Quinta-feira, 13 de Março de 2025

Artigo: “Isenção de IR e o diálogo com a ‘nova classe média'”, por Oliveiros Marques

2025-03-12 às 11:02
Foto: Freepik

Até as pedras do Pelourinho e das ruas de Diamantina sabem que os governos anteriores do Partido dos Trabalhadores patrocinaram um crescimento da renda de parcela significativa da população brasileira. Por meio de políticas sociais distributivas, estímulo à economia, geração de empregos e ampliação do acesso à educação formal, ou seja, a partir da implementação de um amplo programa de governo, o resultado foi a criação do que alguns — e aqui não comentarei se de forma certa ou inadequada — começaram a chamar de “nova classe média”.

Evento semelhante vi acontecer na Bolívia com os governos do ex-presidente Evo Morales. Por anos sendo o país com maior crescimento econômico na América Latina, com uma média de 5% ao ano, o Proceso de Cambio, como era chamado o programa político-econômico-social de desenvolvimento do Movimento ao Socialismo (MAS), implementado por Morales, também gerou, com o acréscimo de renda e aumento da escolaridade, uma ”nueva clase media” boliviana.

E tanto lá como cá, esse segmento da sociedade, modificando seus aspiracionais, desgarrou-se daqueles campos responsáveis pelos projetos políticos que permitiram a mudança do patamar de suas vidas. Culpa das pessoas, que são ingratas? Não. Reflexo de todo um processo que reduz a capacidade de consolidação de relacionamento, ao fazer às chamadas entregas, mas que não politiza as relações desde a sua origem. Mas isso é outro debate.

Lá na Bolívia, essa reconexão era um dos grandes desafios da campanha de reeleição de Evo Morales, em 2019. Havia outros, mas esse era o que poderia garantir a vitória. E foi essa a aposta que propusemos à coordenação da campanha masista, comandada pelo então ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana. Aceita e implementada, a estratégia foi materializada mostrando claramente a esse setor da sociedade o que ele havia ganho nos últimos anos e o que estaria colocando em risco ao votar em um candidato que não fosse Evo. O resultado foi a vitória, garantida em boa parte pelo retorno desse setor à influência do candidato do MAS.

Penso que essa possa ser uma linha a ser adotada no Brasil pelo atual governo em sua caminhada pela reeleição em 2026. Claro que os estrategas governistas têm muito mais informações e acesso a muitas pesquisas para fazerem suas avaliações. Mas, à distância, apostaria nesse caminho.

E aqui entra a questão da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Os adversários do governo são contra tirar esse peso do bolso desses brasileiros e brasileiras. Essa é a verdade. Mostraram isso ao não corrigirem a tabela do Imposto de Renda durante o seu governo. Isso penalizou fortemente essas pessoas, reduzindo sua renda e, por consequência, a qualidade de suas vidas. Ou seja, os ditos liberais é que carregam a sanha arrecadadora em suas práticas. Esse, acredito, seja um bom debate a ser feito. Politizando a discussão desde já, antes mesmo do envio da proposta ao Congresso. Congestionando o debate com a disputa política de projetos e não perdendo a maternidade da defesa da redução do IR e, por consequência do aumento da renda das famílias.

Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político