Quarta-feira, 12 de Fevereiro de 2025

‘Cafake’ começa a circular no Brasil e preocupa indústria

Produtos alternativos ao café tradicional geram debate sobre qualidade e transparência
2025-02-11 às 16:09

A indústria cafeeira brasileira enfrenta um novo desafio com a disseminação de produtos conhecidos como “cafake”, bebidas com sabor de café que não utilizam os grãos tradicionais em sua composição. Esses produtos, que incluem cascas, folhas e outras partes da planta do café, têm gerado preocupação entre produtores e consumidores, especialmente devido ao aumento nos preços do café tradicional no mercado.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), a prática representa uma tentativa de burlar a legislação e enganar os consumidores. A entidade identificou casos em cidades como Bauru, no interior de São Paulo, onde produtos como o “Oficial do Brasil” são vendidos com embalagens semelhantes às do café puro, mas com preços significativamente mais baixos — cerca de R$ 13,99 por meio quilo, enquanto o café tradicional custa em torno de R$ 30 no varejo.

A alta nos preços do café genuíno, causada por fatores como a queda na produção devido a condições climáticas adversas e o ciclo bienal de baixa produtividade, criou um ambiente propício para a comercialização desses substitutos. A produção brasileira de café em 2025 está estimada em 51,8 milhões de sacas, uma redução de 4,4% em relação ao ano anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Essa escassez tem pressionado os preços no mercado interno e externo.

Impactos na indústria e no consumo

A Abic alerta que o consumo desses produtos alternativos pode prejudicar a percepção dos consumidores sobre o verdadeiro sabor do café brasileiro. “Se não combatemos isso, as pessoas vão começar a beber esses produtos e dizer que não gostam de café”, afirmou Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da entidade. Além disso, há preocupações sobre possíveis riscos à saúde dos consumidores e sobre a falta de regulamentação adequada para esses itens.

A entidade já denunciou o caso ao Ministério da Agricultura e à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), solicitando maior fiscalização sobre esses produtos. Embora algumas empresas afirmem possuir autorização para comercializar bebidas sabor café, especialistas argumentam que a prática pode desvalorizar os esforços do setor cafeeiro em garantir qualidade e pureza.

Desafios para o consumidor

Os consumidores devem estar atentos às informações nas embalagens para evitar confusões entre o café tradicional e os produtos alternativos. A Abic reforça que seu selo de pureza continua sendo uma ferramenta importante para identificar cafés genuínos no mercado. Enquanto isso, especialistas projetam que os preços do café tradicional continuarão altos nos próximos meses, pressionados pela escassez da matéria-prima e pelo aumento da demanda global.