Dobrando a aposta do mercado financeiro na manutenção de juros na estratosfera e por cortes de gastos em áreas sociais, a mídia corporativa voltou a investir no terrorismo fiscal para enquadrar o governo Lula na agenda neoliberal da Faria Lima. Nesta segunda-feira (4), jornalões repercutiram o último Boletim Focus, cujas profecias autorrealizáveis de aumento dos juros foram, mais uma vez, colocadas sob suspeita. De acordo com o documento, o mercado aumentou a estimativa de inflação para 4,59%, ao mesmo tempo em que aponta para uma alta de meio ponto percentual na taxa de juros, de 10,75% para 11,25%.
Nesta terça (5) e quarta-feira (6), o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne mais uma vez para definir o novo percentual da Selic. Segundo a Folha de S. Paulo, a “piora” no cenário econômico explicaria as novas elevações da Selic. O jornal deixou de explicar, contudo, que a elevação do dólar, que ajuda a pressionar a inflação, ocorre por manobras especulativas do mercado, respaldadas pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, atualmente o maior porta-voz dos interesses do capital financeiro.
Na sexta-feira (1), o ataque especulativo elevou o dólar a R$ 5,87 por causa de uma injustificada “inquietação” do mercado sobre uma “demora” do governo em anunciar medidas de contenção de despesas. Apesar do terrorismo fiscal, a inflação segue controlada, assim como o orçamento do governo, que nunca abandonou a responsabilidade fiscal, muito menos os investimentos necessários ao bem-estar da população brasileira como quer a mídia corporativa e a Faria Lima.
Para a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, “o único descontrole na economia não é nos gastos do governo, mas nos juros estratosféricos que fazem crescer a dívida pública e já provocam recorde de recuperações judiciais das empresas, apesar do crescimento da economia”.
‘Chantagem do mercado financeiro’
“É uma chantagem aberta dos mercados financeiros, que cria expectativas falsas e irrealizáveis, manipulando o câmbio, a bolsa e as decisões do BC. Apostam contra o país e os ‘analistas’ na mídia ainda lhes dão razão”, denunciou a petista, pela rede social X.
“As conversas da mídia e seus economistas para cortar o orçamento público só recaem em cima daquilo que atinge o povo trabalhador e os pobres: pisos de saúde e educação, reajuste do salário mínimo, seguro desemprego, abono salarial, BPC… Nada se fala dos juros estratosféricos, que vem aumentando a dívida, do sistema tributário injusto e concentrador de renda, das desonerações bilionárias”, criticou a petista, em outra postagem.
Juros asfixiam capacidade de investimento do governo
No mês passado, o Tesouro Nacional divulgou dados que demonstram como os juros elevados estão afetando drasticamente as contas públicas e a capacidade de investimento do governo federal. Com a Selic em 10,75% ao ano, o governo enfrenta uma pressão crescente sobre o próprio endividamento.
O processo conhecido como “apropriação de juros” é um fator crucial para entender o cenário. Por meio desse mecanismo, o governo reconhece mensalmente a correção dos juros que incidem sobre os títulos da dívida pública, incorporando esse valor ao estoque da dívida. Com a Selic nas alturas, essa apropriação de juros exerce uma pressão crescente sobre o endividamento do governo.
Em agosto, o Tesouro emitiu R$ 107,55 bilhões em títulos da Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi). Desse total, R$ 59,74 bilhões foram destinados a atender à demanda por títulos corrigidos pela Taxa Selic. Essa emissão teve como objetivo compensar parcialmente os altos vencimentos de títulos prefixados que ocorrem no primeiro mês de cada trimestre.
O mês de agosto foi particularmente desafiador para as contas públicas. Venceram R$ 267,63 bilhões em papéis prefixados (com juros definidos no momento da emissão). Como resultado, os resgates totalizaram R$ 270,72 bilhões, um valor muito superior aos R$ 131,94 bilhões registrados em julho. Traduzindo: à medida que mais recursos são alocados para o pagamento de juros e dívidas, menos fica disponível para investimentos em setores como infraestrutura, saúde e educação.
Enquanto isso, a sociedade aguarda explicações sobre o escândalo que ronda o Boletim Focus. No mês passado, repetindo denúncia de junho, o gestor da Skopos Investimentos, Pedro Cerize, revelou que gestores de fundos e economistas integrantes do boletim combinam resultados entre eles para influenciar as decisões do Copom.
Em junho, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) já havia entrado com representação para que seja apurada a influência de bancos e de instituições financeiras sobre a política monetária.
da assessoria