Por Fernando Saraiva | Foto: Reprodução
A escolha de um filme que demandou tanto investimento de pessoas, tempo e dinheiro para ser consagrado pela maior comenda do cinema mundial demonstra que o mesmo título pode refletir tanto o inútil como o magnífico.
Segundo a crítica especializada, Bong Joon-ho “escreve diálogos com sarcasmo como uma forma de se vacinar contra as armadilhas dos filmes que se julgam, pelo engenho, mais inteligentes que os seus espectadores”.
Parasita envolve o espectador numa troca que é vertical, porém cheia de fair play. As viradas da trama não são antecipadas por pistas falsas ou previsíveis, e o elogio do engenho da contação não vem acompanhado de um pedantismo de “dono da narrativa”.
A opção pelo serviço público é a escolha por um caminho de muito estudo, horas e horas, dias e dias, e até meses e meses, pois a concorrência para a conquista de uma vaga é muito diferente da escolha para um cargo em comissão, muitas vezes idealizada para ostentar poder e capacidade não comprovadas tanto por quem indica como pelo indicado.
Quantos exemplos podemos citar, como aquele ministro que chamou cachorro de ser humano, ou aquele que chamou aposentados de vagabundos, ecoando um jargão presidencial, e tantos outros que colaboraram para tantas manchetes jornalísticas como exemplo do pior na vida pública.
Quantos e quantos servidores públicos, que ostentam o orgulho de servir à pátria, com a busca do melhor para a coisa pública, depositam no serviço público a maior parte de seu tempo de existência, sofrem com as constantes contenções de despesas e de pessoas, face à malversação dos recursos por aqueles que ingressam no serviço público com a arrogância de serem os mais competentes e capacitados, mas, após breve teste, deixam uma história de lástima e prejuízo a esta nação tão maltratada.
A contenção de despesas que leva a Previdência a apelar para as Forças Armadas, na busca de um atendimento que é divulgado como ineficiente em face de seus servidores, mas nunca por causa das péssimas administrações de outrora, que deixaram esvaziar o já combalido time a um número totalmente insuficiente.
Como alguém pode se julgar capaz de comandar um elenco se chama os seus membros de “parasitas”, no seu pior significado?
Ministro Guedes, que técnica é essa de justificar o injustificável apontando para os seus comandados e os chamando de parasitas?
O senhor pode ser um especialista em Economia, mas demonstra toda a sua soberba e incapacidade de comandar uma mudança importante e fundamental advinda de reformas administrativas, políticas e tributárias, ao, sem ter o mínimo de filtro em seus discursos, jogar uma nação contra todos os servidores públicos.
E não venha alegar que a sua frase foi retirada equivocadamente do contexto, pois servidores públicos são testados e aprovados a, no mínimo, interpretarem as várias facetas de textos normativos ou discursivos.
Há servidores públicos, assim como empregados da iniciativa privada, que são parasitas, mas certamente numa infinita minoria, e não generalizados como o magnífico ministro fez crer no que tange ao serviço público.
O número de servidores no Brasil, quando comparado a outros países desenvolvidos, é muito pequeno. Segundo a OECD, no Brasil, temos 1,6% da população como servidores públicos, enquanto a Coréia tem 7,6%, a Alemanha tem 10,6%, a Turquia tem 12,4%, a Itália tem 13,6 %, os Estados Unidos têm 15,3%, a França tem 21,4%, e a Noruega tem 30%.
Chamar de parasitas servidores que trabalham com um time tão reduzido e com a falta de uma estrutura física, muitas vezes, deplorável é proceder, no mínimo, ao erguimento de uma bandeira rota pela praga da ignorância e arrogância.
Parasita no Oscar foi o melhor filme do ano; foi exaltado por sua qualidade, não por seus poucos defeitos.
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