram a história do que eles passaram no abrigo, da lembrança com a família biológica e como foi o processo de adoção com eles, porque o pai adotivo era militar, rígido e, vindo de uma casa assistencial, eles tinham uma liberdade maior. Para entrar naquele ritmo, eles contaram que, no começo, foi muito complicado, mas o amor deles por aquele pai e mãe adotivos, superou”, resume.
Depois disso que eles reuniram a papelada exigida pela Vara da Infância e da Juventude para dar encaminhamento ao processo e, então, o casal passou por entrevistas com uma pedagoga, uma psicóloga e uma assistente social, que fez uma visita ao apartamento do casal e conheceu as instalações para entender se havia condições de acolher uma criança. “A psicóloga conversou muito sobre a forma como imaginávamos criar essa criança, se tínhamos condição psicológica e por que estávamos entrando naquela fila de adoção”, diz. Toda essa etapa inicial levou oito ou nove meses.
Perfil
Em seguida, cabe ao casal definir o perfil da criança que espera adotar. “As pessoas falam ‘ah, você deveria querer a criança que vem para você’. Não é bem assim e isso eu digo sem culpa nenhuma: você determine aquilo para que você está preparado, para aquilo que seu coração está preparado para receber”, diz.
Quem deseja adotar preenche um formulário em que descreve o perfil da criança ou adolescente que pretende acolher: sexo; idade; saúde – se com doenças tratáveis e curáveis ou, até mesmo, incuráveis, ou com deficiências; se aceita grupos de irmãos.
Nesse sentido, Eduardo e Janaína decidiram que, pelo menos nessa primeira vez, queriam passar pela experiência de criar uma criança desde os primeiros meses de vida. “E gostaríamos de receber esse bebê parecido conosco. Então, definimos de etnia branca, de zero a um ano”, descreve.
Esse pedido vai para apreciação do Juizado da Infância e Juventude. A aprovação da juíza veio só em novembro de 2017. “Foi o dia que, oficialmente, entramos na lista de adoção da região onde estamos”, diz.
Quem vai buscar a adoção pode selecionar entrar no Cadastro Nacional de Adoção, mas é possível restringir o local, porque bebês e crianças menores, geralmente, permanecem nas Comarcas onde nasceram. “O Fórum de Ponta Grossa, por exemplo, ao receber um bebê, já encaminha para quem está ali ao redor. Às vezes, quando a criança é mais velha, ou tem algumas outras situações, precisa fazer um período de adaptação. Quando se preenche o cadastro, você define se aceita fazer o período de adaptação no Estado do Paraná, ou em qualquer lugar do Brasil, ou no Paraná e no Mato Grosso”, exemplifica.
Ao entrar na fila de adoção, Eduardo e Janaína estavam na posição 140. Ou seja, cerca de 140 casais – ou pessoas solteiras – à frente deles, independente do perfil definido de adoção. Por causa das reuniões do GAAN, ambos já sabiam que a espera poderia levar de quatro a cinco anos.
Longa espera
Foram cinco anos, dois meses e 15 dias de expectativa para o casal. “Os dois primeiros anos são muito difíceis, porque você tem que imaginar que algo de bom vai acontecer só dali a cinco. Durante todo esse período íamos acompanhando nossa posição na fila. A cada seis meses, cinco meses, minha esposa ligava no Fórum”, conta.
Mesmo assim, em nenhum momento Eduardo e Janaína cogitaram desistir do processo, ainda que a ansiedade tenha tomado conta deles nesses dois primeiros anos de espera. Depois disso, começaram a imaginar que poderia surgir o filho tão aguardado a qualquer momento.
Curiosamente, cerca de nove meses antes da chegada do pequeno Henrique, Janaína começou a preparar o quartinho do filho. Não foi calculado, ambos só se deram conta disso depois, segundo Eduardo. Eles apenas sabiam que estavam mais próximos do início da fila.
“Estávamos em férias e, no dia 13 de janeiro deste ano, a assistente social marcou uma reunião conosco. Ela ligou para minha esposa e disse que precisava atualizar nosso cadastro e disse que podia ser online, já que não estávamos na cidade. Marcamos para o dia seguinte, às 13h, online”, disse.
Segundo Eduardo, Janaína sentiu que tinha chegado a hora, enquanto ele acreditou que, realmente, a assistente social apenas pretendia atualizar o cadastro de ambos. “Fizemos a videoconferência com ela e não esqueço que ela comentou que sempre perguntávamos em que posição [da fila] estávamos. ‘Pois é, vocês estão na posição 17, está perto’. Ela fez a atualização do cadastro, perguntou se tinha mudado alguma coisa, se tínhamos mudado de trabalho, de renda, se tivemos filhos biológico. ‘Nada mudou’, minha esposa respondeu”, comenta.
A assistente perguntou, então, se ambos já estavam se preparando para acolher a criança que pretendiam adotar. Eduardo conta que a esposa disse que tudo já estava pronto, só não tinham comprado o enxoval porque ainda não sabiam o tamanho da criança, nem se seria menino ou menina. “Aí ela perguntou: ‘vocês conseguem arrumar tudo até segunda-feira?’. Foi um susto! Isso era numa sexta à tarde e estávamos longe, no litoral”, acrescenta.
Veio, finalmente, a tão aguardada notícia: “Ela falou: ‘se vocês conseguirem arrumar tudo até segunda-feira, tem um bebezinho esperando vocês, ele tem um mês e vai ser entregue a vocês na segunda-feira à tarde”, relata o jornalista, que se emociona bastante ao relembrar.
Os dois subiram a serra ainda na sexta para correr com os últimos preparativos para receber o filho adotivo. Até esse momento, eles ainda não tinham visto a criança, porque a assistente social não podia nem mesmo encaminhar uma foto, ela só pôde informar que era um menino de pouco mais de 30 dias, que tomava determinada marca de leite e o tamanho de roupa que vestia.
“Hoje, temos o Henrique, que é nosso filho mais do que amado. Parecido comigo, modéstia à parte”, brinca. O menino já tinha, antes, uma certidão de nascimento e um nome civil, que precisava ter, mas o casal teve a opção de escolher um novo nome. Agora, Henrique está com cinco meses. Você pode conhecer um pouco mais a história do casal e do processo de adoção no perfil do jornalista no Instagram.
Eduardo Vaz é jornalista, produtor executivo de rádio e TV com passagens pela Band Paraná, Rede Massa SBT, Grupo RIC, Rádio Jovem Pan FM, Rádio MZ FM e Rádio Lagoa Dourada FM. Ele também é hipnoterapeuta clínico e comportamental e Master Mind em Liderança, inteligência interpessoal e comunicação eficaz.
Ponto de Vista
Apresentado por João Barbiero, o programa Ponto de Vista vai ao ar semanalmente, aos sábados, das 7h às 8h, pela Rede T de Rádios do Paraná.
A Rádio T pode ser ouvida em todo o território nacional através do site ou nas regiões abaixo através das respectivas frequências FM: T Curitiba 104,9MHz; T Maringá 93,9MHz; T Ponta Grossa 99,9MHz; T Cascavel 93,1MHz; T Foz do Iguaçu 88,1MHz; T Guarapuava 100,9MHz; T Campo Mourão 98,5MHz; T Paranavaí 99,1MHz; T Telêmaco Borba 104,7MHz; T Irati 107,9MHz; T Jacarezinho 96,5MHz; T Imbituva 95,3MHz; T Ubiratã 88,9MHz; T Andirá 97,5MHz; T Santo Antônio do Sudoeste 91.5MHz; T Wenceslau Braz 95,7MHz; T Capanema 90,1MHz; T Faxinal 107,7MHz; T Cantagalo 88,9MHz; T Mamborê 107,5MHz; T Paranacity 88,3MHz; T Brasilândia do Sul 105,3MHz; T Ibaiti 91,1MHz; T Palotina 97,7MHz; T Dois Vizinhos 89,3MHz e também na T Londrina 97,7MHz.
Confira a entrevista na íntegra: