Sexta-feira, 13 de Dezembro de 2024

Ponto de Vista: Sebrae Delas objetiva empoderar mulheres via empreendedorismo

Segundo coordenadora do programa, mulheres enfrentam desafios adicionais na hora de empreender
2023-06-24 às 16:11

Em bate-papo exclusivo com o apresentador João Barbiero, durante o programa Ponto de Vista, levado ao ar a todo o Paraná pela Rede T na manhã deste sábado (24), a coordenadora nacional do Sebrae Delas, Renata Malheiros Henriques, falou sobre empoderamento feminino a partir do empreendedorismo.

“O programa Sebrae Delas é voltado a todas as mulheres que querem abrir uma empresa ou aquelas que já têm um negócio e querem desenvolvê-lo mais”, explica. A segmentação do programa voltado ao público feminino se justifica pelo fato de que se é difícil, para todos, empreender, para a mulher esse desafio é ainda maior. “E esses desafios são culturais. Não é culpa das mulheres, mas das tais crenças limitantes, enraizadas desde a infância, que são verdadeiros preconceitos que a sociedade acaba colocando”, aponta.

Segundo Renata, desde muito cedo as mulheres acabam sendo limitadas pelo machismo estrutural, por crescerem ouvindo frases como: “isso não é jeito de menina falar”; “isso não é profissão de mulher” ou “isso não é jeito de mulher fazer as coisas”. “O menino também recebe essas crenças limitantes, mas geralmente vinculadas aos sentimentos, como o ‘homem não chora'”, acrescenta.

Crescer cercado por essas crenças limitantes, segundo ela, interfere inconscientemente nas nossas decisões, nos nossos comportamentos e em como a sociedade nos vê. “A boa notícia é que cultura dá para mudar e o Sebrae Delas é um pedacinho para mudar essa cultura”, afirma.

O papel do programa, conforme Renata, é “acelerar” essa mudança de visão, de cultura, ainda mais pelo fato de que muitos dos direitos das mulheres foram adquiridos muito recentemente. Até 1966, assinala Renata, uma mulher só poderia abrir uma empresa, um CNPJ, se tivesse permissão do marido. Também não podia sequer abrir uma conta bancária. Isso mudou a partir do chamado Estatuto da Mulher Casada (Lei 4121/1962).

“A cultura faz a lei. Quando aceleramos a mudança de cultura e da lei, melhoramos”, diz.

Um dos problemas que a mulher enfrenta no empreendedorismo é a falta de reconhecimento de seu trabalho, especialmente em empresas familiares. Costumeiramente, se a empresa for premiada em algum aspecto, quem sobe ao palco receber o troféu, ou certificado, e discursar é o homem. “Não é justo. Se todo mundo ralou, todo mundo merece colher os louros”, comenta.

Ela também aborda um conceito chamado “brecha dos sonhos”: a diferença entre o que você sonha e todo o seu potencial. Para Renata, “ver é acreditar”: ou seja, a mulher precisa ter em quem se projetar, ter referências para se estimular e sentir que também consegue. “Se as meninas não veem mulheres engenheiras, astronautas, senadoras da República, empresárias, vão pensar: ué, isso é para a gente? Mesma coisa para os meninos, que não veem bailarinos ou professores primários. Precisamos ver essas histórias para nos inspirarmos”, diz.

Desafios adicionais

Independente de gênero, o bom empresário deve reunir dois conjuntos de competência, segundo Renata: as técnicas e as sócio-emocionais. “São justamente nelas que a sociedade coloca um desafio adicional às mulheres: liderança, autoconfiança, negociação, persuasão, falar em público sem ficar com vergonha”, explica.

Renata ilustra com o exemplo de que todo empresário, costumeiramente, precisa convidar clientes, parceiros ou fornecedores para tomar um café, um almoço de negócios, happy hours, coquetéis. Para a mulher, o desafio adicional fica por conta de que um convite para uma reunião fora do ambiente de negócios corre o risco de ser interpretado como um flerte. Ou ela pode ter que lidar com um marido ciumento, ou os filhos a esperam em casa num horário determinado e ela não quer deixar de tratá-los como prioridade – a famosa culpa materna.

Outro exemplo que ela menciona é que toda menina que é mais articulada, desinibida e que gosta de se destacar na escola, ao longo de seu crescimento é tolhida e tem essa expansividade podada, porque a sociedade diz que ela é “exibida” ou “metida”. “Na fase adulta, você precisa vender seu peixe, falar com convicção. A boa notícia é que conseguimos desenvolver essas competências sócio-emocionais por meio da mentoria e das redes: uma empreendedora ajuda a outra”, afirma.

O primeiro passo para quebrar os estigmas enraizados pela cultura do patriarcado, que por muito tempo limitaram a ação e o alcance da mulher, é tomar consciência. E esse papel não cabe apenas à mulher, mas também ao homem: entender que aquela visão que absorvemos de nossos pais, tios, padrinhos, avós sobre o “papel” ou o “lugar” da mulher talvez não seja mais válida.

Renata observa que esse conceito não nos foi repassado por mal, era reflexo de um contexto social e de época, que deve ser transformado. Da mesma forma, ela recomenda que reflitamos se não estamos reforçando, inconscientemente, os estereótipos das crenças limitantes. “Tenta mudar para ‘homem’ uma situação que você vai falar. Se ficar engraçado ou estranho, provavelmente, você está reforçando estereótipos”, aponta.

Ela exemplifica citando que mulheres empreendedoras muitas vezes mencionadas em revistas e jornais são retratadas como mulheres que conseguiram “equilibrar” os negócios com a maternidade. Não se fala sobre um homem empreendedor sob esse viés.

Os brinquedos também insistem em reforçar esses estereótipos, de acordo com Renata, quando as lojas separam em setores os brinquedos “de meninos” – bem mais variados e voltados à criatividade e ação – e “de meninas” – quase sempre limitados a bonecas e simulações de afazeres domésticos.

As bonecas estimulam na criança o aprendizado sobre o cuidado. “Se for um adulto que tenha um filho, vai aprender a trocar a fralda do bebê, vai virar um adulto que sabe limpar sua casa, que sabe cozinhar. Isso é maravilhoso, pois temos que ensinar as crianças a serem adultos funcionais, que saibam cuidar, isso é fundamental. Não tem que parar de dar isso para a criança, não. O problema é dar isso só para a menina. É preciso que um homem adulto saiba fazer comida, que saiba ser um pai carinhoso”, analisa.

Ao brincar, a criança tem a oportunidade de experimentar papeis sociais e se imaginar em diferentes profissões. Renata critica o fato de que rotular determinados brinquedos como “de menino” limitam essa experimentação. Bolas, bicicletas, jogos de tabuleiro e tudo o que estimula a proatividade, a coragem, imaginar-se numa exploração à selva ou ao espaço, acabam setorizadas como “de menino”. Na visão dela, tudo isso contribui para reforçar uma tendência de predomínio masculino nas mais variadas engenharias, por exemplo.

“O problema é que precisamos que mulheres também sejam estimuladas nessas competências. Desde cedo, sem querer, acabamos estimulando meninos em determinadas competências e meninas em outras. A grande verdade é que precisamos estimular todo mundo em tudo. Precisamos de mulheres adultas que tenham raciocínio lógico, pensamento abstrato e proatividade e também de homens adultos que saibam trocar a fralda do seu filho”, avalia.

Prêmio Sebrae Mulher de Negócios

O Prêmio Sebrae Mulher de Negócios visa estimular outras mulheres ao jogar luz sobre as histórias de mulheres empreendedoras. As inscrições são gratuitas e vão até o dia 31 de julho e devem ser feitas no site do Sebrae.

Na inscrição, a candidata preenche uma ficha e deve encaminhar um vídeo de até dois minutos contando sua história de empreendedorismo. “Conte sua história, porque essa história vai inspirar muitas outras mulheres”, afirma.

Além de coordenar nacionalmente o Sebrae Delas, Renata Malheiros Henriques é co-fundadora da Alumna Mentoria. É também mestre em Desenvolvimento Internacional pela Universidade de Cambridge, Reino Unido e membro da rede de mulheres e liderança da Universidade de Columbia, EUA. Foi laureada com prêmio Mulheres Empreendedoras 2021, pelo Congresso Nacional e Prêmio Mulheres Brasileiras que fazem a diferença 2022, pela embaixada dos Estados Unidos no Brasil.

Ponto de Vista

Apresentado por João Barbiero, o programa Ponto de Vista vai ao ar semanalmente, aos sábados, das 7h às 8h, pela Rede T de Rádios do Paraná.

A Rádio T pode ser ouvida em todo o território nacional através do site ou nas regiões abaixo através das respectivas frequências FM: T Curitiba 104,9MHz;  T Maringá 93,9MHz; T Ponta Grossa  99,9MHz; T Cascavel 93,1MHz; T Foz do Iguaçu 88,1MHz; T Guarapuava 100,9MHz; T Campo Mourão 98,5MHz; T Paranavaí 99,1MHz; T Telêmaco Borba 104,7MHz; T Irati 107,9MHz; T Jacarezinho 96,5MHz; T Imbituva 95,3MHz; T Ubiratã 88,9MHz; T Andirá 97,5MHz; T Santo Antônio do Sudoeste 91.5MHz; T Wenceslau Braz 95,7MHz; T Capanema 90,1MHz; T Faxinal 107,7MHz; T Cantagalo 88,9MHz; T Mamborê 107,5MHz; T Paranacity 88,3MHz; T Brasilândia do Sul 105,3MHz; T Ibaiti 91,1MHz; T Palotina 97,7MHz; T Dois Vizinhos 89,3MHz e também na T Londrina 97,7MHz.