Quinta-feira, 05 de Dezembro de 2024

Mestrado Profissional em Educação Inclusiva celebra sucesso de inscrições

2024-12-03 às 10:33
Foto: Jéssica Natal

Trezentos. Esta é média de inscritos que o Mestrado Profissional em Educação Inclusiva (Profei) registrou apenas na Universidade Estadual de Ponta Grossa, em 2024. Coordenado em rede por instituições de ensino superior brasileiras, o Programa celebra recorde de inscrições desde a sua primeira turma, há quatro anos. Nesta edição, foram 570 vagas oferecidas no Brasil – destas, 36 estão na UEPG. No Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, a instituição celebra o Mestrado que tem o foco na educação inclusiva e especial.

Iniciado em 2020, o Profei é um curso de ensino híbrido com oferta simultânea nacional, formado por uma Rede Nacional de 21 Instituições de Ensino Superior. O objetivo é formar profissionais que busquem uma sociedade inclusiva. O formato de aulas é considerado único. Cada IES leciona disciplinas obrigatórias aos seus alunos matriculados, em momentos síncronos e presenciais. Já as eletivas ficam a critério do aluno escolher quais deseja fazer, dentro da sua de linha pesquisa, em qualquer instituição vinculada à Rede.

“Temos uma demanda alta de procura, porque o Profei é voltado a formados em qualquer licenciatura, trabalhando na perspectiva da educação inclusiva. Por ser profissional, o professor pode desenvolver projetos de pesquisa e um recurso educacional, que poderá ser aplicado na sala de aula”, destaca a professora Elenice Foltran, coordenadora do Profei na UEPG.

O Brasil registrou aumento expressivo de matrículas de pessoas com deficiência na Educação Básica e Superior. O Censo Escolar divulgou dados de 2023, em que mostra que das 1.771.430 matrículas na educação especial computadas, a maior concentração está no ensino fundamental, com 62,90%. Pela crescente demanda de profissionais qualificados, o Profei chegou na hora certa. “A educação especial e inclusiva não tinha recebido a atenção que merecia, então percebemos que agora há um esforço para que o trabalho seja reconhecido, até porque esses alunos estão chegando até ao ensino superior, então não tem como fecharmos os olhos pra esta realidade”.

Lucia Mara de Lima Padilha, professora do Profei na UEPG, ressalta que a educação inclusiva vai para além da educação especial. “Ela faz parte da educação inclusiva, mas pesquisas apontam que é algo muito amplo e abrange a educação de campo, quilombola, ensino de jovens e adultos e prisional, então podemos ver a educação inclusiva em várias frentes”.

Experiência de alunas

Joelma Aparecida Krepel é uma das alunas que mostra a multiplicidade da educação inclusiva. Professora em uma escola rural de Itaiacoca, ela destaca a relevância do Profei na sua atuação profissional. “Antes eu via a educação de campo só no papel, mas agora vejo o quanto nós professores somos responsáveis por colocar as diretrizes em prática”. Uma das interfaces da pesquisa de Joelma busca catalogar como ocorre a educação em escolas rurais na região. “Agora quero contribuir cada vez mais na educação de Ponta Grossa, e isso me dá uma responsabilidade de trabalhar pela inclusão e pelo fortalecimento dessa frente”.

“O Mestrado Profissional em Educação Inclusiva é um incentivador de novas práticas dentro de sala de aula, pois mostra para nós que o aluno é para além de um laudo ou uma condição”, conta a mestranda Marilene Luckof. No seu projeto de pesquisa, ela busca analisar habilidades de leitura em estudantes com deficiência intelectual. “Durante meus estudos, eu abri meus olhos para muitas coisas que passam despercebidas no ambiente escolar. Vejo que muitos educadores têm uma visão equivocada desses alunos, então é algo que agora posso contribuir para que seja melhorado”, salienta.

Características Inovadoras

Durante as aulas, os alunos aprendem sobre Educação Inclusiva com uma perspectiva multidisciplinar. Os professores vêm da área da educação, saúde e também informática. “Nossos egressos já desenvolveram recursos educacionais valiosos, como e-books e sofwtares, que estão disponíveis para uso em ambientes educacionais”, adiciona a professora Elenice. Além da diversidade de professores, os alunos também vêm de todo o canto do Brasil. “Nossas turmas são muito diversas, temos alunos do Ceará, Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba, cada um com suas experiências, que escolheram a UEPG, dentre tantas instituições dentro do Profei, então estamos levando o nome da Universidade para o Brasil todo”, completa.

Conheça mais sobre o Profei no site, aqui.

E por falar em inclusão…

No dia 26 de setembro é comemorado o Dia Nacional dos Surdos. Em alusão à data comemorativa, a UEPG realizou o 2º Seminário Surdidade, no Grande Auditório do campus Centro. O evento foi organizado pela professora do curso de Letras, Rubia Silva Blum. A programação incluiu palestras e apresentações de trabalhos que contribuíram para movimentar a discussão sobre o tema.

Miguel Sanches Neto, reitor da UEPG, esteve presente no evento. Para ele, o seminário foi de extrema importância não somente para o curso de Letras-Libras, mas para toda a Universidade, “principalmente para a nossa gestão que busca ser mais inclusiva possível”. Miguel afirma que “a compreensão dos graus e diferenças da surdidade é uma necessidade não apenas para o exercício didático, mas uma necessidade administrativa. Que todos sejamos cada vez mais inclusivos”.

Para a professora Rubia, este foi um momento para garantir a visibilidade da pessoa surda. Cristiane Ribeiro da Rocha, tradutora e intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Língua Portuguesa (Tilsp), esteve presente na primeira edição do Seminário, realizada no ano de 2023, e foi uma das intérpretes da edição de 2024. Ela declara que na nova edição, o foco foi maior na questão do protagonismo surdo. “Creio que foi bem relevante para todos os que estiveram presentes saberem que temos surdos pesquisadores, que estão estudando e buscando conhecimento em diversas áreas, especialmente em relação a tornar conteúdos e conhecimentos acessíveis para surdos”.

Vinicius Heitor Pereira é professor colaborador do curso de Libras da UEPG. Segundo ele, eventos como esse promovem uma integração para a comunidade surda e para os ouvintes “Os surdos não têm que ter a sua pesquisa e cultura paralela à cultura ouvinte, precisam se integrar. É preciso haver uma unidade e não uma separação. Acho muito rica essa troca para os dois grupos”.

Programação

As conversas foram pautadas por discussões amplas sobre acessibilidade, produção de conhecimento científico e empreendedorismo. As palestras com o professor Carlos E. Vilela e Éden Veloso enriqueceram as discussões. Vinicius afirma que assistir ao professor Éden inspira a comunidade surda a buscar seu próprio caminho, “a empreender também, saber que são capazes  de conseguir o que quiserem, que não precisam ficar limitados a uma determinada área ou carreira”.

Já Vilela compartilhou suas experiências como um professor surdocego. Para a palestrante Denielli Kendrick, do CAS de Guarapuava, as demandas da comunidade surda são inúmeras e cada vez mais urgentes. “Onde eu estou atuando no momento, eu vejo como imprescindível: o acesso à Libras às crianças surdas o mais cedo possível Isso tem que ser tratado de forma muito urgente. A gente tem crianças surdas que vão ter acesso à língua de sinais tardiamente”.

Denielli explica que o processo de desenvolvimento dessas crianças surdas que não têm contato com a Libras desde cedo reverbera no processo de escolarização e para toda a sua vida. Assim como crianças ouvintes têm acesso a uma língua desde que nascem, o ideal era que com as crianças surdas isso também acontecesse. “Nós temos visto crianças, adolescentes com 10 e 12 anos sem língua. Dentro da escola, a gente vai ver dificuldades de ensino e aprendizagem pra essas crianças que vão sendo reforçadas com o passar do tempo. A necessidade é pensar em como chegar nessas crianças o mais cedo possível”, ressalta.

Sobre políticas públicas e outras demandas da comunidade surda, os convidados destacam, em unanimidade: a acessibilidade é fundamental para que o direito linguístico do surdo seja garantido e respeitado. Cristiane comenta que “é um processo, e às vezes bem lento e dificultoso”, mas que é necessário insistir para conquistar o espaço que a comunidade merece. Já Denielli sugere que, na área da saúde, além das informações médicas sobre implantes e aparelhos auditivos, as famílias possam ser apresentadas à Libras e aos benefícios da língua de sinais para o desenvolvimento da criança. “Nós precisamos lançar estratégias, oferecer mais formação, ofertar cursos de Libras para a comunidade em geral, para áreas específicas, para a saúde e o comércio, precisamos lançar essas estratégias para que a acessibilidade linguística do surdo seja respeitada, para que o direito linguístico do surdo seja respeitado”, completa.

da UEPG