Domingo, 06 de Julho de 2025

“Nós temos fácil acesso a alimentos processados e ultraprocessados, então estamos acompanhando isso no reflexo da má saúde das crianças”, explica Adriane Colaça

2023-10-13 às 14:56

A nutricionista, Adriane Colaça, comentou sobre como está a alimentação das crianças nos dias de hoje, em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,3 para Ponta Grossa e região e 92,9 para Telêmaco Borba), nesta sexta-feira (13).

Como está a alimentação das crianças em 2023?

A especialista pondera que a rotina imposta às crianças, atualmente, auxilia na má alimentação delas. “Elas estão cada vez mais se alimentando de uma forma pior, devido ao acesso à alimentação ter sofrido algumas mudanças. Nós temos um acesso fácil a alimentos processados e ultraprocessados, então estamos acompanhando isso no reflexo da má saúde das crianças”, explica.

Ela comenta que atualmente existem muitas crianças com sobrepeso, problemas alérgicos e respiratórios. “Isso acontece devido a esse excesso de consumo de alergênicos, que podemos definir até mesmo como xenobióticos. Temos crianças inativas fisicamente pelo excesso de tempo de tela em frente à televisão, celular e afins, porque os pais também têm os seus compromissos de trabalho e isso acaba dificultando-os de impor a essas crianças algum ritmo de atividade”, ressalta.

Outro aspecto que a nutricionista aponta como um dos principais é que a modificação da estrutura alimentar da família está refletindo na saúde das crianças. “Então quando analisamos a condição alimentar dessa criança percebemos que o problema não está na alimentação da criança em si, mas no contexto em que ela está inserida”, afirma. “Não é a criança que faz as compras no mercado nem escolhe o restaurante e a comida que vai pedir, mas sempre o pai e a mãe que fazem essas escolhas. Então a estrutura alimentar das famílias sofreu algumas modificações muito sérias nessas últimas décadas e isso está trazendo um grande impacto na saúde dessas crianças”, acrescenta.

Quantidade de alimento

Adriane pontua que muitas vezes as pessoas ainda estão presas àquela ideia antiga de que se alimentar bem está relacionado com a quantidade de comida que você come. “A estrutura da nossa vida se modificou e nós gastamos menos energia que precisamos, porém continuamos tendo aquela ingestão alimentar lá do passado de quando dependíamos de uma ingestão calórica maior para dar conta de nossas atividades”, assegura.

Ela aponta que foi realizada uma correção pela Universidade de São Paulo (USP), no Brasil, em que as fórmulas de cálculo energético de hoje precisam ser ajustadas para uma redução entre 17 e 18% do linear metabólico. “Então, em média, as pessoas estão consumindo diariamente entre 17 e 20% a mais de calorias do que deveriam. Isso é uma média, então alguns indivíduos estão consumindo muito mais”, destaca. “Antigamente essas crianças brincavam mais na rua, andavam de bicicleta, jogavam futebol e estavam sempre incluídas com outros amigos se divertindo e gastando energia. Esse aspecto de vida não existe mais, então essa criança hoje passa o dia inteiro na frente da tela ou fica na escola em tempo integral”, complementa.

Devido a essa rotina, a especialista explica que o quadro de ansiedade aumentou muito sobre essas crianças. “A presença da ansiedade é um fator que aumenta a ingestão calórica, porque o alimento gera prazer e tem esse estímulo dopaminérgico que precisamos tomar cuidado”, pondera.

‘É necessário voltar ao passado’

Adriane aponta que para voltar a se ter uma alimentação saudável ‘é necessário voltar ao passado’ e também esquecer esses produtos ultraprocessados, que são de muito fácil acesso atualmente. “Substitua esses alimentos ultraprocessados pelos alimentos artesanais e naturais, que são aquilo que a natureza nos fornece. Então se você foi ao mercado, comprou um pacote de bolacha, leu a composição desses ingredientes e não sabe o que aquilo quer dizer, é um sinal de que esse alimento não é para a sua família”, alerta.

Outro hábito antigo que deve ser superado, segundo a nutricionista, é o de obrigar que a criança coma toda a comida que está no prato. “Você precisa criar um ambiente alimentar calmo para que a criança se autoconheça e conheça o seu linear alimentar. Isso não significa que se você comer pouco em determinada refeição vai fazer com que você não atenda a sua demanda energética no dia, porque nós temos acesso à comida durante o dia inteiro. Então você conhecer o seu padrão de saciedade é um fator muito importante”, finaliza.

Serviço

A nutricionista Adriane Colaça atende na Clínica Zênite, na rua Professor Ivon Zardo, 251, Jardim América. O telefone para contato é: (42) 9 8866-4306. Instagram: @adricolacanutri.

Confira a entrevista completa: