Segunda-feira, 25 de Novembro de 2024

Ponto de Vista: “Para que o envelhecimento seja sinônimo de qualidade de vida, dignidade e respeito, precisamos de programas e de políticas públicas”, destaca secretária Leandre Dal Ponte

2024-10-26 às 16:55

Com exclusividade ao Ponto de Vista, programa apresentado por João Barbiero na Rede T de rádios do Paraná, na manhã deste sábado (26), a secretária de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, Leandre Dal Ponte aponta o dado de que mais de 71% dos casos de violência denunciados ao Disque-Idoso (0800 141 00 01) são cometidos por familiares. Esse é um dos motivos que levou o Paraná a ser o primeiro estado a integrar a Aliança Global para os Cuidados: a população tem vivido mais tempo, mas precisa de mais qualidade de vida e dignidade na velhice.

Leandre ressalta que o Censo IBGE 2022 traz dados importantes que guiam as ações da pasta que ela comanda: o número de pessoas com mais de 60 anos no Paraná aumentou em 61,67% em 12 anos. Em 2010, eram 1.170.000 idosos com mais de 60 anos no Estado. Doze anos depois, esse número chegou a quase 2 milhões. A população paranaense está envelhecendo e a longevidade é cada vez maior: em 2010, eram 145 mil paranaenses com mais de 80 anos. O último Censo, de 2022, indicava mais de 250 mil – número que já cresceu desde então – o que representa um aumento de 71%.

“Estamos muito acima da média nacional. Essa nova realidade, que é tão sonhada, a longevidade, é a maior conquista da humanidade, viver mais tempo, ter mais anos de vida. Sabemos que a média de vida, no passado, era em torno de 60, 60 e poucos anos, por isso que quem tem mais de 60 anos e tem o nome de aposentado é porque já era uma pessoa quase sem capacidade para qualquer atividade diária. Vem mudando essa realidade. Hoje, [a expectativa de vida] já passa de 80 [anos]: 82 para mulheres e 79 para homens”, afirma.

Com o aumento da longevidade, cabe se questionar se o Estado está preparado para cuidar das necessidades dessas pessoas que vivem mais tempo. “Não nos preparamos e chegamos a uma idade avançada, com baixa capacidade funcional. Por outro lado, as famílias, que antigamente eram compostas por muitos filhos, como a minha – minha mãe teve 11 filhos, hoje já tem um número muito reduzido de filhos. Eu, por exemplo, não tenho nenhum e já tenho quase 50 anos de idade e, possivelmente, não tenha. Temos percebido que as famílias não estão preparadas para esse cuidado e, com isso, está acontecendo muito conflito e muitos casos de violência contra as pessoas idosas“, diz.

A secretária observa que, nesses casos, a primeira alternativa que tanto o setor público quanto o sistema judiciário e as próprias famílias planejam é abrigar essas pessoas nas instituições de longa permanência de idosos (ILPIs) – antigamente chamados de “asilos”. “Essa tem que ser a última alternativa. Para que possamos fazer com que essa nova realidade do envelhecimento seja sinônimo de qualidade de vida, de dignidade e de respeito, precisamos de programas, de políticas públicas que realmente possam promover tudo isso para as pessoas idosas. Preparar as pessoas, ao longo da vida, para envelhecer com qualidade de vida, de forma ativa e saudável, mas também àquelas que, infelizmente, não tiverem acesso a essa oportunidade, possamos promover o cuidado, para que ela possa envelhecer com dignidade”, argumenta.

Leandre salienta que, nem sempre, colocar o familiar idoso na instituição de longa permanência é sinônimo de abandono ou negligência. A secretária pondera que há muitas famílias que, apesar de não querer colocar o idoso num asilo, não veem outra forma de amparo ou apoio para poder cuidar dele, porque essa família precisa que todos os membros em idade economicamente ativa estejam no mercado de trabalho.

Paraná Amigo da Pessoa Idosa

O Paraná é o primeiro Estado brasileiro a aderir à Rede Global de Cuidado e, na visão dela, o Brasil, como nação, demorou a tomar essa iniciativa. “Aqui no Paraná temos um compromisso e o governador do Estado quer que o Paraná seja ‘Amigo da Pessoa Idosa’, porque também o Paraná é o estado que mais tem cidades reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde como cidade amiga da pessoa idosa”, diz. O governador Ratinho Junior encaminhou à Assembleia Legislativa o projeto de lei que propõe instituir o programa Paraná Amigo da Pessoa Idosa. A iniciativa do governo prevê uma série de ações que asseguram os direitos e o bem-estar da população com 60 anos ou mais no Estado. A proposta será votada em primeira discussão segunda-feira (28), na sessão plenária.

A perspectiva do cuidado com o idoso e com as pessoas se encaminham para a terceira idade, segundo Leandre, é a de preservar, pelo maior tempo possível a autonomia e independência de cada indivíduo. “Quanto mais autônoma a pessoa for, menos ela vai depender de terceiros e, dificilmente, vai ser institucionalizada. Você também evita a institucionalização quando você promove ações, programas e projetos que preservem a qualidade de vida da pessoa, no sentido da sua autonomia e da sua independência. Mas também precisamos fortalecer as famílias, apoiar a família, valorizando aqueles que cuidam, porque hoje não temos nem equipamento público o suficiente, como um Centro-Dia, Centro de Convivência e lugares de fortalecimento de vínculos, em que a pessoa possa passar o dia”, afirma.

Em Irati, no Centro-Sul do Paraná, o Governo construiu o primeiro Complexo Social Cidade do Idoso, junto ao CT Willy Laars.  Pioneiro no Estado, o projeto foi inaugurado em abril de 2024. Com área de 3.847,85m² e investimento de R$ 8,2 milhões. O complexo conta com piscina, cancha de bocha, salas de pilates e de ginástica, com vestiários feminino e masculino, consultório médico e odontológico, banheiros adaptados, sala de reuniões, biblioteca, salas multiuso, salão para artesanato, jogos e refeições, capela e outras estruturas. Irati é a cidade-polo da Associação dos Municípios do Centro-Sul do Paraná (Amcespar) e a Cidade do Idoso deve acolher, além dos iratienses, os idosos de toda aquela região, em atividades para promover o bem-estar e a socialização dessa parcela da população.

Segundo Leandre, o principal objetivo desse espaço é contribuir para preservar as capacidades funcionais do idoso, a partir da realização dessas atividades e da socialização, o que reduz o risco de questões degenerativas acentuadas pela velhice, como a demência. Manter o idoso ativo, em convívio social com outras pessoas da mesma idade e com interesses em comum ajuda também a evitar o sofrimento trazido pelo isolamento. “É por isso que as famílias, muitas vezes, não veem alternativa a não ser institucionalizar essas pessoas. Quando fortalecemos a família, criamos condições para que ela tenha apoio, seja através de um equipamento público, mas também uma inovação que trazemos hoje, uma proposta que mandamos para a Assembleia Legislativa há 10 dias e que, na próxima semana, será votada e acredito que vai ser aprovada, é a questão de valorizar aquele familiar que já saiu do mercado de trabalho para cuidar dos seus, mas hoje não é nem reconhecido nem valorizado”, diz.

O Programa “Paraná Amigo da Pessoa Idosa”, que será discutido pelos deputados estaduais a partir de segunda (28), visa criar uma rede de atenção à pessoa idosa, que estará presente nos municípios. Primeiro, será mapeado tudo o que os municípios já oferecem a essa parcela da população e o que falta neles, para o Governo poder fazer investimento financeiro para que os municípios possam construir esses espaços e, depois, o Estado possa ajudar os municípios a mantê-los. A secretária observa que o programa objetiva oferecer ao idoso atividades físicas, cognitivas, acompanhamento nutricional e tudo o que for necessário para manter suas capacidades funcionais, indo além da mera realização de bailes semanais para o convívio social dos idosos, como tem ocorrido já há algumas décadas.

Na valorização da família, o projeto também prevê a criação de um programa chamado Bolsa Cuidador Familiar, que vai assegurar transferência de renda para o cuidador familiar que dedica sua vida para cuidar de uma pessoa idosa e não tem uma remuneração. Para isso, está sendo desenvolvido um cadastro estadual, em parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e o governo japonês, que estão financiando, a fundo perdido, as plataformas. Nelas, poderão ser cadastradas as pessoas que hoje atuam na área do cuidado, sejam profissionais ou informais (cuidadores familiares). O cadastro vai permitir analisar quais são as pessoas elegíveis, em termos de renda, para que o Estado possa promover a Bolsa Cuidador. “Se eu passo uma bolsa para a família ajudar no cuidado, seguramente, é muito melhor, tanto para o Estado quanto para a família, do que a institucionalização”, avalia.

O valor das primeiras bolsas, depois do cadastro, será definido de acordo com o grau de vulnerabilidade da família. “As famílias que têm menos condições financeiras serão as primeiras a ter acesso a esse tipo de benefício”, diz. O programa terá como parceiros, nos municípios, os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), de forma similar ao que já ocorre com o CadÚnico e os programas de transferência de renda. O valor da Bolsa Cuidador será definido somente quando o programa for regulamentado, mas Leandre estima que seja algo entre R$ 700 e R$ 1 mil, inicialmente.

Agentes do Saber

Outro programa de transferência de renda a ser criado e implantado no Estado, conforme Leandre, é a dos Agentes do Saber. O programa deve atender a pessoas com mais de 60 anos, que já saíram do mercado de trabalho mas que ainda estão em condições e querem trabalhar, para se manter de forma ativa. “Não é uma mão de obra para fazer o serviço operacional do Estado, mas vamos contratar pessoas com mais de 60 anos para dividir com os servidores e com o público que procura os serviços do Estado seus conhecimentos, suas habilidades, seus saberes. Por isso que vai ser chamado de Agentes do Saber. A pessoa idosa vai poder prestar um serviço social para o Estado, disponibilizando seu capital social, algumas horas durante o dia, porque não vai ter uma jornada de oito horas. Vai ter uma transferência de renda, que não vai ser o salário do Estado, vai ser trabalhado isso depois, na regulamentação”, conta.

Confira a entrevista na íntegra

Ponto de Vista 

Apresentado por João Barbiero, o programa Ponto de Vista vai ao ar semanalmente, aos sábados, das 7h às 8h, pela Rede T de Rádios do Paraná.

A Rádio T pode ser ouvida em todo o território nacional através do site ou nas regiões abaixo através das respectivas frequências FM: T Curitiba 104,9MHz;  T Maringá 93,9MHz; T Ponta Grossa  99,9MHz; T Cascavel 93,1MHz; T Foz do Iguaçu 88,1MHz; T Guarapuava 100,9MHz; T Campo Mourão 98,5MHz; T Paranavaí 99,1MHz; T Telêmaco Borba 104,7MHz; T Irati 107,9MHz; T Jacarezinho 96,5MHz; T Imbituva 95,3MHz; T Ubiratã 88,9MHz; T Andirá 97,5MHz; T Santo Antônio do Sudoeste 91.5MHz; T Wenceslau Braz 95,7MHz; T Capanema 90,1MHz; T Faxinal 107,7MHz; T Cantagalo 88,9MHz; T Mamborê 107,5MHz; T Paranacity 88,3MHz; T Brasilândia do Sul 105,3MHz; T Ibaiti 91,1MHz; T Palotina 97,7MHz; T Dois Vizinhos 89,3MHz e também na T Londrina 97,7MHz.