Quinta-feira, 21 de Novembro de 2024

Coluna Draft: ‘É “Mentira” o dia da mentira!’, por Edgar Talevi

2024-04-01 às 10:00
Foto: Getty Images/Reprodução

É “Mentira” o dia da mentira!

“O diabo é o pai da mentira” (João 8:44) – paráfrase deste colunista! Mas sabemos que o caminho é por aí mesmo! Porém, há muitos servos do “capiroto” que justificam o texto bíblico acima. E, olhem, prezados leitores, que não venho falar de política – sarcasmo puro.

Hoje, 1º de Abril, vivemos o dia aclamado por ser da “mentira”, mas que não passa de uma grande inverdade, para não recorrer à constante repetição do vocábulo que nomeia esta “croniqueta”. A razão é simples e tem história. Vamos a ela:

A culpa toda dessa bagunça é uma mudança no calendário cristão – quem diria! -, feita no século XVI. Tudo surgiu na França, no reinado de Carlos 9º (1560-1574). No começo do século XVI, o ano-novo era, costumeiramente, comemorado aos 25 de março, com o início da Primavera.

As festividades, que incluíam trocas de presentes e bailes, duravam cerca de uma semana, com término, geralmente, em 1º de Abril. Porém, em 1562, o Papa Gregório 13 (1502-1585) instituiu um novo calendário ao mundo cristão – o gregoriano -, em que o ano-novo passou a ter início em 1º de Janeiro.

O Rei francês permaneceu seguindo o calendário antigo por pelo menos dois anos e, em 1564, finalmente admitiu a alteração. Muitos franceses, no entanto, mantiveram a antiga data e permaneceram inamovíveis em suas comemorações.

Percebemos, hoje, a repercussão que reverberou entre os “gozadores” de plantão, ao ridicularizarem o apego francês ao calendário “errado” e antigo, sendo, por essa causa, apelidados de “Bobos de Abril”. Aqui está a origem do famoso dia da mentira!

Entretanto, pensemos: seria essa a única mentira a que estamos submetidos neste mundo Homérico? Certamente não! Tentemos buscar algumas curiosidades para, então, dirimirmos algumas dúvidas sobre certas meias verdades que sempre nos contaram e que não são como parecem ser!

Primeira: A palavra “Saudade” é intraduzível! Esse é um grande mito de nosso idioma. Como saudade é um sentimento universal, todo idioma possui termos próprios para expressá-la. Ao menos é o que nos conta o linguista Carlos Faraco, autor de “Linguística Histórica: introdução ao estudo da história das línguas”.

Segunda: O futebol foi inventado na Inglaterra! É notório que os ingleses não inventaram nosso esporte mais popular. A explicação é simples: os britânicos criaram as principais regras conhecidas hoje, mas definir que eles criaram o esporte é impossível à luz da história. Na própria Inglaterra há relatos de jogos entre estudantes no século XVI, mas o primeiro registro de algo parecido com o futebol que praticamos remonta à Antiguidade, na Grécia Antiga, de quase 3 mil anos atrás.

A China, por sua vez, há mais de 2 mil anos, praticava esporte semelhante, chamado de “tsu chu”. Sendo assim, não podemos “cravar” que os ingleses são os detentores da patente do esporte mais popular do mundo.

Terceira: Raios não caem duas vezes no mesmo lugar! Só para servir de exemplo, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, é fustigado, em média, seis vezes ao ano por raios. Isso sem levar em consideração a amplitude cada vez maior de para-raios que atraem descargas elétricas e as conduzem até o chão.

Quarta: O Oiapoque é o extremo norte do Brasil! A 1.465 metros de altitude, no Parque Nacional do Monte Roraima, o Caburaí se reparte ao meio: parte no Brasil, parte em Guiana. Deste modo, o certo a dizer é do Caburaí ao Chuí.

Quinta: A Muralha da China pode ser vista do espaço! Nem a famosa Muralha da China, nem outra coisa parecida. Se alguém olhar a Terra do espaço, nada verá a não ser nuvens, montes de terra e água.

E aí, prezados leitores, qual mentira ainda permanece em nosso imaginário e deveria ser desmantelada?
O Mestre da ficção brasileira, Machado de Assis, dá-nos uma noção do poder de sua/nossa imaginação em seus sempre inspirados versos: “A mentira é, muitas vezes, tão involuntária como a respiração!”

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.