Quarta-feira, 02 de Outubro de 2024

Mente & Corpo D’P: Escoliose – quanto antes tratar, melhor

2024-05-19 às 12:48
Foto: Reprodução

Postura de crianças e adolescentes deve ser observada pelos pais, pois é no estirão de crescimento que esse desvio na coluna costuma ocorrer. Diagnóstico e tratamento precoce evitam que a curva se acentue e surja a necessidade de intervenção cirúrgica

por Edilson Kernicki

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 50 milhões de crianças no mundo têm escoliose, um encurtamento da coluna causado por uma curvatura lateral que pode se manifestar desde a infância e costuma ter maior incidência entre as mulheres. Normalmente, a coluna é reta e as vértebras são alinhadas. Nos casos de escoliose, a curva para um dos lados – em forma de “C” ou de “S” – pode afetar o dia a dia e a saúde do paciente. No Brasil, a estimativa é de que 1,6 milhão de pessoas tenham escoliose e que cerca de 160 mil delas (10%) precisem de tratamento cirúrgico.

“A escoliose costuma ser um problema silencioso que não causa dor. Por isso, algumas vezes, desvios são diagnosticados em fases mais avançadas. É importante que pais ou cuidadores observem as crianças de costas sem roupa, à procura de assimetrias do tronco, que podem ser o primeiro sinal clínico. Algumas pessoas apresentam sintomas mais evidentes do que outras, o que depende do tipo de curva e da estrutura corpórea”, afirma o médico ortopedista e traumatologista Marcos Tenório, que atende em Ponta Grossa.

“Os casos mais graves podem levar ao comprometimento da capacidade pulmonar, pela compressão de um dos pulmões, à alteração do funcionamento do sistema digestivo e até a problemas neurológicos, como dores e dormência do corpo, caso a escoliose afete a medula”, alerta.

Padrões de acometimento

O médico ortopedista pediátrico Eduardo Mattos, que também atende na cidade, explica que a escoliose tem dois padrões de acometimento: a infantil, mais precoce, a partir dos três anos de idade, e a juvenil, que se inicia na pré-puberdade. “Assim que identificadas, as escolioses devem ser acompanhadas periodicamente, conforme o grau. Atividades físicas podem auxiliar no controle, mas, por ser uma patologia de base genética, o padrão evolutivo é incerto e variável”, explica.

Tenório observa que uma escoliose leve se define por uma curva entre 10 e 20 graus. Em casos moderados, a curva mede entre 20 e 40 graus. Nos severos, mais de 40. De acordo com Mattos, curvas acima de 20 graus recebem o mesmo tratamento. Porém, além dele, adota-se o uso de coletes, que variam conforme o padrão das curvas. “Curvas que atingem 40 graus ou que, mesmo com colete, aumentam um grau ao mês por mais de quatro meses, são de indicação cirúrgica”, relata.

Diagnóstico

Os especialistas concordam que, quanto antes tratar, melhor para o paciente. Segundo Mattos, o melhor momento para iniciar o tratamento é “assim que identificado o desvio”. Tenório frisa que, quanto mais cedo ocorrer o diagnóstico, melhores serão os resultados. “O tratamento é feito de acordo com os tipos de escoliose e gravidade das curvas. Na maioria dos casos, os desvios são leves, não causam dor ou demais prejuízos à saúde e não exigem tratamento específico. Deve ser monitorada em crianças e adolescentes durante a fase de estirão do crescimento, período em que há maior probabilidade de progressão das curvas”, afirma.

Mattos destaca que, em grande parte dos casos, o tratamento precoce pode evitar a necessidade de cirurgia. “Um estudo conduzido nos Estados Unidos e Canadá aponta que o diagnóstico precoce, aliado ao tratamento adequado, evitou a necessidade de cirurgia em 70% dos pacientes”, acrescenta Tenório. A escoliose idiopática, segundo ele, é a forma mais comum entre crianças e adolescentes, e se caracteriza por uma coluna sem problemas no nascimento, mas que se deforma no decorrer dos anos.

Tratamento e cirurgia

O método de tratamento depende de fatores como o momento do diagnóstico, a faixa etária e as perspectivas de crescimento. Curvas de baixo grau – até 20 graus, mas com potencial de crescimento – devem ser acompanhadas clínica e radiologicamente, em média, a cada quatro meses. “Se as curvas passam dos 20 graus, deve ser instituído tratamento com coletes tutores, que variam para cada caso. Se as curvas ultrapassam 40 graus, são de tratamento cirúrgico”, ressalta Mattos.

O uso de coletes é indicado para crianças e adolescentes em fase de crescimento, com cursas entre 20 e 45 graus. “Atualmente, há a recomendação do uso dos coletes por, ao menos, 18 horas por dia. Os coletes modernos são mais leves e discretos, facilitando o seu uso”, descreve Tenório. Já os exercícios fisioterápicos podem ser associados. “O objetivo do tratamento é estabilizar as curvas para que não ocorra piora da deformidade. Em algumas situações, pode ocorrer discreta melhora da curva”, conclui.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #300