Decretos contra imigrantes, teatralização das deportações, aumento de tarifas, fechamento de agências governamentais e demissão de servidores, expulsão de palestinos da Faixa de Gaza para a construção de um resort de luxo, negociações sobre o fim da guerra na Europa excluindo a Ucrânia e os países europeus, centenas de decretos presidenciais com ordens a serem cumpridas — ou não — por agências e órgãos do governo. Uma verdadeira enxurrada de medidas tem marcado o início do segundo governo Trump. O que estaria por trás de tantas iniciativas?
Alguns analistas apontam que a estratégia de Trump nesses primeiros trinta dias tem seguido a tática do “flooding the zone” — uma avalanche de informações para confundir adversários e a mídia, dificultando a análise do real significado de cada medida e prejudicando a construção de um contraponto crítico. Pode ser que esse seja um dos objetivos por trás de tantas ações e discursos. Mas acredito que há algo além disso em curso.
Diante dos recorrentes recuos — provocados pela Justiça, pela política ou pelo próprio Trump —, tendo a crer que ele está adotando um movimento tático de “teste A/B”. Ele lança suas ideias para medir a recepção junto à sociedade e, a partir disso, calibra e ajusta seus atos. Uma importação do velho método de testar publicações na internet para avaliar qual gera maior engajamento.
Por isso, quando a imprensa e as redes sociais repercutem suas maluquices, mais do que apenas permitir que ele comande a pauta do debate público, acabam fornecendo a ele uma medição imediata do impacto e da aceitação de suas iniciativas — com mais agilidade e eficácia, talvez, do que as pesquisas qualitativas poderiam oferecer.
Mais do que uma forma de comunicação, trata-se de um modo arriscado e irresponsável de governar. Mas isso nunca foi um problema para o bilionário presidente norte-americano. A irresponsabilidade parece estar em seu DNA. Ele não se preocupa com a repercussão de suas medidas na economia global, na estabilidade internacional ou na desordem que pode gerar na geopolítica mundial.
Por isso, nós, pobres mortais, devemos ter cuidado com a repercussão que damos a ele. Cuidar para não bater palma para o “maluco” dançar.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político