Itaipu, Embrapa e parceiros desenvolveram um módulo de proteção para as caixas de abelhas sem ferrão, para evitar que as colônias sejam depredadas por outros animais como macacos, quatis, iraras, gambás e lagartos, entre outros. O módulo, em madeira e metal, permite uma melhoria significativa no estabelecimento de meliponários em áreas de floresta e em pontos de demonstração, como, por exemplo, escolas e áreas públicas.
O projeto de pesquisa, desenvolvido entre 2021 e 2023 pela Itaipu, Embrapa e Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) faz parte do convênio do Núcleo de Inteligência Territorial (NIT), da Fundação Parque Tecnológico Itaipu. A iniciativa partiu do empregado de Itaipu Edson Zanlorensi, da Divisão de Áreas Protegidas (MARP.CD). Ao longo do processo, os pesquisadores parceiros contribuíram no acompanhamento e validação da ideia.
Os módulos estão colonizados por abelhas capturadas no campo e pelo manejo das colônias instaladas no Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), que já conta com mais de 50 caixas técnicas, viabilizadas com materiais fornecidos por Itaipu e executados por mão-de-obra terceirizada.
Para Zanlorenzi, “o projeto de pesquisa revelou dados importantes sobre a presença da fauna de abelhas nativas sem ferrão na área do Refúgio Biológico Bela Vista. As abelhas são excelentes bioindicadores da qualidade de um ambiente, e essenciais para a polinização e produção de alimentos”.
Ainda segundo ele, o módulo representa um importante avanço no manejo de colônias instaladas em áreas abertas, podendo ser aplicado em diferentes situações, como introdução de abelhas em áreas degradadas, em projetos de pesquisa, em educação ambiental e na produção de mel, entre outras.
“É muito gratificante para mim, depois de 35 anos de carreira dedicados ao meio ambiente na Itaipu, ter contribuído e desenvolvido algo inovador para a proteção das abelhas nativas, extremamente ameaçadas pelas ações humanas.”
Os desafios agora são manter e ampliar o plantel de colônias de abelhas instaladas no RBV e replicar o projeto de pesquisa nas outras unidades de proteção ambiental da Itaipu, como o Refúgio de Santa Helena e o Refúgio Biológico de Maracaju. A expectativa é de que o RBV venha a se tornar um centro de referência na área de manejo e reprodução de colônias de abelhas nativas, e de capacitação técnica de pessoas da região interessadas na meliponicultura.
Dois modelos
Foram desenvolvidos dois modelos de módulos: um horizontal e um vertical, nas dimensões adequadas para abrigar os padrões de caixas utilizadas no projeto. Espécies como Bugia (Melipona mondury), Canudo (Scaptotrigona depilis), Mandaçaia (Melipona quadrifasciata) e Borá (Tetragona clavipes) já estão abrigadas nos módulos, com bastante sucesso.
As abelhas sem ferrão são importantes aliadas na agricultura e na manutenção de florestas, pois atuam na polinização de diversas espécies de plantas. O mel refinado produzido por elas também é bastante apreciado. Atualmente, um dos grandes desafios enfrentados pelos criadores é exatamente a predação por animais das caixas que contêm as colmeias.
Inovação
A inovação criada por Itaipu e parceiros foi publicada no Comunicado Técnico 489, da Embrapa Florestas (Colombro/PR), em agosto de 2023. O projeto foi desenvolvido no Refúgio Biológico Bela Vista ao longo da pesquisa intitulada “Diagnóstico e conservação da fauna de Hymenoptera em áreas naturais da Itaipu Binacional, com ênfase em espécies da tribo Meliponini”.
Além da proteção física, os testes feitos até agora demonstraram que a estrutura oferece melhores condições de temperatura e umidade para as colônias. Em condições extremas de variação térmica e de precipitação, como ocorre em Foz do Iguaçu, essa proteção é muito importante para a sobrevivência das abelhas.
Em função de sua versatilidade e com visual esteticamente agradável, o módulo pode ser aplicado em diferentes projetos, como na reintrodução de espécies de abelhas para enriquecimento, para fins conservacionistas, em experimentos de polinização em áreas de pomares de sementes, na meliponicultora para produção de mel e outros derivados, na pesquisa e também na educação ambiental.
Em qualquer destas condições, é imprescindível garantir a segurança das colônias contra o roubo e ataque de animais. Hoje, o plantel genético de abelhas do RBV conta com mais de 100 colônias de 12 espécies, todas nativas do Paraná.
Boa parte das colônias foi adquirida de meliponicultores da região e outra capturadas no refúgio, e estão alojadas nos módulos de proteção e nas três estruturas isoladas com telas, denominadas de meliponários. A espécie mais comum no RBV e com o maior número de colônias até o momento é a Canudo (Scaptotrigona depilis).
Espécies existentes no RBV em caixas técnicas:
Canudo (Scaptotrigona depilis).
Mandaçaia (Melipona quadrifasciata)
Bugia (Melipona modury)
Borá (Tetragona clavipes)
Jataí (Tetragonisca fiebrigi)
Manduri (Melipona marginata)
Mombucão (Cephalotrigona capitata)
Mirim guaçu (Plebeia romota)
Mirim-droryana (Plebeia droryana)
Lambe-olhos (Leurotrigona muelleri)
Guaraipo (Melipona bicolor schenki)
Mirim-nigriceps (Plebeia nigriceps)
Sobre as abelhas sem ferrão
As abelhas sem ferrão (ASF), popularmente conhecidas como abelhas indígenas ou meliponíneos, pertencem à ordem Hymenoptera, um dos maiores grupos entre os insetos, que abrange também vespas e formigas. Elas exercem uma função ecológica essencial para os ecossistemas e a biodiversidade, que é a polinização das flores, além de contribuir na agricultura, como agente de polinização do café, tomate, manga, coco, morango, pepino, e pimentão, entre outros.
A estimativa é que em florestas tropicais, como a Mata Atlântica, mais de 90% das espécies vegetais são polinizadas diretamente pelas abelhas, o que contribui para perpetuação e manutenção da biodiversidade.
Nos processos de restauração florestal de áreas degradadas, elas desempenham um papel importante na polinização das plantas e produção de sementes de forma quantitativa e qualitativa.
da assessoria