Às vésperas da reinauguração do Mercado São Brás de Belém (PA), prevista para às 17h desta quarta-feira (18), trabalhadores da obra e comerciantes compartilham a emoção de participar da reforma de uma estrutura que devolve vida e significado a um patrimônio histórico do município. Inaugurado em 1911, durante o Ciclo da Borracha, o mercado sofreu deterioração ao longo do tempo.
A programação inclui projeções mapeadas no prédio e shows. Está prevista a presença de diversas autoridades do governo federal, entre elas, o ministro chefe da Casa Civil da Presidência da República, Rui Costa. O diretor de Coordenação da Itaipu, Carlos Carboni, representará a empresa na solenidade.
A revitalização recebeu um investimento de R$ 125.630.799,66, sendo R$ R$ 89.721.266,09 provenientes do Governo Federal, por meio da Itaipu Binacional, e R$ 35.909.533,57 da Prefeitura de Belém. Foram 18 meses de obras.
O antigo mercado, estrutura principal do “Complexo Gastronômico e Cultural de São Brás”, que inclui a Praça Floriano Peixoto, é a primeira de uma série de entregas estruturais em Belém, a sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em 2025.
O restauro gerou mais de 3 mil empregos diretos e indiretos, conectando histórias como a de Alessandra Santos da Cruz, auxiliar de serviços gerais que encontrou na obra a chance de se reinventar; a do servente de pedreiro Élfson Silva Souza, que conseguiu um emprego formal após anos de desemprego; e a do engenheiro, arquiteto e artesão Fernando Pessoa, homônimo do poeta português, responsável por criações que unem passado e presente.
“Eu trabalhava em área hospitalar e saí para vir para esta obra. Aprendo muito a cada dia. Me sinto muito feliz e orgulhosa de mostrar o meu trabalho”, disse Alessandra, que se destacou pela habilidade em aplicar rejuntes em azulejos centenários. “Passei pela obra na semana passada com minha filha e disse: é aqui que a mamãe trabalha. Ela me disse: que lindo! Para nós, mulheres, é muito gratificante fazer parte disso.”
Fernando Pessoa foi convidado para o restauro com a missão de reproduzir tubulações em curva, indisponíveis atualmente. “Eles precisavam de réplicas, porque já não era possível fazer a mesma fundição”, conta. “Depois não me largaram mais. Recebo neste trabalho muito mais que dinheiro: uma gratificação por fazer parte desta história”, brinca o artesão, que também participou da recomposição dos portões e da limpeza da estátua em homenagem ao ex-governador do Pará, Lauro Sodré.
Uma de suas contribuições mais recentes ao complexo foi a recriação das esculturas das Três Marias, obra do artista Bruno Giorgi (1905-1993) – o mesmo autor da escultura Os Candangos, em Brasília. As peças originais em bronze haviam sido roubadas da Praça Floriano Peixoto, restando apenas uma parte em um museu do Pará. “Primeiro fiz em fibra de vidro para que pudessem ficar expostas. Como deveriam parecer idênticas às originais, optei por traçados leves [em metal] que remetem às peças antigas”, explicou. Agora, as Três Marias voltam a compor o painel da praça.
Sonho realizado
Rosana Araújo Martins, de 63 anos, passou mais da metade da vida no Mercado São Brás. Seu boxe no mercado já tem mais de três décadas. Nesse período, testemunhou de perto os problemas estruturais e acompanhou algumas reformas. Agora, está animada com o maior restauro já realizado na estrutura. Ela é uma das 193 permissionárias do mercado, que foram realocadas durante a obra para um prédio anexo e agora retornarão a um espaço mais confortável e seguro.
“O sonho se realizou. Passei os últimos dias contando os minutos para receber esse presente maravilhoso que é o Mercado São Brás, um patrimônio histórico que pertence aos trabalhadores”, disse Rosana. “A Itaipu foi fundamental para esse momento, na parceria para a reforma e por trazer investimento não só para este marco, mas para Belém e o Brasil”, concluiu.
Em breve, os comerciantes mais experientes terão novos colegas: o mercado foi ampliado para acomodar até 330 permissionários, oferecendo desde alta gastronomia a opções populares.
A estrutura ganhou novos pisos e agora conta com três andares, escadas rolantes, elevadores panorâmicos, varanda e anexos. Um estacionamento subterrâneo foi criado com 200 vagas para carros, 80 para bicicletas e 40 para motos.
O ambiente também terá reforço na segurança: o prédio anexo, que abrigou os comerciantes durante a reforma, será revitalizado para centralizar a administração do complexo. Segundo a Prefeitura, uma empresa terceirizada será contratada para oferecer segurança 24 horas. “Essa obra trará muitos benefícios para a cidade, vai atrair turistas e eu vou sempre mostrar que ajudei a fazer isso aqui”, afirmou o pedreiro Risonaldo Moreira.
Preparação para a COP 30
O investimento federal de R$ 3,7 bilhões, com R$ 1,3 bilhão da Itaipu, faz parte de uma estratégia para transformar Belém em um exemplo de urbanização sustentável, deixando um legado de práticas socioambientais para todo o Brasil. “A forma como a restauração foi conduzida, integrando o comércio existente, os aspectos sociais, econômicos e culturais, mostram como investimentos em infraestrutura podem respeitar a história e a tradição local”, disse o diretor de Coordenação da Itaipu Binacional, Carlos Carboni. “Estamos certos de que a COP 30 deixará legado para o Pará e para o Brasil em vários aspectos: na preservação de patrimônios históricos, na valorização da cultura local, nos bons exemplos de transição energética e de sustentabilidade”, completou.
Desde 2003, a missão da hidrelétrica de Itaipu, instalada na fronteira entre Paraguai e Brasil, foi ampliada para incluir a promoção do desenvolvimento socioambiental nos dois países-sócios da usina. O compromisso levou Itaipu a se tornar referência em ações sustentáveis, reconhecidas pelo prêmio Água para a Vida da ONU, em 2015, e pelo título de Reserva da Biosfera, concedido pela Unesco, em 2019.
No ano passado, a atual gestão da empresa criou o Programa Itaipu Mais que Energia, que ampliou a área de abrangência prioritária para 434 municípios, no Paraná e Sul do Mato Grosso do Sul. Belém entrou no radar de investimentos da Itaipu a partir de um alinhamento com o Governo Federal, por sediar a COP 30 e pela conexão entre a usina e a região amazônica. “Ao colaborar com ações aqui no Norte do País que ajudam a preservar a floresta, estamos cuidando da água que chega até a Bacia do Rio Paraná por meio dos rios voadores. Um estudo de 2010 apontou que 70% da água que compõe a Bacia do Paraná-Prata vêm da Amazônia. Sem essa água não teríamos nossa matéria-prima para gerar tanta energia”, explicou Carboni.
Investimentos em Belém
O investimento do governo federal, por meio da Itaipu Binacional, é de R$ 1,3 bilhão. São várias frentes de atuação que vão de obras de infraestrutura, como a construção do Parque Urbano do Igarapé São Joaquim, à restauração de outros marcos históricos e culturais como o Mercado Ver-o-Peso, a Feira do Açaí, as Docas, o Mercado da Carne e do Peixe. Há ações de saneamento, como a nova rede coletora de esgoto de 18.900 metros do Parque Linear das Docas, estrutura que também recebe recursos da binacional e terá 1,2 km de extensão. Outros projetos incluem a pavimentação de 100 km de vias urbanas e a construção de complexo hoteleiro. No campo da inovação, está prevista a instalação de vias inteligentes, com monitoramento de segurança, gestão de tráfego e totens informativos. Estão sendo implementadas iniciativas como o Centro de Inovação e Bioeconomia, a construção e reforma de barracões para Unidades de Valorização de Resíduos (UVRs), e o desenvolvimento de um protótipo de barco sustentável movido a hidrogênio verde. Em parceria com a Fadesp, Itaipu promove a educação ambiental, com instalação de 32 biodigestores em escolas municipais, fornecimento de equipamentos para catadores e apoio técnico para a operacionalização de UVRs modelo.
da assessoria