Um dos grandes erros que cometemos na política é escolher mal o adversário em um debate. Eleger como adversário alguém que não é ou não será, ou focar em quem, mesmo sendo ou podendo vir a ser, é mais fraco ou menor que você. No primeiro caso, desperdiça-se argumentos, desorienta-se a tropa, perde-se tempo e oportunidades. No segundo, dá-se palanque e serve-se de escada para alguém, facilitando sua subida ao palco.
Penso que esse seja o cuidado que o bloco governista deva ter no debate rumo a 2026. Circula a possibilidade de governadores como Tarcísio, Zema, Ratinho e Caiado se lançarem candidatos à Presidência da República. Uns com mais chances, outros com menos, alguns sem qualquer possibilidade real – mas são nomes que estão colocados. E o que eles precisam para se tornarem viáveis? Estar no debate.
Essa é a armadilha que os defensores da candidatura de Lula, sendo governo, não podem triscar. Porque, além de figurarem nas pesquisas eleitorais, o que já lhes garante alguma circulação, esses governadores precisam de participação ativa no debate nacional para fortalecer seus nomes e credenciais. E esse grande favor não se faz na política.
Por isso, o movimento tático para os governistas, neste momento, deve ser o de mantê-los o máximo de tempo possível restritos aos seus territórios. O movimento deles, obviamente, o contrário: romper suas fronteiras e nacionalizar suas figuras.
Nesse contexto, creio que o debate sobre a questão do preço dos alimentos e o ICMS não tenha sido encaminhada da melhor maneira. Foi dada ao governadores pré-candidatos a oportunidade de contribuir com a solução de um problema, mais do que de dividir a responsabilidade pela realidade. Alguns já alegam ter isentado produtos da cesta básica. Mas isso pouco importa, se fizeram, farão ou não. O ponto é que lhes foi entregue de bandeja a oportunidade de falar sobre um tema de grande repercussão nacional.
Um melhor caminho teria sido, por exemplo, provocar cada governador dentro de seu próprio estado, cobrando a redução de impostos por meio de atores estaduais. Em vez de nacionalizar, localizar o debate. Ativar aliados nas Assembleias Legislativas e nas cidades para pressionar cada governador.
Da forma como o debate está sendo conduzido, pode acabar contribuindo para tornar os governadores mais conhecidos, dando-lhes projeção nacional – do mesmo jeito que o movimento nas redes fez com o frei da madrugada.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político