Os diagnósticos são dos mais variados. O mais comum é que a esquerda não sabe lidar com as redes sociais. Tudo bem que o público-alvo (neste caso, alvo literalmente da artilharia da direita) é menos cuidadoso com o que distribui, o que faz com que a mensagem, mesmo que não verdadeira, circule muito mais rápido e com maior alcance do que aquelas produzidas pelo campo da esquerda. A imensa maioria dos militantes de esquerda, quando recebe alguma mensagem em seu WhatsApp — e vale até mesmo para uma possível mensagem direta do Lula —, questiona a fonte das informações, debate as letras utilizadas, avalia se o ângulo da foto é o melhor, se a paleta de cores está correta. E, se não for convencido de um todo, jamais dá “encaminhar” para a sua lista de contatos.

Mas não acredito que resida aí o problema de comunicação do governo Lula III. Não está na forma, nem no conteúdo de tudo o que é produzido pelos agentes de comunicação do governo. Está quase tudo certo com o que foi feito nos dois primeiros anos quando se fala de comunicação. Existem ajustes a serem feitos? Não tenho dúvidas. Mas o centro do problema não será enfrentado se todos as falhas “da” comunicação desse período forem corrigidas.

É a política. Sim, penso que o nó maior a ser desatado esteja na política. Na leitura concreta e objetiva de qual e para qual Brasil o governo está trabalhando e falando. Será que os sonhos, os desejos, os amores, o porvir desejado por brasileiros e brasileiras hoje são os mesmos daqueles de 20 anos atrás? Tenho certeza de que não são.

O Brasil mudou. E, apesar do interregno de 6 anos, as mudanças plantadas por Lula e Dilma na vida das pessoas estão presentes. O acesso à universidade se democratizou, o aumento da renda se confirmou, a classe média (mesmo que debatamos esse conceito) se expandiu. Então, é óbvio que hoje temos um Brasil diferente daquele que começou a ser mudado em 2003.

As medidas implantadas pelos governos do PT — e seja você de centro ou de esquerda, é obrigado a concordar — mudaram a cara do país e de sua gente. Foram essas medidas que permitiram que a TEOLO-ria da prosperidade prosperasse de maneira tão significativa. E me desculpe pelo trocadilho. Foi o avanço da qualidade de vida das pessoas, e não a sua pobreza, que serviu de solo fértil. E, claro, as igrejas neopentecostais, que se reproduzem mais do que coelhos, com sua capilaridade souberam perceber muito bem isso.

Penso que, para melhorar a comunicação do governo, um passo importante seja p de ajustar essa leitura sobre o Brasil. Estaria o Sebrae, por exemplo, instrumentalizado para fazer essa disputa de posição e dialogar com essa cultura que tende a se fortalecer entre brasileiros e brasileiras? E o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços? O governo tem os instrumentos para fazer esse debate. E 18 meses é mais do que o necessário para colher os resultados.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político.