Os Museus Campos Gerais (MCG) e de Ciências Naturais (MCN), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), participaram da 21ª Semana Nacional dos Museus, promovida anualmente pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O evento aconteceu de 16 a 19 de maio e debateu a relação entre museus e história pública. O encontro também inaugurou o Jardim Geológico do Paraná – Coleção Bigarella, no Museu de Ciências Naturais.
No MCG
O Museu Campos Gerais celebrou o 1º Encontro da Associação dos Museus, Acervos e Casas da Memória da Região dos Campos Gerais (AMRCG) e o 1º Encontro de História Pública do Museu Campos Gerais. O evento foi organizado em parceria entre o MCG, o Parque Histórico de Carambeí (PHC) e a Associação de Museus, Acervos e Casas da Memória da Região dos Campos Gerais (AMRCG). A programação iniciou na terça-feira (16), às 15h, no Parque Histórico, com o Painel de Gestores sobre ‘Realidades e Possibilidades: debate e discussão acerca da realidade dos museus associados’, que trouxe relatos de experiência, perspectivas e desafios.
Às 19h, aconteceu a Conferência de Abertura com o tema ‘Descobrindo Ásia: organização e doação do acervo asiático ao Museu Oscar Niemeyer’, com a participação e palestra de Fausto Godoy, ex-embaixador brasileiro do Ministério de Relações Exteriores; Renê Wagner Ramos, Assessor de Museus e Cultura da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti); Miguel Sanches Neto, reitor da UEPG; Niltonci Batista Chaves, diretor do MCG e demais autoridades.
O reitor Miguel Sanches Neto foi um dos responsáveis pela abertura do evento. Em sua fala, rememorou Wilson Martins, autor de ‘Um Brasil Diferente’, livro em que diz que o “Paraná era a demonstração de que a cultura brasileira é um polígono e não triangular”, sobre a variedade de culturas e povos que compõem a demografia do Estado. “Aqui temos a colonização de imigração holandesa, alemã, inglesa, francesa, russa, ucraniana, italiana, polonesa, o que caracteriza esse Brasil diferente, em que as culturas se comunicam e há multiplicidade de etnias”, enfatizou.
A Semana dos Museus é motivo de orgulho para o reitor. “O que vemos aqui hoje é uma ampliação das conversas culturais. Estamos cada vez mais nesta lógica de que as culturas se comunicam, nós acreditamos nos museus, acreditamos na cultura e na educação que eles proporcionam”, celebrou.
Representando a Seti, Renê Wagner Ramos comenta que a Secretaria apoia e incentiva o evento. “O ex-embaixador foi responsável por transformar nosso Estado em referência de conhecimento cultural e acadêmico sobre o continente asiático, por isso ocorreu o convite [da palestra] em parceria com o MCG”, destaca. Para ele, a cultura milenar e rica em diversidade, que chama atenção pelo excesso e exotismo, é desmistificada através da experiência de receber uma autoridade geopolítica. “A ideia da conversa era exatamente sair desta visão estereotipada do asiático para uma compreensão da mentalidade e comportamento”, reforçou. Desta forma, a Seti busca pela Cultura e Ciência aproximar os povos. “E essa experiência teve esse papel de ampliar o acesso à cultura e o conhecimento científico da Ásia”, completa Ramos.
O diretor do MCG, Niltonci, comentou que a Semana dos Museus é voltada para toda a comunidade envolvida em trabalhos e atividades com museus, porém, é aberta para todo o público. Ele também reforça que “é a integração dos museus brasileiros numa semana em que eles discutem suas demandas, questões técnicas e as características da própria existência”.
A professora do departamento de História, Eliza Ribas Gracino participou do evento junto de alunos do Departamento de História (licenciatura, bacharelado e pós-graduação) e enfatizou a importância da iniciativa. “Uma coisa é estar desenvolvendo essas discussões teóricas em sala de aula, de um universo que é distante, e outra é e ouvir sobre as experiências do embaixador, trazendo esses aspectos a partir da sua vivência, reconhecendo processos culturais distintos”, aponta.
Eliza também pontuou a importância dos eventos culturais e históricos. “Somos privilegiados pois somos membros do ensino superior, seja cursando ou como professores. É nossa função social trazer a diversidade cultural e pensar: quantos Brasis existem dentro do Brasil? Quando ele traz a perspectiva de fora ele faz com que a gente olhe para nossa própria região”, completa.
O diretor da AMRCG, Felipe Pedroso, reforçou a importância do encontro, que marcou a primeira reunião presencial do grupo para discutir e debater a realidade, desafios e oportunidades dos museus da região. “O cenário de museus vem crescendo vertiginosamente nos últimos anos e tem se atentado em construir uma agenda cultural com atividades das mais diversas para atrair público e proporcionar um espaço de fruição cultural”, pontua.
O diretor também comentou que a Associação busca trabalhar coletivamente pela valorização da história dos Campos Gerais e seu povo, com foco principalmente na expansão do setor museal. “Isso tem grandes impactos sociais e econômicos na região, abrindo oportunidades para o turismo e geração de renda, além de importante instrumento de difusão cultural”, reforça.
Colecionista e diplomata
Fausto tem 40 anos de carreira diplomática e representou o Brasil em países como Bélgica, Argentina, Estados Unidos, mas, principalmente, em países do continente asiático. Foram 11 países, como, por exemplo, Paquistão, Afegansitão, Japão e Bagdá, o que lhe rendeu o título de único membro da diplomacia brasileira que serviu no maior número de nações asiáticas.
Durante sua trajetória profissional, Fausto iniciou uma coleção de peças de arte e etnologia da Ásia, acumulando aproximadamente 3 mil itens que foram doados em 2015 ao Museu Oscar Niemeyer (Mon) de Curitiba. O acervo expressivo resultou na exposição ‘Ásia: a Terra, os Homens e os Deuses’, em exibição atualmente.
Em sua palestra, Fausto exaltou a diversidade cultural brasileira e o processo de “desidentidade”, que seria o ato de se desconstruir diante do novo e se construir com novos saberes. Sobre a passagem por Ponta Grossa, o colecionista ressaltou a alegria em ver tantos acervos históricos valorizados. “É um prazer poder transmitir a vocês todos essa vivência, que acho que deve ser compartilhada para que nós brasileiros nos inteiremos de uma realidade muito mais ampla. Nosso mundo é muito pequeno e nós não sabemos tudo”, emociona-se.
Visitas
Na manhã de quarta-feira (17), Fausto, Renê, Niltonci e a pró-reitora de Extensão e Assuntos Culturais, Maria Salete Vaz, visitaram a atual sede do MCG, para conhecer as obras e a estrutura ocupada pelos projetos de pesquisa. Logo em seguida, realizaram visita ao prédio histórico em restauração do MCG, que será reinaugurado em 2024.
No MCN
Na quinta-feira (18), no período da tarde, aconteceu a inauguração da exposição permanente “Jardim Geológico do Paraná – Coleção Bigarella”, projeto desenvolvido pelo Museu de Ciências Naturais da UEPG (MCN). As peças que compõem a mostra foram cedidas ao acervo do Musei pela Fundação João José Bigarella (Funabi). A tarde ensolarada foi propícia para o lançamento, que contou com a presença o reitor Miguel Sanches Neto e o vice-reitor Ivo Mottim Demiate; o Assessor de Museus da Seti, Rene Ramos; Edson Peters, presidente da Fundação Bigarella (Funabi) e demais autoridades da instituição.
O Museu recebeu cerca de quinhentas amostras de rochas, fósseis e cristais coletados pelo geólogo paranaense João José Bigarella (1923-2016) ao longo da vida. Além das rochas que compõem o Jardim, as demais peças incorporadas ao acervo do Museu serão utilizadas em futuras exposições e para consulta em pesquisas científicas.
A exposição é um espaço interativo, no formato do mapa do Paraná e forrado em pedrisco. Conforme caminham, os visitantes podem conhecer as diferentes formações rochosas encontradas no Estado. O jardim contém cerca de 100 exemplares de rochas, dispostas sobre a região em que foram coletadas, com placas explicativas sobre a sua formação. A instalação foi feita ao longo de duas semanas por alunos do Departamento de Geociências (Degeo) da UEPG, sob orientação do diretor do museu, professor Antonio Liccardo, e contou com apoio de servidores da Pró-Reitoria de Planejamento (Proplan).
Em sua fala inaugural, o reitor exaltou o trabalho de Liccardo.“Obrigado por ter sido obcecado em dar vida a este projeto. O seu esforço resultou em um espaço em nossa Universidade muito rico em informação e que atrai a atenção de toda a comunidade científica”, ressalta. Miguel destaca que a UEPG e toda a comunidade apenas têm a ganhar com a criação do Jardim, em credibilidade e na construção de parcerias pelo desenvolvimento científico.
O assessor da Seti, Renê Wagner Ramos, define a exposição como uma grande conquista para o mundo científico e para a formação de crianças e adultos, por facilitar o acesso ao conhecimento científico. “Investir em museus é uma obrigação social do Estado, em retribuição à sociedade. Estes são espaços de divulgação científica, onde o conhecimento deve estar disponível à comunidade”, ressalta.
O professor Antônio Liccardo ressalta que o processo para a realização da obra iniciou há quinze anos, quando o professor Bigarella idealizou a criação de um museu que ressaltasse a diversidade geológica do Paraná. “Foi um alívio a todos nós que fizemos parte deste processo ver o trabalho do professor Bigarella finalmente tendo um destino digno. Inaugurar o Jardim é uma forma de preservar um dos acervos geológicos mais ricos do Brasil e honrar sua memória”, comenta.
O representante da Funabi, Edson Peters, declarou estar orgulhoso do Jardim. “O sentimento é de gratidão pelo reconhecimento que a UEPG demonstrou em relação ao professor Bigarella e tudo que representa sua obra e legado para as presentes e futuras gerações”. Bigarella ficou marcado pelos pesquisadores como um grande educador ambiental e tinha o objetivo de que com seu acervo pudesse educar futuras gerações. “Sensação de dever cumprido e esperança que tudo isso sirva para o avanço da ciência e da cultura em nosso país, tão carente de educação ambiental e cidadã”, completou.
Para Liccardo, o MCN cumpriu o objetivo de criar um espaço ao ar livre que une lazer com divulgação científica para as pessoas que o visitam. “Foi muito emocionante ver crianças e adultos se divertindo e interagindo com as peças. Acho que esse é o espírito do Museu, que já nasceu integrado à sociedade”, exaltou. Além do Jardim, inauguraram duas exposições temporárias no interior do Museu: ‘Nos Passos da Evolução Humana’, com réplicas de fósseis e peças que explicam o surgimento da espécie humana, organizada em parceria com o Museu de Arqueologia de Ponta Grossa; e ‘Bate-papo com Pinguins’, que reúne animais antárticos e equipamentos utilizados por pesquisadores do Programa Antártico Brasileiro.
Encerramento
A Semana Nacional dos Museus encerrou na sexta-feira (19), no Museu Campos Gerais, com a palestra da pesquisadora Naiara Batista Krachenski Stadler, Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), falando sobre Museus, História Pública e a leitura histórica de imagens.
da UEPG